As páginas em branco da Ferbasa

A operação de busca e apreensão nas sedes da Ferbasa e da Fundação José Carvalho, na quarta-feira (8), foi infrutífera, segundo a Justiça da Bahia. O Bastidor teve acesso a documentos que mostram que os oficiais de Justiça não encontraram os documentos exigidos pelo juiz Marcelo de Almeida Costa.

A Companhia de Ferro Ligas da Bahia e a fundação que leva o nome do fundador da empresa são investigadas por suspeita de fraudes contábeis e dilapidação de patrimônio. A ação foi movida pelo filho de José Carvalho, José Eduardo, que alega ser afetado por perda de herança.

A Justiça havia obrigado a empresa e a fundação a fornecer documentação para a investigação, mas ambas têm criado empecilhos. Primeiro, pediram para entregar o material em cartório, o que foi negado. Ontem, as autoridades se depararam com cópias incompletas dos documentos e inúmeras páginas em branco.

A oficial de Justiça Edlene Freitas afirma em seu relatório ao juiz que, "embora os representantes relatassem que havia documentação completa, constatei que os demonstrativos de imposto de renda não estava completos, mas apenas o recibo da entrega, de forma bem simplificada, dos anos 1975 a 2012". Disse também que os "os advogados disseram que não entregariam a documentação após 2012, pois é posterior a data da propositura da ação".

De acordo com a oficial de Justiça, os advogados da Ferbasa e da fundação prometeram entregar todo o material até o próximo dia 14. Veja mais nas imagens abaixo:

José Eduardo diz que o patrimônio que lhe é de direito foi reduzido por meio de transferências irregulares de ações da empresa à fundação e dos gastos anuais de 50 milhões de reais do patrimônio da família.

Antes do pedido de depósito da documentação em cartório, a entrega do material pelas rés quase foi suspensa por decisão do desembargador Manoel Bahia, amigo do advogado Marcelo Zarif, representante da Fundação José Carvalho e conselheiro da Ferbasa desde 30 de abril.

O desembargador declarou-se impedido no caso após sua relação pessoal com Zarif ser exposta.

Mas existem outros imbróglios envolvendo a Ferbasa. Um deles é a compra de uma fazenda da companhia, em 1999, por Sergio Dória, presidente do conselho de Administração da empresa. O valor pago pelo imóvel rural foi muito abaixo da média do mercado.

A posse da fazenda São Jorge, que pertenceu à Ferbasa até 1997, foi transferida por 42 mil reais, sendo que, em 1984, o valor pago pelo imóvel, em valores atualizados, foi R$ 972 mil. A propriedade rural está localizada em Catú, região metropolitana da Salvador, e equivale a 60 mil campos de futebol.

Há ainda o problema das contas secretas da Ferbasa na Suíça. O ex-diretor da Ferbasa Ernani Pettinati afirmou em depoimento que foram pagas comissões em duplicidade a empresas fantasma. O processo foi encerrado após acordo entre os envolvidos.

O Bastidor questionou os advogados do caso sobre o relato da oficial da Justiça, mas não recebeu resposta até a publicação desta notícia.

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