A comissão do amigo de ACM Neto no Carnaval de Salvador
O Carnaval de Salvador recebe anualmente quase um milhão de foliões, mas ninguém curte mais a maior festa de rua do mundo do que o publicitário Alexandre Augusto Teixeira Gonçalves, amigão de ACM Neto. Desde 2015, segundo ano de Neto à frente da Prefeitura da capital baiana, Alexandre Augusto virou, ao mesmo tempo, o rei do camarote e o senhor da pipoca. Ganhou o direito de captar patrocínios ao Carnaval - e de ficar com 20% sobre o dinheirão pago pelas empresas interessadas. É isso mesmo: qualquer empresa que quiser patrocinar o Carnaval de Salvador precisa negociar antes uma taxa com um dos melhores amigos do prefeito, e não com a Prefeitura. Se não topar pagar os 20%, pode esquecer o abadá.
Esse arranjo começou assim que ACM Neto assumiu o primeiro mandato como prefeito de Salvador, em 2013. No decorrer daquele ano, Alexandre Augusto, que trabalhara na campanha do amigo, deixou o cargo de vice-presidente da agência Propeg. Do amigo ACM Neto, recebeu a missão de transformar o Carnaval num negócio mais lucrativo.
Por pressão de Neto, a família de Ivete Sangalo, que até então cuidava dos patrocínios por meio da Mago Comunicação, aceitou repassar o controle da empresa a Alexandre Augusto. Como a Mago era bem conhecida no mercado publicitário, a manutenção do nome ajudaria a manter sob alguma discrição a chegada do grupo de ACM Neto. Ao menos no começo.
Assim que Alexandre Augusto tomou a Mago Comunicação, a Saltur, empresa do município que cuida formalmente do Carnaval, mostrou quem mandaria na folia baiana. No final de 2013, enviou um ofício à Ambev, que fechara meses antes uma cota de patrocínio com a Prefeitura para o Carnaval de 2014, no valor de 10 milhões. Deu um ultimato: ou a Ambev aceitava pagar 30 milhões na mesma cota - ou a Prefeitura rescindiria o contrato.
A cervejaria recorreu à Justiça para que a Prefeitura de Salvador cumprisse o contrato. Ou, ao menos, negociasse com razoabilidade. O ultimato da Saltur deixava nítido que o objetivo era forçar a Ambev a desistir da cota - provavelmente porque Alexandre Augusto e ACM Neto (foto abaixo) planejavam repassar a cota a outras cervejarias.
O mago do Carnaval baiano
Foi o que aconteceu. Alexandre Augusto fechou com o grupo Petrópolis, aquele que veio a cair por lavagem de dinheiro nas investigações da Lava Jato, e com a cervejaria Schin, que também fora objeto de operações por lavagem e sonegação fiscal. A Ambev, uma multinacional com um forte programa de integridade, resolveu ficar de fora. Desistiu do processo.
Após o Carnaval de 2014, o próximo passo do grupo de ACM Neto era formalizar o arranjo que eles haviam inventado. A Saltur promoveu uma concorrência naquele ano para contratar uma empresa que "prospectasse" patrocínios ao Carnaval. Embora a prática já existisse, não fazia sentido - a não ser para quem participava dela. O Carnaval de Salvador é um fenômeno. Não faltam empresas interessadas em pagar para se associar à folia. Por que colocar um intermediário entre a Prefeitura, que organiza o Carnaval, e a fila de empresas interessadas em patrocinar a festa? Por que estipular que essa espécie de atravessadora de patrocínio precisa receber 20% do valor do patrocínio?
Essas perguntas não foram enfrentadas. Ainda em 2014, a concorrência promovida pela Prefeitura teve duas participantes: a Mago, de Alexandre Augusto, e uma empresa que era sócia da Mago. Não houve surpresa quando se anunciou a vencedora. Ou vencedor: Alexandre Augusto. No contrato, por óbvio, estava lá o prêmio: 20% de taxa para o amigo de ACM Neto por cada patrocínio.
Em 2015, o Ministério Público da Bahia chegou a questionar a licitação e esse modelo. Mas, como em outros casos suspeitos que afetam os negócios dos amigos de ACM Neto com a Prefeitura, os promotores logo desistiram da investigação.
Desde então, Alexandre Augusto passou a escolher, sem amarras, quais marcas poderiam participar do Carnaval. Conforme revelou o Bastidor, a influência do publicitário se ampliou de tal modo que ele obteve outros contratos suspeitos na Prefeitura e alocou pessoas de confiança na estrutura de comunicação do município.
Ele mudou o nome de sua empresa de captação de patrocínio para ATG Comunicação, abriu outras e, de tão rico, passou a investir em cavalos de raça, por meio do haras Guariroba. Tanta prosperidade às custas da Prefeitura não deve terminar tão cedo. O prefeito Bruno Reis, sucessor de ACM Neto, que pertence ao mesmo grupo, garantiu na semana passada: o modelo Alexandre Augusto de "captação" já está em curso para o Carnaval de 2023. Para o amigo de ACM Neto, a folia não tem fim.
Nas duas pontas
Falências da Floralco e da Gam se cruzam e colocam administradora judicial na mira de credores
Leia MaisGoverno congela despesas para ficar no limite da meta fiscal e respeitar o arcabouço fiscal
Leia MaisGoverno publica MP que amplia descontos na contatarifa social e promete mais concorrência no setor d
Leia MaisSem novo prazo, CPI das Bets caminha para o fim com vexames e sem avanços num campo obscuro
Leia MaisBrigadeiro diz que Bolsonaro tentou impedir posse de Lula com apoio das Forças Armadas
Leia MaisIndiciado pela PF por encomendar áudio falso de Lula é recebido por ministro cotado para sair
Leia MaisCNJ dificulta criação de novos complementos salariais para juízes e servidores
Leia MaisCCJ do Senado aprova PEC que acaba com reeleição e estabelece mandatos de 5 anos
Leia MaisEm meio a acusações de credores, Justiça do MT aceita pedido de recuperação judicial do grupo Safras
Leia MaisTribunal de Contas da Bahia contrariou área técnica ao aprovar gestão financeira de 2022 do petista
Leia MaisJustiça americana aprova plano da Gol para se reestruturar e pagar dívida
Leia MaisMoraes diz que há elementos suficientes para abrir ação penal contra militares acusados de golpe.
Leia MaisSTF desmonta, de novo, a tese golpista do poder moderador das Forças Armadas
Leia MaisIndicações para ANP e Aneel ignoradas por Alexandre Silveira causaram crise com presidente do Senado
Leia MaisAdvogados de militares acusados de participar de golpe dizem que plano para matar Lula não era sério
Leia Mais