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Do hacker ao Cash

Alisson Matos
Publicada em 09/07/2025 às 11:50
BC não esclareceu se houve alguma ação contra a Brasil Cash após a operação Concierge Foto: Reprodução

A Polícia Civil de São Paulo sabe que pelo menos 10 milhões de reais do maior roubo do sistema financeiro nacional passaram pela Brasil Cash, fintech que já foi flagrada em outro esquema criminoso recente, oculta seus reais controladores e tem um administrador que foi investigado por crimes no passado.

A Brasil Cash recebeu dinheiro da BMP, que perdeu mais de 540 milhões de reais no ataque hacker. Ela, que também é investigada, forneceu informações às autoridades. Pode não ser tudo, já que a Brasil Cash pode ter recebido mais repasses ainda não identificados.

O Banco Central suspendeu a operação via Pix da empresa - e de outras cinco fintechs - por suspeita de envolvimento no roubo. Demorou. Em agosto do ano passado, a Brasil Cash foi alvo da Polícia Federal na operação Concierge, que investigou uma organização criminosa que atua na lavagem de dinheiro de organizações criminosas, como o PCC. Mesmo assim, seguiu operando.

A Brasil Cash foi flagrada pela PF apenas cinco meses depois de receber autorização do BC para ser uma instituição de pagamento. O aval permite que ela atue como emissora de moeda eletrônica. Ou seja: pode gerenciar contas de pagamento pré-pagas, em que os recursos devem ser depositados previamente pelo cliente.

O administrador da Brasil Cash é Mauricio Caviglia, que já foi alvo do Ministério Público Federal por lavagem de dinheiro em casos anteriores. Caviglia também foi acusado de participar de um esquema no qual a Aceco TI, onde trabalhou, pagou propina para ser contratada sem licitação para prestar serviços à Junta Comercial do Estado de São Paulo. O processo foi extinto.

Após a operação Concierge, Caviglia e a Brasil Cash tiveram bens bloqueados, mas continuaram operando sem serem incomodados pelo Banco Central, até o último fim de semana.

Sem rastros

A Brasil Cash oculta seus verdadeiros donos. Em documentos oficiais, seus controladores são duas empresas, a Media Capital Empreendimentos e Participações e a Cane Services Limited. A primeira pertence à segunda, que está sediada em Tortola, nas Ilhas Virgens Britânicas, um conhecido paraíso fiscal no Caribe.

Desde que foi aberta, em 2018, a Brasil Cash passou por diversas mudanças societárias, de representantes no Brasil, de diretores, de endereço e de capital social. Nos registros, também constam alterações na atividade econômica e nos serviços prestados.

O capital social, que era de 10 mil reais em 2018, é atualmente de 7,6 milhões de reais. O primeiro endereço foi em Santa do Parnaíba (SP). Hoje, está instalada em um prédio comercial no bairro Alphaville, em Barueri (SP).

Desde o início, sucederam-se como seus administradores a Media Empreendimentos e quatro pessoas físicas. A Cane Services Limited entra como uma das controladoras da Brasil Cash em 2019.

Um desses administradores, Ricardo Abdo, foi retirado dos registros da Brasil Cash em 2023. Ele levou o caso à Justiça de São Paulo. Afirma que o termo de compromisso entre ele e a Brasil Cash foi rescindido de forma repentina em reunião convocada por Caviglia. Diz que sua participação acionária foi reduzida.

Na ação, Abdo pede acesso a balanços financeiros, extratos bancários, escrituração contábil, contratos ativos de prestação de serviços, notas fiscais e atas de reuniões ou assembleias que deliberaram sobre a autorização para atuar como instituição de pagamento.

O Bastidor procurou o Banco Central e perguntou sobre a suspensão da Brasil Cash no que diz respeito às operações de Pix. O BC não respondeu, nem esclareceu se houve alguma ação contra a empresa após a operação Concierge. Procurados por e-mail, Maurício Caviglia e sua empresa não retornaram. O contato de telefone disponibilizado no site da Brasil Cash não funcionou na manhã desta quarta-feira (9).

Com colaboração de Caio Crisóstomo.

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