ACM Neto, pardo e acima da lei

Diego Escosteguy
Publicada em 28/09/2022 às 06:00
Antônio Carlos Magalhães e seu neto nos tempos em que o clã não era pardo Foto: Facebook

A campanha de ACM Neto ao governo da Bahia expôs ao país o que muitos de seus conterrâneos já sabiam: o neto de Antônio Carlos Magalhães acredita estar acima da lei - e age de acordo. O político simpático e cordial vendido pela propaganda da Prefeitura de Salvador durante anos desmanchou-se. Deu lugar a um legítimo herdeiro da tradição carlista: um candidato autoritário, hostil a críticas e incapaz de admitir erros, que concede benesses a aliados e tenta vencer adversários pelo medo.

O ACM Neto de verdade, e não o da propaganda, é o que está passando vergonha país afora após se afirmar "pardo" junto à Justiça Eleitoral. Não só. Mesmo confrontado com o fato evidente de que é branco, manteve-se no equívoco. Preferiu culpar o IBGE, causando vergonha alheia em seus aliados e delírio criativo nos artistas de meme da internet.

Neto não reconhece o que está ao olhar de todos - um comportamento que somente muita empáfia pode justificar. Vai além: vitimiza-se. Diz que adversários têm rido de sua pele e chega ao absurdo de falar que “só políticos de esquerda” poderiam ser pardos. 

Enquanto insiste na ficção de que é pardo e vítima da esquerda, Neto perde pontos nas pesquisas e vê o candidato do PT, Jerônimo Rodrigues, aproximar-se dele nos dias decisivos do primeiro turno. Em vez de mudar de estratégia, partiu para a briga política, no melhor estilo Malvadeza. Mandou aliados prepararem ações judiciais contra tudo e contra todos. Ai de quem criticar Neto: é processo na certa.

Mesmo herdeiro de uma grande fortuna e principal representante de um clã que mantém influência inigualável na Bahia há décadas, Neto insiste no papel de vítima. Além de ser vítima por se declarar pardo, é vítima dos juízes eleitorais da Bahia, sempre que eles não concordam com os argumentos de seus advogados. Num gesto que lembra as táticas de seu avô, Neto foi até Brasília ter com o presidente do TSE, Alexandre de Moraes. Queria que Moraes enquadrasse um tribunal inteiro - o TRE da Bahia. Coisa que o ministro evidentemente não topou.

A tentativa de ACM Neto de se posicionar como vítima não cola. O ex-prefeito de Salvador sempre teve tudo. Como presidente do DEM, articulou a venda do partido ao PSL de Luciano Bivar. O resultado foi o União Brasil, uma legenda sem ideologia nem norte político, mas com o maior cofre do Brasil. Neto virou o número dois do mais novo monstrengo político do país. Em troca, recebeu fundos fartos para fazer sua campanha ao governo da Bahia.

Uma vítima também não teria tanta ascendência sobre o Ministério Público da Bahia. Em seus anos de mandato, nunca foi incomodado pelos promotores locais. Governou sem fiscalização. Talvez seja por isso que as evidências de corrupção e malversação de dinheiro público em suas gestões sejam tão fortes e amplas. Como revelou o Bastidor nos últimos meses, com base em provas e testemunhos, são contundentes os indícios de que o ex-prefeito, seus parentes, seus amigos e seus aliados foram indevidamente beneficiados com contratos públicos concedidos pela Prefeitura que ele comandava. Da coleta de lixo a obras, de propaganda a terceirizações, nenhum setor parece ter escapado a negócios suspeitos - nem mesmo os contratos de patrocínio do Carnaval.

O eleitorado baiano tomou conhecimento dos casos de suspeita de corrupção. Mas o MP local nada fez contra ACM Neto. O candidato que se vitimiza quando lhe é conveniente e briga na Justiça para calar a imprensa e seus opositores age como se o governo da Bahia fosse seu por herança, e não por vontade do eleitorado do estado. Falta combinar com que vai às urnas no domingo.

Leia as notícias já publicadas pelo Bastidor sobre os negócios de ACM Neto:

A parceria lucrativa de ACM Neto com o PDT

O “pardo” ACM Neto comanda pressão contra o judiciário

A encrenca de ACM Neto no TSE

A proteção de ACM Neto no MP da Bahia

ACM Neto e a arte de fazer negócios

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