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O cozinheiro do roubo

Alisson Matos
Publicada em 04/07/2025 às 19:34
Stevan Paz Bastos também foi auxiliar administrativo e comerciante Foto: Reprodução/redes sociais

Documentos obtidos pelo Bastidor revelam que o atual dono da Soffy Soluções de Pagamento - uma das empresas alvo da Polícia Civil de São Paulo na investigação do maior roubo do sistema financeiro nacional - era até pouco tempo cozinheiro em restaurantes de Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul. Stevan Paz Bastos também foi auxiliar administrativo e comerciante, mas nunca foi ligado a instituições financeiras até assumir a pequena fintech com sede na Avenida Paulista, que teve 270 milhões de reais bloqueados nesta semana.

A Polícia Civil de São Paulo descobriu que Stevan e outros sócios que aparecem no histórico da Soffy são laranjas. Falta descobrir de quem. A investigação aponta que a empresa foi uma entre dezenas de fintechs usadas para lavar e esconder dinheiro sujo. 

Stevan nasceu em São Luiz Gonzaga, no Rio Grande do Sul, em julho de 1988, mas teve endereço fixo em Campo Grande. Hoje, mora em São Paulo. Em registros públicos e processos judiciais obtidos pelo Bastidor, ele nunca apareceu ligado ao mercado de finanças.

O cozinheiro é dono formal de outra empresa, a Distribuidora Peixe Boi, aberta em 2018 na capital de Mato Grosso do Sul e que continua ativa na Receita Federal. Em um processo trabalhista, um ex-funcionário da distribuidora diz que Stevan seria, na verdade, “testa de ferro” dos verdadeiros proprietários.

O estabelecimento também foi acusado, em outro processo, de vender mercadorias impróprias para consumo, conforme denúncia do Ministério Público Estadual do Mato Grosso do Sul obtida pelo Bastidor.

Em seu currículo, relata que suas experiências profissionais foram de cozinheiro e chef de cozinha em cinco restaurantes e bares ao menos até março de 2020, ano em que a Soffy foi fundada.

O histórico da Soffy, com recorrentes mudanças de endereços e de titulares, depõe contra sua pretensa credibilidade ao se intitular uma fintech. Também está no nome de Stevan o domínio soffy.com.br, mas o site está fora do ar.

As teias da Soffy

A Soffy foi aberta em 2020 em Atibaia, no estado de São Paulo, mas se chamava Banco Agils Serviços Financeiros e Cobranças. Tinha um capital social de 100 mil reais e dois sócios: Henrique Olher e a BMB Soluções de Pagamentos, representada por Josiane Alves Apolinário.

Em 2023, houve a primeira mudança de donos. Entraram em cena a Soft Desenvolvimento de Softwares e a BMB Instituição de Pagamentos, representadas por Rodrigo Antonio Bernardes de Freitas. Ele passou a ser o único controlador. Foi nessa fase que houve aumento do capital social para 1 milhão de reais, segundo documentos da Jucesp. E foi aqui que o Banco Agils passou a se chamar Soffy.

Rodrigo Antonio Bernandes, em tese milionário, chegou a receber entre 2020 e 2021 pouco mais de 4,9 mil reais de auxílio emergencial, programa destinado a pessoas em situação vulnerável durante a pandemia do Covid-19, segundo o Portal da Transparência.

Em 2024, a Soft e a BMB Instituição de Pagamentos transferiram 100% das cotas da Soffy para Guilherme Henrique Bernardes de Freitas, parente de Rodrigo, e dono de uma outra empresa, a Gbf Comercio de Produtos Congelados Ltda, que também fica em Atibaia.

A Soffy, embora com outro dono formal, permanecia no controle da mesma família até maio. As conexões da família Bernardes de Freitas vão além. Atualmente, a BMB Instituição de Pagamentos tem entre os sócios Guilherme, Rodrigo e Joselaine Apolinário de Freitas. Ela é parente de Josiane, uma das primeiras donas formais da Soffy, quando ainda se chamava Banco Agils. Todos eles possuem outras empresas ou são sócios em diferentes CNPJs.

O capital social da Soffy permanece inalterado, de 1 milhão de reais. Em maio deste ano, Guilherme transferiu as cotas para Stevan, o cozinheiro. Não se sabe como Stevan obteve a quantia para se tornar dono formal da Soffy. Esse é um dos indícios que leva a Polícia dizer que Stevan é um laranja.

Segundo as investigações, os 270 milhões de reais desviados foram mantidos pela Soffy em uma "conta bolsão", vinculada a outra instituição financeira.

Como mostrou o Bastidor, a Soffy não aparece no cadastro do Banco Central com autorização sequer para operar como instituição de pagamento.

Como essas pequenas fintechs não têm autorização para fazer operações bancárias, usam uma "conta bolsão", vinculada a bancos tradicionais - estes, sim, autorizados pelo Banco Central a realizar operações com crédito, débito e Pix.

Era assim que a Soffy funcionava à margem do sistema financeiro. A prática de manter pequenas empresas do tipo da Soffy é muito usada por organizações criminosas para lavar dinheiro e evitar bloqueios judiciais.

O Bastidor tentou contato com Stevan por meio de dois telefones, mas não obteve retorno.

Com apuração de Caio Crisóstomo e Samuel Nunes.

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