O amigo da EMS
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva esculhambou servidores públicos ontem, durante a inauguração de uma fábrica da farmacêutica EMS, em Hortolândia, no interior de São Paulo. Ele aproveitou um discurso para endossar, em tom agressivo, críticas do setor à Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa. As empresas reclamam de demora para liberar novos medicamentos. O principal crítico é Carlos Sanchez, que tem relação forte com Lula e cujo grupo virou um império nas gestões do petista.
"Não é possível o povo não poder comprar remédio porque a Anvisa não libera. Essa é uma demanda que nós vamos tentar resolver", disse no encerramento do discurso, que anteriormente havia retirado palmas e risadas da plateia formada por funcionários da EMS.
Segundo Lula, é preciso que os diretores da Anvisa se conscientizem do problema, antes que algo grave aconteça. "Quando algum companheiro da Anvisa perceber que algum parente dele morreu porque um remédio que poderia ser produzido aqui não foi porque eles não permitiram, aí a gente vai conseguir que ela seja mais rápida e atenda melhor os interesses do nosso país", afirmou o presidente.
As críticas de Lula foram imediatamente rebatidas pelo presidente da Agência, Antônio Barra Torres. Segundo ele, a entidade tem perdido funcionários nos últimos anos, sem que haja recomposição dos quadros, o que dificulta o trabalho em todas as áreas. Ele afirmou que já encaminhou diversos ofícios ao Ministério da Saúde, alertando para a situação, mas tem sido ignorado.
Em que pese possa haver problemas pontuais de gestão na Anvisa, é inegável a importância do órgão nos últimos anos, sobretudo durante e depois da pandemia. À época, a agência foi duramente pressionada pela classe política e por empresários, mas sobreviveu às críticas - e conseguiu ser um dos poucos órgãos governamentais que não se curvaram diante do Palácio do Planalto e de congressistas.
A gestão do mesmo Barra Torres, outrora amigo de Jair Bolsonaro, foi exaustivamente criticada pelo então presidente, que insistia em tratamentos ineficazes, como a cloroquina e a ivermectina. Como se sabe, a condução do presidente foi longe de ser elogiável.
Para Bolsonaro, a agência, que ajudou a impedir vergonhas como a compra das vacinas Covaxin e da Sputnik, atrasava a retomada da economia e agia com desonestidade. Vale lembrar que a primeira vacina estava envolta em um caso de corrupção até hoje não esclarecido devidamente, enquanto o imunizante russo, com amplo lobby de congressistas e governadores, teve os testes suspensos pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Até mesmo João Doria, que era desafeto de Bolsonaro, mas ajudou o país a importar a Coronavac, primeiro imunizante a ser aplicado no país, não deixou de fazer críticas à Anvisa. Ele foi um dos muitos que pedia mais agilidade à agência para a liberação da vacina.
“Não podemos nos esquecer que o Brasil está perdendo mil vidas todos os dias. O senso de urgência, amparado pela ciência, deve prevalecer. Não é razoável que processos burocráticos, ainda que em nome da ciência, se sobreponham à vida”, disse Doria à época. O então governador vendeu a informação falsa de que a Coronavac era muito mais eficaz do que os testes iniciais apontavam. Os quadros da agência resistiram à narrativa de Doria, endossada acriticamente por boa parte da imprensa . Liberaram o imunizante, mas expuseram as limitações dele.
João Doria, vale lembrar, foi um dos "pais" da Butanvac, vacina que seria produzida pelo Instituto Butantan e que consumiu milhares de reais em pesquisa. Os estudos foram interrompidos na semana passada, depois de se mostrar menos eficaz do que outras soluções já disponíveis no mercado.
Lula, que sempre se vendeu como alguém distante de tais bravatas, acabou por tomar o mesmo rumo ao criticar a agência, usando os argumentos da indústria farmacêutica. Piorou a situação ao exemplificar o caso usando uma eventual morte de familiares dos diretores. Não que isso seja novidade na Anvisa, já que, durante a pandemia, eles precisaram enfrentar ameaças à própria integridade física, sem ajuda do governo.
A Associação dos Servidores da Anvisa (Univisa) demonstrou preocupação com a fala de Lula. Em uma carta aberta, os servidores disseram que seguem comprometidos com a função pública que exercem.
"Os servidores da Anvisa, mesmo com toda a defasagem, a desvalorização e o sucateamento, compõem corpo técnico altamente capacitado e comprometido com a saúde da população e têm trabalhado no limite da sua capacidade para garantir a segurança sanitária dos produtos e serviços regulados pela agência e entregar valor para a sociedade brasileira", afirmou a entidade.
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