O homem que faz Brasília tremer
Os noves dias que separam a detenção da soltura do empresário Marcos Moura foram tensos entre políticos de diferentes partidos no Congresso. Integrante da cúpula do União Brasil, Moura há algum tempo é mais do que o Rei do Lixo da Bahia e amigo do vice-presidente do União Brasil, ACM Neto: é uma figura proeminente no terreno onde negócios e política se encontram.
Embora pouco conhecido em escala nacional, Moura tem relevância estratégica no jogo político atual, baseado nos 50 bilhões de reais distribuídos via emendas parlamentares, que geram tantos contratos para prefeituras.
O Bastidor mostrou em 2022 que Moura era um empresário que buscava apoio financeiro para a campanha de ACM Neto. Os dois são amigos, a ponto de dividirem um avião. A ascensão de Moura, que saiu da Bahia para fazer negócios em outros estados, como mostra a investigação, coincide com a ascensão do grupo de Neto e Antônio Rueda dentro do União Brasil.
Foi a capacidade de fazer negócios com prefeituras onde chegam emendas parlamentares que ampliou as relações de Moura e, em consequência, mobilizou Brasília para evitar que a investigação que o levou à cadeia tomasse maiores dimensões. As relações partidárias de Moura são maiores do que parecem.
Vem destas conexões a convicção exibida por Moura, e pelos outros 16 detidos, de que a decisão favorável da desembargadora Daniele Maranhão, do TRF1, viria. Desde a prisão, todos diziam a interlocutores segurança que seriam soltos em breve.
Marcos Moura, inclusive, estava irritado com a demora em ser libertado. Ele constituiu uma equipe com seis advogados de primeiro time, entre eles Antônio Vieira, José Eduardo Alkmin e Rodrigo Mudrovitsch. Sua convicção vinha não só da capacidade do time jurídico, mas dos políticos com quem tem boas relações.
A prisão de Moura mobilizou Brasília numa semana que já seria tensa. Deputados do União Brasil tiveram má vontade para votar o ajuste fiscal do governo. Nessas ocasiões, parlamentares gostam de enxergar que um dedo do governo nas operações da PF. Isso ajuda a pedir mais algo em troca nas negociações por votos.
Na quarta (18), em meio às discussões sobre a PEC dos gastos e debates sobre emendas parlamentares, o Bastidor presenciou senadores falando sobre as prisões. Um parlamentar do PSD da Bahia dizia não conhecer Moura e tentava convencer quem o ouvia de que o esquema estava restrito ao estado e a políticos do União Brasil.
Não é assim. A prisão de Moura causou preocupações em integrantes de União Brasil, PP, PSD e PT, da Bahia e de outros estados onde seu grupo atuou.
A operação da PF investiga desvios de dinheiro público por meio de emendas parlamentares e de contratos do DNOCS (Departamento de Obras Contra a Seca) que vão além da Bahia. Há suspeitas no Amapá, Goiás, Rio de Janeiro e Tocantins. Segundo a polícia, a organização criminosa movimentou quase 200 milhões de reais desde 2020.
Como mostrou o Bastidor, Moura fechou um contrato de prestação de serviços de 600 mil reais com a Secretaria de Educação de São Francisco do Conde, na Bahia. A secretária de Educação é Rosemary Costa, irmã do ministro da Casa Civil, Rui Costa, do PT.
A Polícia Federal cita em seu relatório contatos entre o grupo criminoso do qual Moura faz parte com Ana Paula Magalhães de Albuquerque e Lima, assessora do senador Davi Alcolumbre, para liberar emendas. Futuro presidente do Senado e controlador das emendas da casa, Alcolumbre é do Amapá, estado onde Moura também fez negócios, segundo a PF.
A soltura de Moura interrompe, ao menos por ora, a tensão entre gente do União Brasil, PP, PSD e PT. Moura, seus 16 colegas de prisão e integrantes destes partidos têm motivos para festejar com alívio o Natal e o Ano Novo.
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