Abaixo do radar
A Procuradoria-Geral da República sob a batuta de Paulo Gonet Branco tenta ficar abaixo do radar. A ideia é destoar da apatia conveniente da gestão Augusto Aras, sem ofender a política, como fez Raquel Dodge, ou ficar lançando flechas de bambu, como aconteceu com Rodrigo Janot.
Fontes do Ministério Público Federal afirmam que esse comportamento é proposital, para trabalhar sem interferências ou críticas. Essa atuação já era esperada, pois espelha o perfil de Gonet, sempre discreto por onde passa. Fala apenas quando precisa. E tem dado resultados internos, porque pacificou os ânimos e as muitas vaidades de procuradores e subprocuradores da República.
Chegando ao sétimo mês à frente da PGR, Gonet tem como metas colocar o órgão na proteção da primeira infância e no combate ao crime organizado. Cristão e conservador, é natural que o procurador-geral proteja as crianças. Sobre o enfrentamento a quadrilhas, Gonet entende que é preciso haver atuação integrada com os ministérios públicos estaduais.
Mas fontes do MPF destacam que essa união nacional contra o crime será difícil. Sobra vontade por protagonismo nos estados e na União, enquanto falta estrutura na esfera federal - em partes pelo arcabouço fiscal, que limita o orçamento da PGR, já bem comprometido para pagar adicionais a seus integrantes, que consideram (sem razão) os salários aquém do que mereciam.
A paz não é uma opção
Até agora, Gonet comprou algumas brigas, mas não todas. Uma delas foi contra Dias Toffoli, no processo em que o ministro do Supremo Tribunal Federal ignorou fatos e leis para salvar empresas que confessaram crimes no passado.
Gonet pediu que Toffoli anulasse a suspensão que impôs ao acordo de leniência da Odebrecht. Disse em fevereiro não haver qualquer prova que justifique a paralisação dos pagamentos estimados em 8,5 bilhões de reais. No mesmo mês, ensinou o ministro que a decisão que livrou Marcelo Odebrecht da Justiça foi um ato “prematuro” e “descabido”.
O mesmo valeu para a J&F. Dias antes da manifestação contrária à Odebrecht, Gonet já havia puxado a orelha de Toffoli por conta da suspensão dos pagamentos da leniência que ultrapassa 10 bilhões de reais. Afirmou que o acordo da holding de Joesley e Wesley Batista nada tem a ver com a operação Lava Jato, mas, sim, com a operação Greenfield.
Uma briga que Gonet ainda enfrentará envolve o bolsonarismo. As múltiplas ações e investigações envolvendo Jair Bolsonaro, a família do ex-presidente, além de aliados, poderá causar ruídos. É bem verdade que líderes bolsonaristas insuflaram seus eleitores a aterrorizar os Três Poderes em 8 de Janeiro para manterem-se no poder. Porém, também não se pode ignorar que a condução dos casos por Alexandre de Moraes afronta - e muito - o Direito.
Gonet não poderá deixar de denunciar muitos bolsonaristas, sejam eles do baixo clero ou da cúpula. Mas o procurador-geral também deverá se atentar ao que manda a lei - o que Alexandre de Moraes ignora volta e meia - para que as condenações surtam efeito. Quando chegar a hora, o que não tardará, o PGR precisará se equilibrar entre a lei e seus aliados, principalmente Gilmar Mendes e o próprio Moraes, que são alguns dos alvos preferidos de Bolsonaro e seus asseclas.
Uma prévia disso já aconteceu, na operação contra Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), por conta da Abin Paralela que existiu durante a gestão de Jair. No parecer em que concordou a investigação, Gonet afirmou que não haver razão suficiente para a Polícia Federal visitar Priscilla Pereira e Silva, assessora de Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin de Bolsonaro e deputado federal pelo PL, também alvo da investigação.
Escolhido por eliminação
O Bastidor já mostrou que Lula e o PT preferiam manter Augusto Aras na PGR pelos mesmos motivos que levaram Bolsonaro a escolhê-lo: a mansidão em relação à política. Dentro do Partido dos Trabalhadores, a resistência a Gonet partiu, principalmente, de Gleisi Hoffmann, denunciada em 2016 pelo atual PGR, durante a Lava Jato.
OAB pede punição aos envolvidos em esquema de venda de decisões investigado pela Polícia Federal
Leia MaisDias Toffoli permite que Rio de Janeiro negocie a dívida com a União pela terceira vez, sem pagar
Leia MaisNo embate entre os outsiders José Luiz Datena e Pablo Marçal em SP, o novo populismo é o vencedor
Leia MaisPGR não vai processar Renan Calheiros e Eduardo Braga por suspeita de receber propina da Hypermarcas
Leia MaisCade deve aplicar multa ao Itaú por práticas anticoncorrenciais da empresa de pagamentos do banco
Leia MaisMinistro faz novas exigências de transparência e mantém suspensão de pagamentos de emendas
Leia MaisJustiça determina que ANEEL aprove transferência da Amazonas Energia para o grupo J&F
Leia MaisApós decidir em favor da Aneel e receber novo recurso, relator do caso Amazonas Energia sai do caso.
Leia MaisCid Moreira morre aos 97 anos e deixa legado no Jornal Nacional e na narração de passagens bíblicas.
Leia MaisOperadoras proíbem pagamento de apostas online com cartões de crédito a partir de hoje
Leia MaisComo em 2018 e 2022, pesquisas e trackings divergem nas intenções de voto da eleição em São Paulo
Leia MaisInterlocutor da empresa com políticos já foi denunciado por fraude na comercialização de combustível
Leia MaisAliados de Ricardo Nunes agradecem, mas preferem que ex-presidente não entre na campanha agora
Leia MaisJustiça aceita recuperação judicial da AgroGalaxy e define novos administradores para o grupo
Leia MaisTurma do STJ decide que fundações de direito privado não têm direito ao recurso contra falência
Leia Mais