Novo chefe no Coaf
O delegado da Polícia Federal Ricardo Andrade Saadi será o presidente do Conselho de Controle de Atividades Financeiras, o Coaf, a partir de 1º de julho. O anúncio foi feito nesta quinta-feira (19), pelo Banco Central.
Saadi substituirá Ricardo Liáo, que esteve à frente do órgão desde agosto de 2019 e sai a pedido, de acordo com o BC.
O delegado ocupa hoje o cargo de diretor de Investigação e Combate ao Crime Organizado e à Corrupção na PF. Já foi conselheiro do Coaf.
Segundo o BC, ele assume o novo posto com o objetivo de combater a lavagem de dinheiro, o financiamento do terrorismo e proliferação de armas de destruição em massa a partir de inteligência financeira e de supervisão de setores econômicos.
A vaga de Saadi na PF será ocupada pelo delegado Dennis Cali.
Algo muda?
A troca de comando anunciada pelo Banco Central não muda o fato de que o Coaf continua abrigado num organograma que o deixa simultaneamente dependente de recursos do BC e exposto a pressões políticas externas. Mesmo a boa vontade declarada pelo presidente do BC não garante que a chegada de um profissional com experiência operacional represente mudança significativa num órgão que há anos opera com menos de 100 servidores e orçamento apertado.
Durante a gestão Liáo, o Coaf quebrou recordes de produção: foram 11.694 Relatórios de Inteligência Financeira (RIFs) em 2020, 124% acima de 2019, e novo pico de 12.519 RIFs em 2021 – prova de esforço técnico, mas também de sobrecarga para um quadro reduzido. O desempenho não protegeu o Conselho dos ataques: em 2021 o TRF-1 mandou a PF investigar servidores por um relatório sobre Frederick Wassef, medida que só não avançou porque o STJ suspendeu o inquérito. O episódio evidenciou a vulnerabilidade entre análise técnica e interesses de ocasião.
A instabilidade institucional reforça o ceticismo. Desde 2019 o Coaf mudou três vezes de endereço ministerial: Justiça (pedido de Sergio Moro), Economia e, finalmente, Banco Central, por meio da MP 893/2019 – aprovada, mas já à época contestada como “retrocesso” por parte do Senado. Em 2023 o governo Lula tentou reverter o arranjo com a MP 1158/23, que devolvia o órgão à Fazenda e reescrevia suas competências; a MP caducou, deixando o Conselho mais uma vez em situação indefinida sobre quem realmente controla o órgão.
Saadi assume com credenciais sólidas – Lava-Jato, DRCI, passagem pela Europol – e relações diretas com a PF que podem acelerar o fluxo de informações investigativas. Mas o histórico mostra que desempenho do Coaf depende menos do currículo do presidente e mais de quatro problemas estruturais ainda sem solução: quadro de analistas defasado, deficiências tecnológicas para processar dados maciços e criptoativos, autonomia financeira limitada e falta de proteção legal contra ingerência política sobre alvos sensíveis. Nada disso mudou com a nomeação; tampouco há sinal de reforço orçamentário no curto prazo.
Além de implementar as recomendações da recente avaliação do Gafi e modernizar sistemas, o novo presidente precisará negociar no Congresso uma lei que consolide a posição do Coaf – hoje definida sobretudo por medidas provisórias e decretos. Sem arcabouço estável, cada governo pode redesenhar o órgão conforme seus interesses, comprometendo continuidade de políticas de prevenção à lavagem de dinheiro. Daí a cautela de quem acompanha o tema por dentro: Saadi pode até acelerar as parcerias com PF e MPF, mas os problemas estruturais permanecem – e o início de sua gestão ocorre nas mesmas condições de sempre.
Com Caio Crisóstomo
O cozinheiro do roubo
Atual dono de fintech investigada pela Polícia Civil nunca teve relação com instituições financeiras
Leia MaisUma dezena de fintechs suspeitas
Polícia identifica novas intermediárias por onde passou dinheiro do maior roubo ao sistema bancário
Leia MaisMoraes suspende decretos de Lula e do Congresso sobre imposto e convoca conciliação para o dia 15
Leia MaisUma fintech suspeita
Polícia rastreia 270 milhões de reais do roubo aos bancos a contas na Soffy Soluções de Pagamento
Leia MaisO roubo de 3 bilhões de reais
Polícia Civil estima que invasão hacker a bancos resultou no maior assalto já registrado no país
Leia MaisO hacker caiu
Polícia Civil de São Paulo prende autor do roubo bilionário às contas reservas do Banco Central
Leia MaisA ofensiva petista nas redes
Partido coloca no ar campanha com o mote pobres x ricos para expor o Congresso e a direita
Leia MaisGoverno propõe ressarcir aposentados roubados se puder fazer isso com dinheiro de fora do orçamento
Leia MaisEmpresa de telefonia pede nova blindagem contra credores para duas subsidiárias
Leia MaisFalta de respostas claras sobre maior ataque hacker da história mina confiança no sistema bancário
Leia MaisJuízes contestam Fernando Haddad sobre responsabilidade pelo aumento dos gastos com o programa
Leia MaisPesquisa mostra ceticismo de deputados com anistia e reprovação à estratégia de Bolsonaro
Leia MaisAtaque ao sistema financeiro
PF investiga roubo digital sem precedentes por meio de invasão a empresas centrais do setor bancário
Leia MaisTRF1 suspende decisão que determinava a paralisação de exploração de madeira no Amapá
Leia MaisTCDF manda notificar Secretaria da Educação por baixa qualidade da comida nas escolas
Leia Mais