Edital para os amigos
O candidato à prefeitura de Teresina pelo Partido dos Trabalhadores (PT), Fábio Novo, está sendo investigado pela Polícia Federal por suspeita de desvios de mais de 7 milhões de reais da Lei Aldir Blanc em 2020 e 2021, quando era secretário de Cultura do estado. A investigação derrubou o sucessor de Novo, Carlos Anchieta, nesta quinta-feira (5).
A Lei Aldir Blanc foi criada para apoiar o setor cultural durante a pandemia. O governo federal repassou 3 bilhões de reais a estados e municípios numa espécie de auxílio emergencial aos trabalhadores da cultura.
A Operação Front Stage, realizada pela Polícia Federal e pela Controladoria-Geral da União (CGU), investiga como esses recursos foram aplicados. Segundo inquérito ao qual o Bastidor teve acesso, a distribuição das verbas no Piauí pode ter favorecido empresas e entidades ligadas a servidores públicos e pessoas próximas aos gestores da secretaria de Cultura.
Fábio Novo foi secretário da Cultura no último governo de Wellington Dias, hoje ministro do Desenvolvimento e Assistência Social. Durante sua gestão, Carlos Anchieta (na foto abaixo, à esquerda) foi o diretor administrativo e financeiro da secretaria. Foi secretário interino em 2020, quando Novo disputou a prefeitura de Teresina.
Anchieta é apontado como pessoa de confiança de Fábio Novo. Segundo investigações, a empresa de Anchieta, a Dois Candangos, foi beneficiada pelos recursos da lei Aldir Blanc. Há suspeitas de que parte dos valores recebidos possa ter sido desviada para a compra de um imóvel em Teresina.
A CGU constatou que o aumento patrimonial de Carlos Anchieta não bate com sua renda declarada. Em 2020 e 2021, ele declarou ter pouco mais de quatro milhões de reais em bens e direitos. Em 2022, no entanto, seu patrimônio saltou mais de 24% - um acréscimo de novecentos e setenta e cinco mil reais -, para quase cinco milhões de reais.
A CGU destacou que esse crescimento é incompatível com os rendimentos declarados por Anchieta - que, nesse período, foram compostos pelos salários pagos pela Secretaria de Cultura do Piauí e pela Secretaria de Educação do Distrito Federal, além de um pequeno rendimento isento de pouco mais de dois mil e seiscentos reais. No total, seus ganhos declarados em 2021 somaram aproximadamente noventa e oito mil reais, bem abaixo do aumento patrimonial registrado.
Empresa laranja e propina
A PF ainda colocou sob suspeita de corrupção, valores recebidos por Carlos Anchieta num esquema onde empresários ligados a eventos culturais, ou suas companhias, devolviam parte do que recebiam por desempenhar atividade contratada pela secretaria.
Ao longo da investigação, foi levantado o sigilo fiscal de Anchieta e de outras 11 pessoas físicas e jurídicas. Nesse período, ele recebeu diversos depósitos em sua conta bancária, que totalizam 1,279 milhão de reais.
Segundo a PF, de um total de 736 transações, foi verificada a utilização do subterfúgio de fazer depósitos fracionados, com valores inferiores a 10 mil reais, para evitar a identificação do depositante.
“Além do artifício de depositar valores inferiores a R$ 10.000,00 (dez mil reais) como meio de não identificar a origem dos recursos, também se constatou o fracionamento nos depósitos, cuja soma totalizam valores acima de R$ 10.000,00 (dez mil reais), como forma de evitar a comunicação ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras – COAF”, diz a PF.
A CGU afirma ter detectado um padrão entre saques de contas da entidade F Rodrigues F Eventos Ltda, ligada à área cultural, e posteriores depósitos fracionados na conta de Carlos Anchieta.
Além de Fábio Novo e Anchieta, a investigação descobriu outros funcionários ligados a repasses suspeitos da lei Aldir Blanc. Alisson Fernando Pereira Rocha, servidor da secretaria, tem empresas que receberam 1,2 milhão de reais. A Fundação de Apoio Cultural do Piauí (Fundapi) recebeu 250 mil. O responsável pela Fundapi é Cineas das Chagas Santos, servidor das secretarias de Cultura e de Governo do Piauí.
