A engenharia oculta de ACM Neto
Documentos obtidos pelo Bastidor revelam que a BSM, construtora que faturou ao menos 270 milhões na gestão de ACM Neto à frente da Prefeitura de Salvador, pertence a Lucas Cardoso, amigo de infância e pessoa da mais alta confiança do candidato ao governo da Bahia. Cardoso foi apontado pela Odebrecht como operador de ACM no escândalo de propinas da Lava Jato.
Como o Bastidor noticiou, o nome de Lucas Cardoso causa apreensão na campanha de Neto. Mesmo implicado diretamente nas investigações do caso Odebrecht, ele nunca deixou de participar das negociações que envolvem as costuras políticas de ACM. Hoje, atua para cooptar aliados ao candidato do União Brasil.
A reportagem teve acesso, entre outros dados, à íntegra dos documentos comerciais da BSM - uma construtora que, até a ascensão de ACM Neto, era pequena e desconhecida, com faturamento irrisório. Os registros demonstram que Lucas Cardoso assumiu o controle formal da construtora em julho do ano passado, quando a empresa se tornou uma sociedade anônima. Na mesma época, ACM Neto deixou a prefeitura de Salvador.
Até então, a BSM estava apenas no nome de Bernardo Cardoso, sobrinho de Manfredo Cardoso, gerente de projetos da Casa Civil durante o mandato de ACM Neto. Ele é primo de Lucas Cardoso.
O controle de Lucas Cardoso é desconhecido do público. O site da empresa não o menciona. Embora a construtora fature centenas de milhões com a gestão do amigo ACM Neto, Lucas Cardoso nunca falou pela empresa.
A consulta simples de sócios, via Receita Federal, informa apenas os nomes dos dois diretores da empresa. Abaixo:
Somente os documentos que constituem a S.A., obtidos pelo Bastidor, permitem identificar a propriedade do amigo de ACM Neto. Abaixo, um exemplo dos documentos da BSM e da empresa usada por Lucas Cardoso para tocar o negócio:
O número um de ACM Neto
Hoje, segundo fontes com conhecimento direto do fato, Lucas Cardoso atua como um dos arrecadadores de recursos do político. Um ex-diretor da Odebrecht no estado disse, em delação premiada, que ACM Neto indicou Lucas Cardoso para cuidar dos pagamentos de campanha da empreiteira ao candidato, em 2012. No sistema de propinas da Odebrecht, ACM Neto tinha o codinome "Anão". Foram pagos 1,8 milhão em espécie a Lucas Cardoso, de acordo com os registros da empresa. (O caso não foi investigado e acabou arquivado pela Justiça Eleitoral da Bahia.)

Após o susto com a Odebrecht, Lucas Cardoso (foto acima) diminuiu suas atividades. Temia sofrer buscas ou até ser preso. Voltou a tocar empresas de entretenimento e festas - mas a BSM, com seu alto potencial de lucro, permaneceu como sua principal unidade de negócios públicos. Foi nesse período que o dinheiro da Prefeitura de Salvador, sob comando do amigo ACM Neto, seguiu enchendo as contas da construtora.
O contrato da Construtora BSM que está em vigor com a Prefeitura de Salvador pode chegar a 110 milhões de reais até o fim deste ano. Originalmente, porém, deveria custar aos cofres soteropolitanos bem menos do que isso - cerca de 30 milhões de reais.
A empresa venceu uma licitação em 2019 para fornecer equipamentos e mão de obra para a manutenção da infraestrutura da capital baiana. A validade era de um ano. Desde que o serviço começou a ser prestado, o contrato vem sendo prorrogado, sem novas licitações. Isso fez com que o valor a ser repassado à empresa praticamente triplicasse.
Atualmente, o contrato entre a BSM e a prefeitura tem vigência até 20 de dezembro de 2022. Do total contratado, a empresa já recebeu 59,6 milhões de reais. Todo o processo de compra dos serviços está a cargo da Secretaria Municipal de Manutenção da Cidade - a mesma Secretaria que forneceu, nos últimos anos, outros bons contratos à empresa que até então se pensava ser apenas do primo de Lucas Cardoso. Os demais contratos somaram, entre 2013 e 2018, 211 milhões de reais.
A BSM chegou a ser investigada na Lava Jato. Em 2020, a Petros compartilhou uma auditoria em que técnicos encontraram evidências de direcionamento à BSM da Prefeitura de Salvador para as obras de ampliação da sede da Petrobras na cidade. A Petros é dona do prédio. A BSM ganhou 34 milhões de reais após ser indicada por ACM Neto, segundo os auditores.
A reportagem não conseguiu contato com Lucas Cardoso. O espaço segue aberto para esclarecimentos.
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