Campeonato de manifestação

Leandro Loyola
Publicada em 28/02/2024 às 19:00
Uma resposta à manifestação pró-Bolsonaro é ótima para quem mobiliza militantes, não necessariamente para o governo Foto: Danilo Verpa/Folhapress

A convocação de manifestações simultâneas nas 27 capitais para o dia 23 de março por organizações de esquerda pode ser um sinal de vitalidade para seus mobilizadores, mas é de pouca utilidade para o governo Lula. Não há nenhum problema no governo que multidões na rua possam ajudar o governo a resolver.

As manifestações são uma resposta quase imediata ao ato de apoio convocado por Jair Bolsonaro e realizado no domingo. A ideia é superar a mobilização não só em número de pessoas, como fazer por todo o país, para demonstrar mais força.

Até agora, a pauta das manifestações é pedir a prisão de Bolsonaro e dar apoio ao povo palestino. Se o ato em defesa de Bolsonaro era inócuo do ponto de vista judicial, o mesmo vale para o plano da esquerda.

Milhares de pessoas nas ruas vestidas de amarelo não têm nenhuma capacidade de parar as investigações da Polícia Federal no inquérito do Supremo Tribunal Federal sobre a tentativa de golpe militar. Milhares de pessoas vestidas de outras cores não têm nenhuma influência sobre a polícia e o Supremo para produzir provas, denunciar, julgar, condenar e prender Bolsonaro. Do ponto de vista judicial, o ato da esquerda terá a mesma inutilidade do ato da direita.

Demonstrar força contra a direita também não parece ser uma necessidade. O ato em favor de Bolsonaro foi grande, mas não influenciou em nada a rotina do governo, não há qualquer pressão extra sobre Lula ou seus ministros, a oposição bolsonarista não ficou mais forte de domingo para cá.

O governo Lula não tem um cenário ruim no momento, nem está sob pressão. O país cresceu perto de 3% no ano passado; a popularidade de Lula estava em 36% de ótimo/bom e 29% de ruim no final do ano, na última pesquisa Genial/Quaest; não há uma crise com o Congresso.

Governos gostam de tranquilidade; agitação é coisa para a campanha eleitoral que começa em julho. Uma manifestação da esquerda, em resposta à de Bolsonaro, ajuda militantes a se firmarem como bons de mobilização ou a acreditarem que são maioria no país - algo que o resultado da eleição e as pesquisas mais recentes confirmam.

Um campeonato de quem bota mais gente na rua é uma vitória mais do bolsonarismo que da esquerda – afinal, é ele quem está fora do governo, sem a ajuda do Gabinete do Ódio, com uma bancada parlamentar que pouco atrapalha o governo Lula e precisa de exposição para a campanha eleitoral, para tentar desgastar o presidente.

Ao preço desta quarta, colocar gente na rua para responder aos bolsonaristas que acreditam que Israel é um país cristão pode ser mais uma forma de a esquerda dar força à oposição, que hoje vive mais de pegar carona no Centrão, do que ajudar Lula. O governo mesmo não está precisando de nada disso. 

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