7 a 1 no "Copa 2022"

Karen Couto
Publicada em 19/11/2024 às 22:28
Novas revelações podem suspender os benefícios da delação premiada de Mauro Cid Foto: Lula Marques/Agência Brasil

Apesar de algumas lacunas, o relatório da Polícia Federal que embasou a Operação Contragolpe demonstra que o general da reserva Mário Fernandes, os tenente-coronel Hélio Ferreira Lima, os majores Rafael Martins de Oliveira e Rodrigo Bezerra de Azevedo – todos das Forças Especiais do Exército – e o policial federal Wladimir Matos Soares, tramaram matar o presidente Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSD) e "neutralizar" o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes para viabilizar um golpe de estado.

Todos foram presos na terça-feira (19). Falta ainda à PF descobrir algumas partes da história: se realmente queriam matar Moraes; por que desistiram da empreitada ou o que os impediu de prosseguir; se Jair Bolsonaro sabia.

A atuação do grupo para impedir a posse de Lula foi discutido em uma reunião no 12 de novembro de 2022, na casa do general Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil do governo Jair Bolsonaro (PL) e candidato a vice-presidente na chapa derrotada.

Segundo a investigação, participaram da reunião Mauro Cid, Hélio Ferreira Lima e Rafael Martins de Oliveira. Nesse encontro, diz a PF, foi planejado o uso de "ações clandestinas" com a participação militares das Forças Especiais, chamados de "kids pretos".

Três dias depois, Rafael Martins de Oliveira enviou a Mauro Cid um documento chamado “Copa 2022”, protegido por senha. A PF não conseguiu abrir o arquivo, mas expôs uma conclusão: "pelo teor do diálogo, seria uma estimativa de gastos para subsidiar, possivelmente, as ações clandestinas, que seriam executadas durante os meses de novembro e dezembro de 2022", diz o relatório.

O termo "Copa 2022" também foi usado como nome de um grupo criado no Signal, aplicativo de mensagens conhecido por sua segurança contra invasões. O grupo tinha seis usuários; cada um recebeu um codinome - Alemanha, Áustria, Brasil, Argentina, Japão e Gana - "para não revelarem sua identidade", segundo a PF.

Japão era o codinome de Rafael Martins de Oliveira, e Brasil, de Rodrigo Bezerra de Azevedo. A PF não conseguiu identificar os demais integrantes do grupo. A investigação revelou que os chips dos números de celulares utilizados para cadastro no Signal estavam cadastrados em nomes de terceiros. O fato de todos os chips terem sido comprados no mesmo dia e local, e em horários aproximados, reforça a suspeita de uma ação planejada.

O assassinato de Lula e Alckmin estava previsto para ocorrer em 15 de dezembro, três dias após a diplomação dos dois pelo Tribunal Superior Eleitoral. O plano foi detalhado em um documento intitulado “Punhal Verde e Amarelo”. A PF não sabe dizer o que impediu o grupo de concretizar o plano.

"O texto cita que ‘sua neutralização abalaria toda a chapa vencedora, colocando-a, dependendo da interpretação da Lei Eleitoral, ou da manobra conduzida pelos 3 Poderes, sob a tutela principal do PSDB’", diz o documento da PF. O PSDB é o antigo partido de Alckmin; na realidade, em 2022, Alckmin já era filiado a outra legenda, o PSB.

O documento ainda avalia que a melhor forma de eliminar Lula seria por envenenamento: “considerando sua vulnerabilidade de saúde e ida frequente a hospitais, a possibilidade de utilização de envenenamento ou uso de químicos para causar um colapso orgânico”.

No grupo de mensagens, os alvos também tinham codinomes: Lula e Alckmin eram chamados pelos nomes "Jeca" e "Joca". Um "Juca" também foi identificado pela investigação entre os apelidos utilizados, mas a Polícia Federal afirmou que "não obteve elementos para precisar quem seria o alvo da ação violenta planejada pelo grupo criminoso".

Monitoramento constante

De acordo com a Polícia Federal, além de evitar a posse da chapa presidencial eleita em 2022, o grupo também tinha como objetivo "neutralizar" o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. O monitoramento detalhado do ministro foi conduzido entre novembro e dezembro de 2022, com registro de deslocamentos e informações sobre sua segurança, o que possibilitou a divisão dos militares em diferentes pontos estratégicos no dia 15 de dezembro de 2022.

A PF não encontrou provas concretas que confirmassem um plano de assassinato de Moraes, mas afirma queo grupo chegou a fazer tocaias no entorno de Moraes. As investigações afirmam que no dia 15 de dezembro os militares estavam em campo, divididos em locais específicos para, possivelmente, prender o ministro.

A PF não sabe o que fez os militares abortarem a operação e os documentos apresentados à Justiça também não indicam nenhuma pista sobre os motivos da desistência.

Lula também foi monitorado. O esquema de segurança do então presidente eleito era conhecido pelos investigados, que tinham informações como os nomes dos membros da equipe e discutiam maneiras de driblar a proteção para chegar ao presidente eleito.

No entanto, o relatório da PF não deixa claro se há suspeita de vazamentos de informações por parte das equipes de segurança de Lula ou do ministro Moraes que possam ter facilitado o planejamento do grupo golpista.

Leia a íntegra do relatório da PF:

Operação da PF assusta por mostrar que, sob Bolsonaro, militares podem matar adversários políticos

Leia Mais

Investigação da PF mostra que general próximo a Bolsonaro elaborou plano para matar Lula e Alckmin

Leia Mais

Senacon tenta limitar publicidade de bets, mas falha ao detalhar eventuais punições.

Leia Mais

PF prende um dos seus e quatro militares suspeitos de planejar matar Lula, Alckmin e Moraes em 2022

Leia Mais

Na miúda, Anatel libera operadora a migrar de regime em acordo que custou 17 bilhões de reais

Leia Mais

Cade retira poderes da Paper Excellence para ditar os rumos da Eldorado Celulose, do Grupo J&F.

Leia Mais

Feira dos amigos

18/11/2024 às 13:05

Entidade escolhida sem seleção pública cuidou de organização de evento para 500 mil em Roraima

Leia Mais

Fica em Maceió

18/11/2024 às 11:47

A pedido de Kassio, PGR diz que falência da Laginha deve correr no TJ de Alagoas, não no Supremo

Leia Mais

Lula recebe líderes mundiais em um encontro esvaziado pela eleição de Donald Trump nos EUA

Leia Mais

Saldão a jato

17/11/2024 às 11:18

Juízes da Laginha remarcam assembleia de credores um dia após Kassio voltar atrás em suspensão dela

Leia Mais

O fundo perdido

15/11/2024 às 19:03

Juiz rejeita pedido de fundo de investimentos gerido pela Reag para derrubar decisão contra Copape

Leia Mais

Até no Cade

15/11/2024 às 10:25

Irmãos Batista acionam órgão antitruste na guerra com a Paper pelo controle da Eldorado Celulose

Leia Mais

STF mantém condenação de Collor, que pode cumprir pena em regime fechado

Leia Mais

Não é comigo

14/11/2024 às 18:41

PL e Jair Bolsonaro procuram se afastar do apoiador que se explodiu em frente ao Supremo

Leia Mais

Bomba com Moraes

14/11/2024 às 17:24

Investigação sobre tentativa de atentado na Praça dos Três Poderes fica com ministro

Leia Mais