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Polícia indicia hackers que espionaram executivos da JBS

Brenno Grillo
Publicada em 25/07/2022 às 06:00
Eduardo Bolsonaro em sua famosa visita ao indonésio Jackson Widjaja, CEO da Paper Excellence Foto: Instagram

Quatro pessoas investigadas pela invasão de e-mails e celulares de diretores da J&F foram indiciadas pela Polícia Civil de São Paulo há pouco mais de um mês, segundo fontes com acesso às apurações.

Os especialistas em tecnologia e programação Moema Ferrari, Danilo Vaz Bernardi, Leonardo Lopes e Leonardo Sena podem ser processados por associação criminosa, invasão de aparelho eletrônico e interceptação telefônica. De acordo com as apurações, o quarteto agiu para "grampear" e-mails e telefones de diretores do conglomerado de Joesley e Wesley Batista.

O caso ocorre em meio a uma disputa judicial que se desenvolve desde 2019 entre a J&F e a indonésia Paper pelo controle da Eldorado Celulose. A briga começou porque em 2017 os irmãos Batista desistiram repentinamente de vender por R$ 15 bilhões sua parte na Eldorado à família do indonésio Jackson Widjaja.

Na investigação, a Paper é suspeita de ser a mandante da invasão. O indício de ligação da Paper com o crime é Moema Ferrari, que prestava serviços à empresa quando ocorreu o hackeamento de emails e celulares de executivos da J&F.

Em depoimento à polícia, Bernardi confirmou e mostrou provas de que foi contratado e pago por Ferrari para invadir os sistemas da J&F. O programador disse à polícia que foi contratado a princípio para fazer um teste de segurança. Segundo ele, só após alguns questionamentos sobre a natureza do serviço é que descobriu que o objetivo era invadir o sistema da J&F.

Bernardi admitiu que combinou pagamento de 60 mil reais com Ferrari pelos serviços prestados e apresentou à polícia nota fiscal comprovando o recebimento de R$ 45 mil. Também há nas investigações registros de conversas entre Bernardi e Sena detalhando como fariam a invasão e inúmeros pedidos por Ritalina, para que pudessem trabalhar por mais horas sem fadiga.

Conforme consta das investigações, 115 executivos da J&F foram grampeados e 70 mil comunicações interceptadas. A holding foi informada sobre a invasão por Filipe Balestra, especialista em segurança digital que disse ter sido avisado do caso por um amigo, que teria descoberto a situação em fóruns de hackers na internet e na deep web.

As denúncias e indícios de hackeamento foram confirmadas pessoalmente por executivos da J&F quando o programador pediu que o diretor jurídico Francisco de Assis e Silva enviasse um e-mail como teste. A mensagem foi parar numa caixa de entrada paralela no sistema.

No mesmo período, o escritório de advocacia Mattos Filho, que representou a JBS no passado e atua pela Paper no caso da Eldorado, recebeu carta anônima que continha uma lista de e-mails de executivos da J&F. A correspondência foi enviada pelo Correio, postada por uma pessoa fantasiada com chapéu e óculos para impedir a identificação.

Todos esses atos foram confirmados por perícia da Polícia Civil de São Paulo, que buscava ainda a autoria da invasão. Com a confissão de Bernardi, os policiais buscam saber agora se há outros envolvidos na invasão, inclusive a existência de um mandante.

A descoberta da invasão aos e-mails da J&F motivou a abertura de duas investigações. Uma em São Paulo, na 2ª Vara de Crimes Tributários e Organização Criminosa, e outra na Vara Criminal de Diadema.

Uma confusão entre as duas investigações quase fez o depoimento de Bernardi ser descartado por uma sequência de decisões judiciais. A situação mudou em março, quando a 13ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo aceitou recurso da J&F pelo aproveitamento das afirmações do programador.

A confissão, mais os outros elementos já trazidos pela polícia, permitiram o indiciamento do quarteto Bernardi, Ferrari, Lopes e Sena. A investigação foi prorrogada por mais 60 dias em 10 de julho; seu encerramento pode ser adiado novamente, pois Cláudio Cotrim, presidente da Paper, foi intimado pela Polícia a prestar esclarecimentos.

A briga entre J&F e Paper tem outra face de enfrentamento, por meio de uma disputa arbitral. Como no outro caso este também foi parar na Justiça: após uma vitória da Paper, a J&F questionou o resultado e apontou a proximidade de um dos árbitros, Anderson Schreiber, com a defesa da empresa asiática.

Surgiram então mais duas investigações sobre Schreiber, enquanto a anulação arbitragem está sendo julgada em São Paulo.

Uma decisão sobre a validade ou não do processo arbitral deverá ser proferida até o fim deste mês, porque a juíza encarregada do caso, Renata Mota Maciel, da 2ª Vara Empresarial da Justiça de São Paulo, foi promovida e assumirá função no Superior Tribunal de Justiça a partir de 1º de agosto.

Leia a íntegra da manifestação de Bernardi:

Correção feita em 28 de julho: Também há nas investigações registros de conversas entre Bernardi e Sena detalhando como fariam a invasão e inúmeros pedidos por Ritalina, para que pudessem trabalhar por mais horas sem fadiga.

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