O silêncio autoritário
O Brasil acordou neste sábado (31) diferente, em silêncio. Ao menos, em uma das principais redes sociais, o X (antigo Twitter). Por volta da meia-noite, a maior parte das operadoras de internet bloqueou o acesso à plataforma, em cumprimento à ordem do ministro Alexandre de Moraes.
Horas depois de mandar bloquear o X, o Supremo Tribunal Federal (STF) "vestiu-se" de verde e amarelo. A iluminação cênica da corte recebeu as cores da bandeira nacional. A iniciativa foi vista como uma patética forma de prestar apoio ao ministro e à soberania das decisões tomadas dentro do prédio que representa a liderança do Poder Judiciário no Brasil.
Moraes alegou na decisão que o principal motivo de bloquear o X era porque a plataforma se recusava a bloquear contas ligadas a pessoas investigadas por atos de extremismo, como a fracassada tentativa de golpe do dia 8 de janeiro de 2023. O dono da rede, o bilionário Elon Musk, afirmou que as ordens judiciais eram abusivas e que os recursos da empresa eram ignorados pela corte.
Entretanto, a tentativa de Moraes de combater o extremismo acabou se voltando contra o próprio objetivo. Ainda antes do bloqueio, os mesmos grupos que se diziam as principais vítimas do corte de acesso, já organizavam protestos contra a decisão de Moraes. Essas manifestações estão marcadas para o próximo dia 7 de setembro, Dia da Independência.
O ministro, portanto, inflamou e, indiretamente, conclamou os grupos que o Judiciário e parte do poder público tentou combater nos últimos anos. Muitos dos que estavam adormecidos depois da firme resposta aos atos golpistas dizem ter acordado e pretendem participar dos atos contra Moraes em todo o Brasil.
Do ponto de vista de Musk, a estratégia de provocar a corte e levar Moraes à decisão extrema de bloquear o X muda muito pouco a vida do bilionário. Em geral, o Brasil é pouco rentável para as plataformas de mídia globais.
Por outro lado, a afronta soa bem em tempos de eleição nos Estados Unidos, onde Musk já declarou o apoio a Donald Trump e tem usado a rede social para promover a candidatura do republicano. O próprio empresário usa a conta pessoal para atacar a candidata democrata Kamala Harris.
Assim, uma briga internacional contra o sistema burocrático de um país inteiro, em favor da suposta liberdade de expressão defendida por Musk, é uma forte arma de propaganda. Também ajuda a desviar o foco de investigações que a rede social responde na União Europeia e em diversos países pela omissão no combate a discursos extremistas.
Embora tudo pareça mais silencioso, sem as habituais confusões diárias do Twitter, as discussões ganharam o terreno de outras redes sociais, como grupos de WhatsApp e Telegram, que estão novamente inflamados, como não se via desde antes dos atos golpistas em Brasília. Em outras situações, seria possível dizer o clichê de que "só o tempo dirá" quem venceu a disputa. Neste caso, porém, em menos de 24 horas, já deu para perceber que só o STF perdeu – e de goleada – para Musk e seus seguidores.
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