Toffoli livra Marcelo Odebrecht
O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, anulou todos os atos da operação Lava Jato contra o empresário Marcelo Odebrecht, condenado a 19 anos e 4 meses de prisão pelo ex-juiz Sergio Moro. Toffoli, no entanto, manteve válido o acordo de delação premiada do executivo.
A decisão de Toffoli desta terça-feira, 21, usa argumentos semelhantes àqueles que o fez tornar nulas, em dezembro do ano passado, todas e quaisquer provas obtidas dos sistemas Drousys e My Web Day B utilizadas a partir do acordo de leniência firmado pela Odebrecht.
A base de tudo está nas mensagens da Vaza Jato - cujo conteúdo não passou pelo crivo do devido processo legal - que foram obtidas a partir da ação de um hacker. Na prática, Toffoli usou como evidência inquestionável provas que não são provas.
A partir das mensagens, o ministro reforçou que a prisão de Marcelo Odebrecht teria sido “arbitrária” e que procuradores que atuaram na Lava Jato e o então juiz Sergio Moro, da 13ª Vara de Curitiba, “agiram com parcialidade e fora de sua esfera de competência.”
O despacho de Toffoli carrega ainda pontos conflitantes. Ele diz que “centenas de acordos de leniências e de colaboração premiada foram celebrados como meios ilegítimos de levar colaboradores à prisão”, mas não anulou o conteúdo. Pelo contrário, justificou que, caso a colaboração seja efetiva, o Marcelo tem direito “à aplicação das sanções premiais”, ou seja, os benefícios para quem firma uma colaboração.
O ministro ignora em sua decisão que ele próprio foi citado na delação de Marcelo. Em 2019, à Polícia Federal, o empresário afirmou que Toffoli era “o amigo do amigo” do seu pai, em referência ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a Emílio Odebrecht.
Ao reforçar que houve conluio entre o juiz e procuradores, Toffoli argumenta que há necessidade de se adotar “medida mais contundente justamente para se evitar maiores prejuízos” para Marcelo e diz ser “sendo, portanto, imperiosa a determinação de trancamento das investigações contra o requerente na 13º Vara Federal de Curitiba”.
A decisão de 117 páginas é composta majoritariamente pelos diálogos hackeados. O ministro ressalta que houve suposta manipulação de competência, obtenção de provas por meios não oficiais e uso da operação para fins pessoais e políticos. Cita ainda um relatório de correição feito pelo Luís Felipe Salomão, do Conselho Nacional de Justiça, sobre os recursos recuperados pela Lava Jato. Chamou de “gestão absolutamente caótica” o que se passou na 13ª Vara de Curitiba.
A decisão de Toffoli, ao livrar aquele que talvez seja o principal delator e o maior organizador, como ele próprio reconheceu, do maior caso de corrupção da história do Brasil, configura mais um capítulo do movimento político e judicial para uma anistia geral. O ministro, em despacho anterior, chegou a suspender os pagamentos do acordo de leniência da Odebrecht, hoje Novonor. Nem esperou que a renegociação, que é gestada no STF com as participações de CGU, AGU e MPF, fosse finalizada.
Leia a íntegra da decisão de Toffoli:
Leia também:
O hacker caiu
Polícia Civil de São Paulo prende autor do roubo bilionário às contas reservas do Banco Central
Leia MaisA ofensiva petista nas redes
Partido coloca no ar campanha com o mote pobres x ricos para expor o Congresso e a direita
Leia MaisGoverno propõe ressarcir aposentados roubados se puder fazer isso com dinheiro de fora do orçamento
Leia MaisEmpresa de telefonia pede nova blindagem contra credores para duas subsidiárias
Leia MaisFalta de respostas claras sobre maior ataque hacker da história mina confiança no sistema bancário
Leia MaisJuízes contestam Fernando Haddad sobre responsabilidade pelo aumento dos gastos com o programa
Leia MaisPesquisa mostra ceticismo de deputados com anistia e reprovação à estratégia de Bolsonaro
Leia MaisAtaque ao sistema financeiro
PF investiga roubo digital sem precedentes por meio de invasão a empresas centrais do setor bancário
Leia MaisTRF1 suspende decisão que determinava a paralisação de exploração de madeira no Amapá
Leia MaisTCDF manda notificar Secretaria da Educação por baixa qualidade da comida nas escolas
Leia MaisAGU anuncia que Lula resolveu recorrer da decisão do Congresso de derrubar aumento de imposto
Leia MaisAneel permitiu que Enel reajuste tarifa em 13,47%, apesar de falhas no fornecimento no ano passado
Leia MaisViagem secreta sob suspeita
PF investiga ida de dois delegados federais da "PF paralela" para São Paulo após a eleição de 2022
Leia MaisDelegados da investigação da Polícia Federal sobre roubo de aposentados são deslocados
Leia MaisPF concede aposentadoria a Alessandro Moretti, delegado indiciado no inquérito da 'Abin paralela'
Leia Mais