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As rotas suspeitas de Alcolumbre

Alisson Matos
Publicada em 15/07/2024 às 06:00
Alcolumbre é o favorito a voltar a ocupar a presidência do Senado Foto: Pedro Ladeira/Folhapress

O senador Davi Alcolumbre (União Brasil), favorito a assumir o comando do Congresso em 2025, usa com frequência um jatinho que pertence a um empresário que se beneficiou de emendas enviadas pelo parlamentar. Luciano André Goulart, o empresário, é próximo do senador ao menos desde 2019, quando foi escolhido para coordenar o Mais Visão, programa que oferece gratuitamente atendimento oftalmológico no Amapá.

Por conta do programa, Luciano e sua empresa são investigados pelo Ministério Público Federal no estado após 104 pacientes contraírem infecções graves nos olhos. O caso aconteceu em 2023, quando houve um surto de endoftalmite, que pode ser causada por cirurgia ocular, lesão ocular ou contaminação na corrente sanguínea.

O Mais Visão chegou a ser suspenso em 2023 após recomendação do MP. O programa, que tem Alcolumbre como principal financiador, é realizado pela organização religiosa Centro de Promoção Humana Frei Daniel de Samarate – Capuchinhos, que subcontrata a Saúde Link Ltda, empresa de Luciano. É a Saúde Link que aparece como proprietária do jatinho Hawker Beechcraft, modelo 400A, de prefixo PR-MGD.

Desde que Luciano comprou a aernovave, ela foi alvo de ao menos duas investigações. Uma delas por contrabando. O Bastidor teve acesso com exclusividade a uma denúncia do MPF contra o empresário.

Em julho de 2022, no aeroporto de Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, a Polícia Federal encontrou no jatinho mercadorias de origem estrangeira“desacompanhadas de documentos de regular importação”, de acordo com a denúncia.

No avião havia vinhos, shampoos, perfumes, adaptadores, cabos USB, carregadores, capas de celular e malas. As mercadorias foram avaliadas em mais de 60 mil reais. Os impostos correspondentes ultrapassavam os 20 mil reais.

O MPF propôs como pena o pagamento de 10 salários-mínimos, algo em torno de 13,2 mil reais, além dele comprometer-se a não praticar nova infração. Luciano concordou.

O avião também está na mira do Tribunal Regional Eleitoral do Amapá. Desde o ano passado, corre na corte uma ação que investiga Alcolumbre e seu irmão Josiel por abuso de poder político e econômico, fraude e corrupção.

A investigação centra-se no uso do jatinho para deslocamentos durante a campanha de 2022. Alcolumbre foi reeleito senador com o seu irmão na suplência.

A ação lembra que a empresa Saúde Link tem contratos com o governo do Amapá. Também foi investigado o uso de efetivo da Polícia Militar em favor da candidatura do senador.

A venda do jatinho para o empresário foi feita por outro personagem muito próximo a Alcolumbre. Trata-se do senador Jayme Campos, do Mato Grosso, também do União Brasil, antigo dono.

De acordo com os registros do jatinho na Agência Nacional de Aviação Civil, a transferência de propriedade foi finalizada no dia 4 de maio de 2022. O empresário desembolsou 7,2 milhões de reais ao senador.

No dia 7 de maio, o Bastidor questionou Jayme Campos sobre a venda da aeronave. À reportagem, ele disse que o negócio não teve a participação de Alcolumbre e que desconhece a relação do colega senador com Luciano.

A compra ocorreu no ano seguinte a Alcolumbre deixar a Presidência do Senado. No comando do Congresso, o parlamentar tinha direito a solicitar voos da FAB (Força Aérea Brasileira).

Entre 2019 e 2020, Alcolumbre destinou 15 milhões de reais para o Mais Visão. O governador à época era Waldez Góes, hoje ministro do governo Lula indicado pelo senador. O projeto seguiu na gestão de Clécio Luis, eleito governador em 2022 com apoio do parlamentar.

Ao constatar irregularidades sanitárias nos locais onde eram realizados os procedimentos cirúrgicos, o MP pediu a suspensão dos repasses ao programa. Em 2023 havia uma previsão de 28,6 milhões de reais em recursos para execução do programa.

As rotas de Alcolumbre

O Bastidor monitorou, nos últimos três meses, os trajetos feitos pelo jatinho PR-MGD. Várias vezes, a rota era a mesma de Alcolumbre.

Na noite de quinta-feira (4), por exemplo, o jatinho saiu de Brasília rumo à região norte do país. No dia seguinte, a agenda de Alcolumbre tinha ao menos dois eventos que ele deveria comparecer em cidades do interior do Amapá.

Durante a manhã e a tarde, o senador inauguraria o estádio municipal Nelson da Costa, chamado de “Pisadeiro”, na cidade de Tartarugalzinho, a 227 quilômetros da capital Macapá. Além do prefeito Bruno Mineiro, do mesmo partido de Alcolumbre, o evento contou com as presenças do governador Clécio Luís (Solidariedade), do senador Randolfe Rodrigues (sem partido) e do ministro Waldez Góes (Integração e do Desenvolvimento Regional).

Mais tarde, Alcolumbre ainda tinha outro compromisso. A 174 quilômetros dali, na cidade de Santana, o senador e as autoridades aliadas iriam à inauguração do Cine Teatro Municipal Silvio Romero. A distância, se percorrida de carro, aumentaria para 235 quilômetros e levaria cerca de três horas. O evento também contou com as presenças de Clécio, Waldez, Randolfe e do prefeito Bala Rocha, do PP. Naquela semana, os donos oficiais do jatinho, Luciano Goulart e sua esposa, