O dezembro golpista
O mês que marcaria os últimos dias do governo de Jair Bolsonaro (PL) foi o escolhido por aliados e simpatizantes do ex-presidente para o que a Polícia Federal chama de uma tentativa de golpe de Estado.
A operação Contragolpe, deflagrada nesta terça-feira (19), redundou na prisão de um policial federal - Wladimir Matos Soares - e de quatro militares do Exército: os kids pretos Hélio Ferreira Lima, Rafael Martins de Oliveira e Rodrigo Bezerra de Azevedo, além do general da reserva e ex-assessor da Presidência de Bolsonaro, Mario Fernandes.
O objetivo do grupo, de acordo com a PF, era impedir que o presidente eleito Luís Inácio Lula da Silva (PT) e o seu vice, Geraldo Alckimin, tomassem posse.
A maior parte do plano, segundo os diálogos contextualizados pela Polícia Federal, se desenvolveu em novembro. Segundo a PF, a execução do que foi planejado se daria em dezembro, mês em que Lula e Alckmin foram diplomados pelo Tribunal Superior Eleitoral, último ato formal dos eleitos antes da posse.
O material com o plano chegou a ser impresso no Palácio do Planalto no dia 6 de dezembro. Derrotado no segundo turno por Lula no dia 30 de outubro, Bolsonaro passou a maior parte dos seus últimos dias de governo recluso no Palácio do Alvorada. No dia 6 de dezembro, contudo, o então presidente estava no Palácio do Planalto.
Dois dias depois, em 8 de dezembro, o então assessor da Presidência de Bolsonaro, Mario Fernandes, encontrou com Bolsonaro no Alvorada. Ao sair do local, enviou uma mensagem para Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do presidente, dizendo que Bolsonaro havia aceitado o “assessoramento” deles.
A PF suspeita que esses documentos impressos por Fernandes possam ter sido apresentados a Bolsonaro, mas não indicou nenhuma prova concreta.
Nesse meio tempo, no dia 7 de dezembro, Bolsonaro se reuniu com os comandantes do Exército e da Marinha e com o ministro da Defesa em conversa que tratou sobre o que posteriormente ficou conhecida como a “minuta do golpe”, documento que tratava de um decreto que previa a intervenção no Judiciário para impedir a posse de Lula.
Havia um sentimento de urgência nas conversas já que, no dia 20 de dezembro, o comando militar iria para os indicados por Lula.
Em uma das mensagens a Cid, segundo a PF, Mario Fernandes diz estar agindo junto às Forças Armadas, ao “pessoal do agro” e caminhoneiros que estavam acampados em frente a quartéis-generais. Pede que o ex-auxiliar de ordens leve “a questão” a Bolsonaro.
Como resposta, segundo o relatório da PF, Cid diz que Bolsonaro estava esperando “para ver os apoios” que tinha para alguma ação.
No dia da diplomação, em 12 de dezembro, houve uma invasão da sede da Polícia Federal em Brasília e depredação no centro da capital federal. Eram manifestantes insatisfeitos com a vitória de Lula. Para a PF, Mario Fernandes, o ex-assessor da Presidência, era o elo do governo com os bolsonaristas que ocupavam as ruas em protesto ao resultado eleitoral, pois foram encontradas mensagens com pedidos direcionados a ele relacionados com o acampamento em frente ao Exército em Brasília.
O plano para matar Lula envolvia tiros ou envenenamento. O plano está num documento criado em novembro pelo general Mário Fernandes. Em 16 de dezembro, ele criou um documento que previa o estabelecimento de um gabinete de crise - presume-se que para ser efetivado após o golpe. O gabinete de crise seria comandado pelos generais Augusto Heleno e Walter Braga Netto, candidato a vice derrotado, e assessorado por Filipe Martins.
Eles seriam responsáveis por "restabelecer a lei e a ordem por meio da retomada da legalidade e da segurança jurídica e da estabilidade institucional".
De acordo com a PF, em 16 de dezembro, Fernandes e seu chefe de gabinete, o coronel Reginaldo Vieira de Abreu, fizeram sete cópias com informações sobre o tal gabinete. No dia seguinte, ele visitou Bolsonaro no Alvorada. Chegou às 18h05 e deixou o encontro às 18h50. Ainda em 17 de dezembro, o presidente conversou com Filipe Martins e os generais Augusto Heleno, Luiz Eduardo Ramos e Walter Braga Netto.
O plano, contudo, não foi adiante. No dia 30 de dezembro, às vésperas da posse de Lula, Bolsonaro viajou para os Estados Unidos. Mensagens captadas pela PF mostram a frustração de simpatizantes do ex-presidente com nenhuma ação executada.
O major Rodrigo Bezerra de Azevedo, que foi preso nesta terça-feira, diz em uma das conversas: ““Rapaziada esse grupo aqui pra mim perdeu a finalidade... deixo aqui um abraço pra FE (Forças Especiais) de verdade que fizeram o que podiam pra honrar o próprio nome e as Forças Especiais...qq coisa estou no privado!!Força!!”.
Leia a íntegra do relatório da PF:
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