Exclusivo

Um passeio entre amigos

Brenno Grillo
Publicada em 20/10/2022 às 06:00
Doria passou três dias em Campos do Jordão com os chefes do Ministério Público e da Polícia Civil de São Paulo Foto: Renato S. Cerqueira/Futura Press/Folhapress

No dia 7, o ex-governador de São Paulo João Doria viajou com o procurador-geral de Justiça de São Paulo, Mário Sarrubbo; o delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Osvaldo Nico Gonçalves; e o delegado que chefia da 1ª Seccional do Estado de São Paulo, Roberto de Andrade. Eles passaram dois dias na Villa Doria, casa do ex-governador em Campos do Jordão com suas esposas.

O passeio começou às 17h da sexta-feira (7), quando partiram de helicóptero do heliponto do Shopping Iguatemi; mesmo local do pouso na volta. A programação do convescote contou com spa, massagem, jantar português, feijoada, brunch e até café da manhã no jardim.

A viagem coincidiu com o registro da nova empresa de Doria, a D Advisors. A companhia foi registrada como consultoria não especializada e já tem um cliente grande, a Paper Excellence, empresa da família do indonésio Jackson Widjaya, que enfrenta uma disputa societária renhida com a J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, na Justiça e na Polícia Civil de São Paulo pela Eldorado Celulose.

Há outro ponto em comum entre Doria e o conflito. A editora Matrix, responsável pelo livro sobre os escândalos de corrupção envolvendo os irmãos Batista, lançará a biografia do ex-governador.

Os problemas da Paper

No Tribunal de Justiça paulista, a Paper discute com a J&F o controle da Eldorado Celulose após um conturbado processo arbitral, que teve até desdobramentos policiais após acusações de espionagem. A Paper venceu a arbitragem e na 1ª instância do Judiciário de SP, mas a disputa está longe de terminar; leia aqui, aqui, aqui, aqui e aqui o que já foi noticiado pelo Bastidor sobre o caso.

A Polícia Civil de São Paulo investigou relato de espionagem feito pela J&F. A empresa do grupo dos irmãos Joesley e Wesley Batista levou às autoridades evidências de que teria sido sofrido um ataque hacker enquanto discutia o controle da Eldorado com a Paper na arbitragem.

Apresentado em setembro, o relatório final da polícia (leia um trecho abaixo) indicia diversas pessoas pela invasão, inclusive duas ligadas a uma empresa parceira da Paper, a CA Investment. Segundo a polícia, Josmar Verillo e Claudio Cotrim - um diretor e um conselheiro da CA Investment, respectivamente - contrataram Moema Ferrari para obter “ilicitamente” informações sigilosas da J&F.

Ainda de acordo com a Polícia Civil, Ferrari, que já foi indiciada nesse caso, contratou Danilo Bernardi para executar a ação. A acusação é baseada em depoimento de Bernardi, que apresentou comprovantes de parte do pagamento prometido por Moema pelo serviço, e em diversas outras provas, como conversas sobre o planejamento da invasão digital.

Devido à disputa que envolve a polícia e a Justiça paulistas, a viagem de Doria, recém-contratado pela Paper, com os amigos gerou comentários entre os envolvidos no caso. Doria e seus convidados negaram ter discutido o tema no encontro em Campos do Jordão; afirmaram que só falaram “amenidades”.

Sarrubbo, Nico e Andrade disseram desconhecer a contratação de Doria pela Paper, tornada pública há poucos dias. Nico afirmou que é amigo de Doria há 15 anos, assim como sua companheira é próxima da mulher de Doria, e que recebeu o convite quase dois meses antes da viagem. Segundo ele, o passeio ocorreu no dia 7 ,após diversos adiamentos a pedido dele.

Nico explicou que não vê conflito de interesse porque sua competência sobre os delegados é estritamente administrativa, impedindo-o de interferir em qualquer investigação – mas permite que ele remaneje esses profissionais dentro da estrutura da instituição. “O inquérito envolvendo a Paper, inclusive, não está mais com a Polícia, está com a Justiça”, complementou.

Andrade também negou qualquer relação com o caso envolvendo Paper e J&F. Sarrubbo disse que, no gabinete da Procuradoria Geral de Justiça de São Paulo, “não há nenhum processo ou mesmo investigação em relação” a Doria ou “às companhias mencionadas”.

“Esclareço que, com a renúncia ao cargo, João Doria ou mesmo os fatos envolvendo sua pessoa deixaram de ser da atribuição do procurador-geral, razão pela qual o encontro, repito, de caráter exclusivamente social, em nada prejudica, prejudicou ou prejudicará o trabalho da instituição Ministério Público. Esclareço, por fim, que desconheço e nunca tive conhecimento de eventual investigação ou mesmo demanda em relação as empresas em questão ou mesmo de qualquer atividade profissional do ex-governador a elas relacionada”, complementou o procurador-geral de Justiça de São Paulo.

Já o ex-governador afirmou que não há problema algum na viagem porque “não está mais na política”. Isso, continuou, garante seu “direito de organizar encontros, viajar e conviver com que quer que seja, mantendo a sua vida no plano privado”, assim “como qualquer cidadão”. “Não há qualquer inconveniência ou crítica que possa ser feita a sua conduta no âmbito pessoal”, finalizou.

O cerco se amplia

17/12/2024 às 06:00

Justiça inclui nora do rei do laranjal em processo que trata de ocultação de patrimônio

Leia Mais

O ministro Gurgel de Faria, do STJ, atende pleito da Paper em disputa sobre o controle da Eldorado

Leia Mais

Após sete anos, PF pede arquivamento de inquérito contra senador do MDB sobre corrupção no Postalis

Leia Mais

Amigo é para isso

16/12/2024 às 16:00

ACM Neto tenta manter no cargo secretário suspeito de ajudar Marcos Moura em esquema

Leia Mais

Procuradoria em Minas Gerais recorre de decisão que inocentou diretores das empresas envolvidas

Leia Mais

O COE é nosso

16/12/2024 às 06:00

Assessorias financeiras e XP empurram a aposentado investimentos arriscados que geram prejuízos

Leia Mais

Depoimento recente do delator contém novidade e mudança de versão que ajudou na prisão do general

Leia Mais

Braga Netto preso

14/12/2024 às 09:38

General quatro estrelas é detido no Rio no âmbito de inquérito da tentativa de golpe

Leia Mais

O divergente

13/12/2024 às 19:37

Mendonça foi o único a votar para afastar Alexandre de Moraes das investigações sobre Bolsonaro

Leia Mais

Toffoli compartilha processo contra a Transparência Internacional, apesar de provas em contrário

Leia Mais

Azedou o laranjal

13/12/2024 às 17:07

TJGO mantém bloqueio de 34 imóveis de empresário acusado de colocar bens em nome de terceiros

Leia Mais

AGU diz a Fux que governo não tem como impedir uso de Bolsa Família para pagamento de apostas

Leia Mais

O mundo de Bob

13/12/2024 às 10:26

STF forma maioria para condenar Roberto Jefferson à prisão por incitar abolição do estado de direito

Leia Mais

Assembleia Geral de Credores da Laginha é adiada novamente sob denúncias

Leia Mais

General Guido Amin Naves é aprovado pelo Senado para ocupar cadeira no Superior Tribunal Militar.

Leia Mais