O homem que faz Brasília tremer

Alisson Matos
Publicada em 20/12/2024 às 10:00
Com o União Brasil sob o comando de Antônio Rueda e ACM, Marcos Moura ganhou espaço em outros estados Foto: Reprodução

Os noves dias que separam a detenção da soltura do empresário Marcos Moura foram tensos entre políticos de diferentes partidos no Congresso. Integrante da cúpula do União Brasil, Moura há algum tempo é mais do que o Rei do Lixo da Bahia e amigo do vice-presidente do União Brasil, ACM Neto: é uma figura proeminente no terreno onde negócios e política se encontram.

Embora pouco conhecido em escala nacional, Moura tem relevância estratégica no jogo político atual, baseado nos 50 bilhões de reais distribuídos via emendas parlamentares, que geram tantos contratos para prefeituras.

O Bastidor mostrou em 2022 que Moura era um empresário que buscava apoio financeiro para a campanha de ACM Neto. Os dois são amigos, a ponto de dividirem um avião. A ascensão de Moura, que saiu da Bahia para fazer negócios em outros estados, como mostra a investigação, coincide com a ascensão do grupo de Neto e Antônio Rueda dentro do União Brasil.

Foi a capacidade de fazer negócios com prefeituras onde chegam emendas parlamentares que ampliou as relações de Moura e, em consequência, mobilizou Brasília para evitar que a investigação que o levou à cadeia tomasse maiores dimensões. As relações partidárias de Moura são maiores do que parecem.

Vem destas conexões a convicção exibida por Moura, e pelos outros 16 detidos, de que a decisão favorável da desembargadora Daniele Maranhão, do TRF1, viria. Desde a prisão, todos diziam a interlocutores segurança que seriam soltos em breve.

Marcos Moura, inclusive, estava irritado com a demora em ser libertado. Ele constituiu uma equipe com seis advogados de primeiro time, entre eles Antônio Vieira, José Eduardo Alkmin e Rodrigo Mudrovitsch. Sua convicção vinha não só da capacidade do time jurídico, mas dos políticos com quem tem boas relações.

A prisão de Moura mobilizou Brasília numa semana que já seria tensa. Deputados do União Brasil tiveram má vontade para votar o ajuste fiscal do governo. Nessas ocasiões, parlamentares gostam de enxergar que um dedo do governo nas operações da PF. Isso ajuda a pedir mais algo em troca nas negociações por votos.

Na quarta (18), em meio às discussões sobre a PEC dos gastos e debates sobre emendas parlamentares, o Bastidor presenciou senadores falando sobre as prisões. Um parlamentar do PSD da Bahia dizia não conhecer Moura e tentava convencer quem o ouvia de que o esquema estava restrito ao estado e a políticos do União Brasil.

Não é assim. A prisão de Moura causou preocupações em integrantes de União Brasil, PP, PSD e PT, da Bahia e de outros estados onde seu grupo atuou.

A operação da PF investiga desvios de dinheiro público por meio de emendas parlamentares e de contratos do DNOCS (Departamento de Obras Contra a Seca) que vão além da Bahia. Há suspeitas no Amapá, Goiás, Rio de Janeiro e Tocantins. Segundo a polícia, a organização criminosa movimentou quase 200 milhões de reais desde 2020.

Como mostrou o Bastidor, Moura fechou um contrato de prestação de serviços de 600 mil reais com a Secretaria de Educação de São Francisco do Conde, na Bahia. A secretária de Educação é Rosemary Costa, irmã do ministro da Casa Civil, Rui Costa, do PT.

A Polícia Federal cita em seu relatório contatos entre o grupo criminoso do qual Moura faz parte com Ana Paula Magalhães de Albuquerque e Lima, assessora do senador Davi Alcolumbre, para liberar emendas. Futuro presidente do Senado e controlador das emendas da casa, Alcolumbre é do Amapá, estado onde Moura também fez negócios, segundo a PF.

A soltura de Moura interrompe, ao menos por ora, a tensão entre gente do União Brasil, PP, PSD e PT. Moura, seus 16 colegas de prisão e integrantes destes partidos têm motivos para festejar com alívio o Natal e o Ano Novo.

A qualquer custo

06/02/2025 às 19:25

Ex-funcionário afirma que XP pressiona assessores a oferecer ativos de risco a clientes moderados

Leia Mais

Serviço de bordo

06/02/2025 às 13:46

Governo acompanhará voo de brasileiros extraditados dos EUA, mas não garante fim das algemas

Leia Mais

Polícia Federal vai investigar a atuação de facções criminosas no setor de combustíveis

Leia Mais

Queimou a largada

06/02/2025 às 10:11

Ex-diretora da Oi pagará 420 mil reais à CVM por vazamento de informação

Leia Mais

Não perdem uma

05/02/2025 às 21:43

Carf contraria Fazenda e decide que Itaú não deve pagar 2,4 bilhões de reais por compra do Unibanco

Leia Mais

Sob governo Trump, Google também elimina metas de diversidade e reavalia programas de inclusão

Leia Mais

Governo amplia prazo do consignado do INSS de 84 para 96 meses; mudança entra em vigor nesta semana

Leia Mais

Diretor da Aneel pode emplacar solução a favor da compra da Amazonas Energia pelos Batista

Leia Mais

Empresa investigada por suposta ligação com PCC é alvo de mais de 400 autuações na ANP

Leia Mais

Penduricalhos pagos a 23 membros do Tribunal de Contas de São Paulo custam mais de 1 milhão de reais

Leia Mais

Castro escapa

04/02/2025 às 22:27

TRE rejeita segundo pedido de cassação do governador do Rio por irregularidades na campanha

Leia Mais

Órgão liderado por Jorge Messias não contesta como poderia operação de venda da Amazonas para Âmbar

Leia Mais

Ministro convoca audiência para cobrar transparência na execução de emendas parlamentares

Leia Mais

Decisão favorável a dono da antiga OAS anula também provas contra Lula e o ministro Dias Toffoli

Leia Mais

Barroso contraria PF e mantém relatoria da Operação Overclean com Kassio, em vez de Flávio Dino

Leia Mais