O Brasil sem Inteligência
O assassinato de Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, elevou os níveis de alerta nas principais agências de inteligência ocidentais. Espera-se um contra-ataque da milícia xiita contra Israel, autor do bombardeio que matou Nasrallah. Teme-se a possibilidade de uma retaliação indireta, por meio de agentes ou apoiadores do Hezbollah fora do Líbano.
Há uma preocupação especial com a tríplice fronteira, segundo relatos reservados ao Bastidor de oficiais de inteligência a par do assunto. Foz do Iguaçu é lar de uma comunidade libanesa numerosa, com forte presença xiita. A vasta maioria das comunicações e das relações financeiras entre quem está na tríplice fronteira e integrantes do Hezbollah, seja no Líbano, seja na Síria, é legal, sobretudo diante da posição do governo brasileiro de não considerar o grupo uma organização terrorista.
O problema está na ação potencial daqueles que porventura tenham intenções violentas - ou de colaborar, em termos financeiros e logísticos, com outros que tenham essas intenções. E aí entra o problema antecedente: a Abin, a Agência Brasileira de Inteligência, perdeu, nos últimos anos, seus principais informantes na tríplice fronteira, de acordo com oficiais responsáveis por esse monitoramento.
Para acompanhar riscos de ações violentas com conexão em Foz, a Abin sempre dependeu de fontes humanas. Sem elas, ou sem as mais confiáveis, as atividades na tríplice fronteira tornam-se um ponto cego do Brasil. A agência passa a depender, especialmente, de trocas com CIA (Estados Unidos), Mossad (Israel) e DGSE (França). A maioria das informações fornecidas provêm de fontes humanas ou de interceptação de sinais em outros locais do mundo. Isso, não raro, limita a qualidade e a confiabilidade da inteligência.
A Abin nunca teve capacidade forte de acompanhar as atividades em Foz do Iguaçu. Mas a situação piorou substancialmente no governo de Jair Bolsonaro e prossegue precária na gestão de Lula. Bolsonaro aparelhou politicamente a Abin com delegados e agentes da Polícia Federal leais a ele, além de integrantes da inteligência do Exército. O resultado mais óbvio é conhecido: monitoramento ilegal de opositores e jornalistas e instrumentalização para a agência colaborar na articulação de um golpe após a derrota de Bolsonaro nas eleições.
O resultado silencioso foi igualmente pernicioso. A Abin cortou recursos - humanos, operacionais e financeiros - antes destinados à sua principal razão de existir: monitorar ameaças terroristas. O pouco que a agência investia no combate ao terrorismo virou quase nada. A Abin passou a depender (ainda mais) das colaborações de outras agências e de um trabalho limitado de pesquisa e análise em fontes abertas na internet, como redes sociais.
Sob o governo Lula, embora não haja indícios de monitoramento ilegais, a raiz do problema se manteve: a Abin seguiu sob comando de estrangeiros. No caso, delegados e agentes da PF próximos a Lula, assim como civis associados ao PT. A prioridade passou a ser monitorar, com as mesmas ferramentas limitadas, possíveis ameaças violentas em escolas e casos de extremismo doméstico.
É uma decisão controversa diante da doutrina, da configuração do Sistema Brasileiro de Inteligência e dos recursos escassos da Abin. Em tese, cuidar de inteligência sobre ameaças a escolas caberia mais aos estados e até mesmo à PF. Lobos solitários são sempre uma preocupação, por óbvio. Mas a ordem de prioridades e as respectivas atribuições parecem invertidas.
Sem privilegiar a carreira de Estado de oficiais de Inteligência e a promoção de uma cultura institucional na Abin, com trocas excessivas de comando e prioridades, a agência está debilitada num momento de instabilidade geopolítica com a guerra na Ucrânia e o conflito no Oriente Médio.
Como consequência, o Brasil frangou duas ameaças concretas recentes. Não detectou a presença de agentes de inteligência russos em território brasileiro e, mais grave, não soube de atos preparatórios de terrorismo do Hezbollah no Brasil até ser alertado pelo Mossad. O plano foi desarticulado e alguns dos envolvidos, presos e condenados.
A mera existência dele, contudo, demonstra que o risco terrorista existe. Sem estar bem informada sobre o que se passa entre brasileiros que simpatizam com o Hezbollah, a Abin tateia no escuro: não sabe, e não tem como saber tão cedo, visto que estabelecer e manter informantes requer tempo, qual o risco de atividade de terrorista no Brasil.
Esse risco torna-se mais alto em face da postura amigável do governo Lula, em especial de Celso Amorim, com o Irã, estado que patrocina historicamente o terrorismo do Hezbollah e do Hamas, entre outros grupos. Como o Bastidor revelou há um ano, com detalhes e documentos, o Irã mantém uma base clandestina em São Paulo. Ela segue operando.
Ademais, quando se fala de terrorismo, é importante ressaltar que o risco não se circunscreve ao pior cenário - um atentado no país. O risco inadmissível também envolve o apoio logístico e financeiro para atentados cometidos em outros países. Foi o que aconteceu, por exemplo, nos atentados de 1992 (na Embaixada de Israel) e 1993 (na Amia, uma entidade judaica) do Hezbollah em Buenos Aires. Operadores e simpatizantes do grupo usaram suas estruturas no Brasil para organizar os atentados que mataram 114 pessoas.
Como se diz no ramo, as agências de inteligência precisam acertar sempre; terroristas só precisam acertar uma vez. Por isso não deve brincar com inteligência de Estado, como insiste em fazer o Brasil.
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