Análise: para fazer diplomacia na guerra da Ucrânia, Brasil precisa superar Bolsonaro
O Brasil está em uma situação delicada com a invasão da Ucrânia pela Rússia, não só pelas questões econômicas e geopolíticas envolvidas. Antes de fazer diplomacia, o Itamaraty precisa superar Jair Bolsonaro.
O presidente pensa apenas em sua reeleição - não há dúvidas - e a indisposição bolsonarista com o assunto sempre foi evidente. Os brasileiros que vivem na Ucrânia tiveram que implorar para serem resgatados e a embaixada no país demorou a agir - até agora não há um plano anunciado formalmente, exceto dois aviões da FAB de prontidão para fazer o resgate.
Bolsonaro foi à Rússia às vésperas da invasão com a desculpa dos fertilizantes, disse ser solidário a Vladimir Putin (sem se referir a que especificamente) foi enganado pelo Kremlin, mas movimentou sua base e a imprensa. Gosta tanto de Putin, a quem já elogiou por defender os valores conservadores e cristãos, que desautorizou fala de Hamilton Mourão condenando a invasão da Ucrânia.
Esse contexto mostra o porquê do atraso no posicionamento brasileiro pelo fim da carnificina na Ucrânia; felizmente, isso não impediu o bom senso de prevalecer e a chancelaria brasileira condenar os crimes de Putin sobre uma nação soberana. Mas a decisão extremamente acertada coloca o Brasil, conhecido por sua neutralidade internacional, numa posição delicada: literalmente entre Ocidente e Oriente, com Otan, OCDE e União Europeia de um lado contra Rússia e China do outro.
O Brasil é parceiro militar e econômico de EUA e Otan - Bolsonaro, inclusive, comemorou em 2019 o status de aliado estratégico da Aliança do Atlântico Norte. Há também a OCDE, que cancelou o convite à Rússia, e já havia chamado brasileiros para o grupo das maiores economias do mundo.
O topo da cadeia alimentar global, apesar da força chinesa, ainda é comandado por EUA e Europa. E qualquer passo diplomático em falso pode atrasar (ou até destruir) o sonho bolsonarista de poder se dizer liberal (mesmo não sendo). Eventuais deslizes podem comprometer ainda as negociações sobre o acordo entre Mercosul e União Europeia.
Os europeus temem o potencial agrícola sul-americano (principalmente o brasileiro) e aproveitam o desmatamento causado pela boiada bolsonarista para exigir mais e mais.
Só que governo brasileiro é um importante ator nos Brics, ocupando atualmente a presidência do banco do bloco criado com chineses, russos, indianos e sul-africanos como alternativa ao eixo EUA-União Europeia. A China, atual presidente do colegiado, tende a favor de Putin - apesar da abstenção na resolução que condenaria a Rússia na ONU.
Já Putin considera a Ucrânia um puxadinho da Rússia em contato com a Europa democrática que abomina, apesar de depender para vender seu gás. É esse pensamento ultrapassado que move a sanha sanguinária na Ucrânia – vale lembrar que o “pensador” favorito do russo é Alexander Dugin, que criou as justificativas para a invasão da Crimeia, em 2014.
As sanções econômicas aplicadas até agora contra Putin, outros integrantes do governo e oligarcas russos não são vistas como suficientes para interromper o conflito, apesar de novas restrições estarem quase confirmadas, principalmente desconectar a Rússia do SWIFT (sistema global de transferências bancárias).
Mas um conflito militar entre potências desencadeará uma guerra nuclear. O czar prometeu usar os botões "número 1" e "número 2" contra EUA e Reino Unido caso ambos se envolvessem diretamente no conflito. E as crescentes comparações de Putin com Hitler nas redes sociais e na imprensa europeia só reforçam o imaginário popular, tornando essa opção mais perigosa - e talvez real.
Volodymyr Zelenski (que já começa a ser chamado de herói nas redes sociais) constrangeu a União Europeia e os EUA mais de uma vez desde o começo das ameaças da Rússia. Cobrou a entrada da Ucrânia no bloco econômico e na Otan; também disse que foi abandonado pelas potências às quais quer se unir.
A certeza atual é que vidas já estão sendo perdidas, que o mundo vive um momento perigoso e que os mercados vão se reorganizar para atender não só a Europa, mas todos os países. No Brasil, os preços das commodities vão aumentar - principalmente petróleo, gás, fertilizantes e trigo.
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