Uma empresa chamada Ligia B Felix Empreendimentos Comércio e Serviços Eireli (LBF Empreendimentos), foi contemplada com 300 mil reais, mesmo sem ter qualquer atividade relacionada à cultura. Sua atividade principal é prestação de serviços de organização de feiras, congressos, exposições e festas.
Falta de transparência
Para a CGU, foram constatados indícios de direcionamento nos prêmios decorrentes dos editais da Lei Aldir Blanc para favorecer pessoas jurídicas ligadas aos gestores da Secretaria da Cultura. A secretaria não apresentou provas de execução dos projetos, nem explicou se houve prestação de contas.
“Não há como avaliar se os recursos recebidos por essas pessoas jurídicas foram utilizados com a finalidade proposta na Lei Aldir Blanc. O silêncio da Secult-PI acerca das execuções e consequente prestação de contas desses projetos fortalece os indícios de favorecimento e representam grave risco quanto à regularidade na execução dos recursos”, afirma o relatório.
As investigações continuam em andamento. O processo corre sob sigilo no Tribunal Regional Federal da 1ª Região.
A assessoria de Fábio Novo disse que o candidato não poderia responder pois estava em agenda de campanha.
Em nota, Anchieta afirma: "Informo que, para garantir a transparência, a lisura, a fluência e a independência das investigações que citam meu nome, durante período em que eu estava como gestor da Secretaria de Cultura do Piauí, e para que não paire nenhuma dúvida sobre a autonomia das apurações em voga, informo que estou renunciando ao cargo de secretário de estado da Cultura. Assim, espero colaborar, de maneira irrestrita e incondicional, para que tudo seja devidamente esclarecido."
O governo do Piauí afirmou que Carlos Anchieta deixou o cargo para cuidar de sua defesa e que a advogada Ingrid Pereira da Silva assumirá o posto interinamente. A exoneração de Anchieta deve sair em edição extraordinária do Diário Oficial do Estado do Piauí ainda nesta quinta.
Alteração feita às 22h para incluir nota de Carlos Anchieta.
Após negociação com empresa fracassar, banco busca novo parceiro para operar linha de microcrédito
Leia MaisGrande parte das casas de apostas autorizadas pelo governo tem registro em paraísos fiscais
Leia MaisSegundo turno em Goiânia será ensaio da disputa por espaço dentro da direita em 2026
Leia MaisFrederico Siqueira Filho, presidente da estatal, responde a ação por improbidade administrativa
Leia MaisPartido ganhou mais prefeituras que em 2020, mas nenhuma delas é importante
Leia MaisTribunal arbitral determina que a Eldorado Celulose pague os dividendos referentes ao ano de 2023
Leia MaisLula e Bolsonaro ensaiaram, mas não houve reedição de 2022: quem ganhou mesmo foi o Centrão
Leia MaisPSD se torna o campeão de prefeituras, toma o lugar do MDB e ganha musculatura para 2026
Leia MaisEleitor vereador em Balneário Camboriú, Jair Renan é o quarto filho de Jair Bolsonaro na política
Leia MaisEm Alagoas, senador do MDB elege mais prefeitos que seu inimigo, o presidente da Câmara
Leia MaisEleições terminam no primeiro turno em 11 capitais, neste domingo; outras 25 terão segundo turno.
Leia MaisCom apoio envergonhado de Bolsonaro e Lula, Nunes e Boulos vão disputar o segundo turno em São Paulo
Leia MaisDos 16 municípios do Amapá, senador favorito a assumir o comando do Congresso elege aliados em 10
Leia MaisPresidente diz que apresentará novas regras para as bets, mas se não fizer efeito tentará proibir.
Leia MaisPresidente do TSE, ministra Cármen Lúcia diz que eleições municipais estão ocorrendo na normalidade.
Leia Mais