Relatório da PF mostra como se escolhe um procurador-geral de Justiça na Bahia

Brenno Grillo
Publicada em 24/02/2022 às 16:50
Ediene Lousado, ex-PGJ da Bahia Foto: Ministério Público da Bahia

As escolhas de cargos ocupados por indicação de chefes do Executivo (em qualquer esfera) são emboloradas de tanta política. Na Bahia, não é diferente. Investigação da Polícia Federal na operação Faroeste mostrou a liturgia necessária para ocupar a Procuradoria-Geral de Justiça baiana.

A extração de conversas de WhatsApp da ex-procuradora-geral de Justiça Ediene Lousado pela PF detalha que o caminho exige muita proximidade com o governo do estado, liderado atualmente por Rui Costa; com a primeira-dama baiana, Aline Peixoto; com diversos magistrados, inclusive os investigados por corrupção; e políticos de quaisquer matizes ideológicas.

As conversas apresentadas no relatório da PF mostram o lobby de Ediene sobre Rui Costa para ser reconduzida ao cargo em 2018 – o que ocorreu. Em um dos diálogos, a ex-PGJ desabafa com uma promotora sobre o fato de, diz ela, estar sendo chantageada pelo Tribunal da Justiça da Bahia, que teria outro nome preferido para procurador-geral.

Ediene diz que a chantagem (sem especificar qual) partiu dos desembargadores Gesivaldo Britto, à época presidente do TJBA, e Maria do Socorro – ambos são investigados na Faroeste e chegaram a ser presos, acusados de venda de decisões. Segundo a procuradora, essa pressão vem do grupo de Maurício Telles Barbosa, ex-secretário de Segurança Pública de Rui Costa e conhecido na Bahia por monitorar adversários políticos.

Os atos de Barbosa seriam encampados pela delegada Gabriela Caldas, que é próxima do ex-secretário. A aflição da então PGJ com a pressão é resumida na seguinte frase dita por ela: “O governo precisa do TJ”.

A oportunidade de conquistar mais apoios no TJ surgiu em dezembro de 2017, quando a irmã de Sandra Inês, a também procuradora Sara Mandra, solicitou informações sobre a investigação que viria a ser nomeada de Faroeste e abalar o judiciário e a política da Bahia. Mandra queria saber se seu sobrinho, o advogado Vasco Ruscelli Azevedo (filho da desembargadora), seria um dos alvos da apuração.

Ediene se compromete a apurar o caso com amigos da PGR e, tempos depois, avisa a amiga que Azevedo era um dos alvos da investigação. O advogado é acusado de intermediar acordos e receber pagamentos pelas decisões vendidas por sua mãe e outros desembargadores.

Em troca da ajuda, a PGJ recebe suposto aviso de Sandra Inês, de que ela poderia interceder a favor de Ediene junto a Rui Costa e outros desembargadores. Uma promessa similar feita pela também Maria do Socorro é relatada depois pela própria procuradora, que disse ter sido procurada pela magistrada.

Outro diálogo de Ediene, em fevereiro de 2018, mostra o surgimento de nova chance para se cacifar como PGJ de Rui Costa. Ela diz ter sido procurada por Pedro Scavuzzi, assessor jurídico do governo da Bahia e advogado do governador no pedido da justiça gratuita contra Silas Malafaia, para que uma representação contra ACM Neto por propaganda eleitoral irregular tramite rapidamente.

A procuradora consegue fazer com o caso volte a tramitar contra o então prefeito de Salvador. Diz que o caso mostra que o governador tem razão ao dizer que investigações avançam apenas contra ele e seus aliados, mas nunca em relação aos seus adversários, principalmente ACM Neto.

Mas não foi só. Com a chegada do carnaval daquele ano, Ediene se aproxima da primeira-dama baiana, sendo convidada para curtir a folia no camarote do governo. Lá, segundo mostram os diálogos, a intenção foi conversar sobre a recondução com Aline e Rui Costa.

A recondução de Ediene foi confirmada em março, e a PGJ sabia da decisão antes mesmo da ligação do governador ou da publicação em Diário Oficial. Foi avisada, segundo afirmou, pela desembargadora Socorro e pelo senador Otto Alencar.

Só que os favores de Ediene não cessaram depois da recondução ao cargo. A PGJ disse em uma conversa de maio de 2018 ter sido procurada por Maurício Barbosa para investigar e processar o deputado estadual Targino Machado Pereira Filho, que é opositor de Rui Costa e foi alvo de queixa-crime pelo ex-secretário de Segurança.

Porém, continua Ediene, a tarefa seria quase impossível porque o deputado só teria representações eleitorais, nada mais grave. Como alternativa ao favor, a PGJ diz que viajará por todo o país para ajudar Rui Costa na eleição. Mas nada é grátis: ela pede em troca apoio do governador num projeto de lei que reajusta os salários de procuradores e servidores do MP no estado.

A defesa de Maria do Socorro nega que ela tenha feito qualquer intercorrência ou diligência nesse sentido.

A defesa de Gesilvado Britto informou que se manifestará somente após acessar os autos do processo.

O Bastidor também contatou as defesas dos outros citados na notícia, mas nenhum deles se manifestou até a publicação desta notícia. A exceção foram os defensores de Sandra Inês, que não foram localizados.

Exclusivo

Negócios suspeitos de família

13/06/2025 às 10:00

PF investiga contratos do marido de deputada Elcione Barbalho com governo de seu filho no Pará

Leia Mais

STJ dá isenção de custas judiciais a magistrado do TJDFT que ganha 50 mil reais mensais, em média

Leia Mais

Governo aciona STF para ressarcir fraudes no INSS fora do teto de gastos e sem aval do Congresso

Leia Mais

Com dificuldade de quórum, CPI termina sem aprovar relatório que indiciava apenas 16 pessoas

Leia Mais

Câmara examinará cassação da deputada foragida Carla Zambelli, determinada pelo Supremo

Leia Mais

Forçou o contato

11/06/2025 às 20:58

Atacante Bruno Henrique, do Flamengo, é denunciado por participar de esquema de fraude em apostas

Leia Mais

Ministro do STF anula condenação de ex-presidente da Petrobras por compra da refinaria de Pasadena

Leia Mais

Pela moderação

11/06/2025 às 19:50

Com Gilmar, STF tem maioria para ampliar a responsabilidade das big techs por conteúdo de usuários

Leia Mais

Alexandre de Moraes pede ao Ministério da Justiça a extradição de deputada foragida na Itália

Leia Mais

Busca lenta

11/06/2025 às 16:27

Conselheiro pede vista e Cade suspende análise de processo de entidades jornalísticas contra Google

Leia Mais

Oposição trava votação do novo Código Eleitoral na CCJ do Senado e adia discussão para julho

Leia Mais

Dino vota por responsabilização das plataformas sem ordem judicial em casos de conteúdo ilegal

Leia Mais

Aposentada de novo

11/06/2025 às 11:49

CNJ pune desembargadora Sandra Inês, do TJBA, pela 2ª vez - agora, por manter “gabinete paralelo”

Leia Mais

Guerra pelo Safras

11/06/2025 às 06:00

Credores menores contrariam grandes grupos econômicos em processo de recuperação judicial

Leia Mais

General Paulo Sérgio diz ao STF que discutia apenas uma "Garantia da Lei e da Ordem" com Bolsonaro

Leia Mais