Ex-Procuradora da Bahia diz que governo sabia de risco na compra de respiradores

Brenno Grillo
Publicada em 26/04/2022 às 15:35
Da esquerda para a direita: Aline Peixoto, primeira-dama da Bahia, o governador Rui Costa e Ediene Lousado durante cerimônia de recondução da então PGJ. Foto: Reprodução/MPBA

A compra de respiradores pelo Consórcio do Nordeste, ainda no começo da pandemia, em 2020, pareceu uma boa ideia a princípio. Mas tornou-se um problema para todos os governos da região porque R$ 49 milhões foram pagos e nada foi entregue após uma série de acordos descumpridos e decisões temerárias.

Uma delas foi a compra sem um seguro para cobrir eventuais contratempos contratuais – como ocorreu no caso. Outra foi a persistência num negócio que passou longe de dar certo desde o primeiro momento, levando problemas técnicos e discussões sobre devolução do dinheiro a tal nível que resultou na prisão de pessoas que participaram do acordo.

Segundo a ex-PGJ da Bahia Ediene Lousado, esses problemas poderiam ter sido previstos pelo governo baiana por causa da fama de um dos nomes envolvidos nessa compra. Mensagens de WhatsApp apresentadas pela PF em relatório da operação Faroeste mostram a procuradora afirmando a uma colega que Cléber Isaac Ferraz – contratado como representante comercial pelas empresas envolvidas na operação, Hempcare e Biogeoenergy – seria “o maior estelionatário da Bahia”.

A acusação foi feita enquanto Lousado - que fez intenso lobby junto ao governo baiano para ser reconduzida ao cargo em 2018 - criticava a investigação, afirmando que a apuração buscava “acabar com Rui Costa”. Ela disse não entender “a razão pela qual permitiram” a participação de Ferraz no negócio.

O motivo da desconfiança foi relatado, de acordo com Lousado, por Aline Peixoto, primeira-dama da Bahia. A esposa de Rui Costa teria sofrido um “calote” ao tentar alugar um imóvel numa propriedade administrada por Ferraz e relatado esse fato à ex-PGJ num evento beneficente. A defesa de Cleber Isaac nega o calote dizendo que ele apenas indicou um corretor imobiliário a Peixoto. 

Lousado sugere nas mensagens que a participação de Cléber Isaac Ferraz na compra dos respiradores seria resultado da proximidade que o investigado teria com a cúpula petista baiana: “O velho pai do cara mora no mesmo prédio de Wagner e são amigos”. A vizinhança é confirmada pela PF no relatório - o pai de Cléber mora no 13º andar e o petista no 16º.

E a proximidade política de Ferraz com o governo da Bahia também é chancelada pela PF: “Em depoimento, o proprietário da empresa Bioenergy, Paulo de Tarso Carlos, preso na operação Ragnarok, revelou que Cléber teria trânsito livre com núcleo político na negociação dos equipamentos e teria recebido uma comissão de R$ 3 milhões”.

Tanto Cléber quanto seu pai (de mesmo nome) já participaram da política; o primeiro foi secretário de Itacaré durante um mês, em 2006, e o segundo disputou a prefeitura da cidade litorânea nos anos 1990. Mas a defesa de Ferraz nega qualquer amizade ou relação política com Jaques Wagner, o PT ou a cúpula do governo baiano.

Em relação aos R$ 3 milhões recebidos, o advogado de Cléber Isaac afirma que R$ 1 milhão foi pago pela Hempcare por conta dos serviços prestados e o restante teria sido direcionado por Fernando Galante – intermediador contratado pela Hempcare para a primeira compra de respiradores e também acusado de desviar dinheiro público – por conta de outros negócios que tinham. A relação com Galante, segundo a defesa de Ferraz, data de muitos anos.

Só que as suspeitas sobre Cléber Isaac não se limitam às afirmações de Ediene. Ele também recebeu especial atenção da CPI realizada no Rio Grande Norte, sendo citado no relatório final como tendo “participação essencial” no desvio do dinheiro destinado para a compra dos respiradores. Para a Assembleia Legislativa potiguar, esse e outros elementos – como depoimentos e notas fiscais – comprovam a “associação” dele com outras pessoas “para obter vantagem ilícita, induzindo o Consórcio Nordeste em erro ao apresentar contrato inexistente”. 

O Bastidor questionou todos os citados sobre os fatos narrados no começo de março, mas não recebeu nenhuma resposta até a publicação.

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