Um passeio entre amigos
No dia 7, o ex-governador de São Paulo João Doria viajou com o procurador-geral de Justiça de São Paulo, Mário Sarrubbo; o delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Osvaldo Nico Gonçalves; e o delegado que chefia da 1ª Seccional do Estado de São Paulo, Roberto de Andrade. Eles passaram dois dias na Villa Doria, casa do ex-governador em Campos do Jordão com suas esposas.
O passeio começou às 17h da sexta-feira (7), quando partiram de helicóptero do heliponto do Shopping Iguatemi; mesmo local do pouso na volta. A programação do convescote contou com spa, massagem, jantar português, feijoada, brunch e até café da manhã no jardim.
A viagem coincidiu com o registro da nova empresa de Doria, a D Advisors. A companhia foi registrada como consultoria não especializada e já tem um cliente grande, a Paper Excellence, empresa da família do indonésio Jackson Widjaya, que enfrenta uma disputa societária renhida com a J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, na Justiça e na Polícia Civil de São Paulo pela Eldorado Celulose.
Há outro ponto em comum entre Doria e o conflito. A editora Matrix, responsável pelo livro sobre os escândalos de corrupção envolvendo os irmãos Batista, lançará a biografia do ex-governador.
Os problemas da Paper
No Tribunal de Justiça paulista, a Paper discute com a J&F o controle da Eldorado Celulose após um conturbado processo arbitral, que teve até desdobramentos policiais após acusações de espionagem. A Paper venceu a arbitragem e na 1ª instância do Judiciário de SP, mas a disputa está longe de terminar; leia aqui, aqui, aqui, aqui e aqui o que já foi noticiado pelo Bastidor sobre o caso.
A Polícia Civil de São Paulo investigou relato de espionagem feito pela J&F. A empresa do grupo dos irmãos Joesley e Wesley Batista levou às autoridades evidências de que teria sido sofrido um ataque hacker enquanto discutia o controle da Eldorado com a Paper na arbitragem.
Apresentado em setembro, o relatório final da polícia (leia um trecho abaixo) indicia diversas pessoas pela invasão, inclusive duas ligadas a uma empresa parceira da Paper, a CA Investment. Segundo a polícia, Josmar Verillo e Claudio Cotrim - um diretor e um conselheiro da CA Investment, respectivamente - contrataram Moema Ferrari para obter “ilicitamente” informações sigilosas da J&F.
Ainda de acordo com a Polícia Civil, Ferrari, que já foi indiciada nesse caso, contratou Danilo Bernardi para executar a ação. A acusação é baseada em depoimento de Bernardi, que apresentou comprovantes de parte do pagamento prometido por Moema pelo serviço, e em diversas outras provas, como conversas sobre o planejamento da invasão digital.
Devido à disputa que envolve a polícia e a Justiça paulistas, a viagem de Doria, recém-contratado pela Paper, com os amigos gerou comentários entre os envolvidos no caso. Doria e seus convidados negaram ter discutido o tema no encontro em Campos do Jordão; afirmaram que só falaram “amenidades”.
Sarrubbo, Nico e Andrade disseram desconhecer a contratação de Doria pela Paper, tornada pública há poucos dias. Nico afirmou que é amigo de Doria há 15 anos, assim como sua companheira é próxima da mulher de Doria, e que recebeu o convite quase dois meses antes da viagem. Segundo ele, o passeio ocorreu no dia 7 ,após diversos adiamentos a pedido dele.
Nico explicou que não vê conflito de interesse porque sua competência sobre os delegados é estritamente administrativa, impedindo-o de interferir em qualquer investigação – mas permite que ele remaneje esses profissionais dentro da estrutura da instituição. “O inquérito envolvendo a Paper, inclusive, não está mais com a Polícia, está com a Justiça”, complementou.
Andrade também negou qualquer relação com o caso envolvendo Paper e J&F. Sarrubbo disse que, no gabinete da Procuradoria Geral de Justiça de São Paulo, “não há nenhum processo ou mesmo investigação em relação” a Doria ou “às companhias mencionadas”.
“Esclareço que, com a renúncia ao cargo, João Doria ou mesmo os fatos envolvendo sua pessoa deixaram de ser da atribuição do procurador-geral, razão pela qual o encontro, repito, de caráter exclusivamente social, em nada prejudica, prejudicou ou prejudicará o trabalho da instituição Ministério Público. Esclareço, por fim, que desconheço e nunca tive conhecimento de eventual investigação ou mesmo demanda em relação as empresas em questão ou mesmo de qualquer atividade profissional do ex-governador a elas relacionada”, complementou o procurador-geral de Justiça de São Paulo.
Já o ex-governador afirmou que não há problema algum na viagem porque “não está mais na política”. Isso, continuou, garante seu “direito de organizar encontros, viajar e conviver com que quer que seja, mantendo a sua vida no plano privado”, assim “como qualquer cidadão”. “Não há qualquer inconveniência ou crítica que possa ser feita a sua conduta no âmbito pessoal”, finalizou.
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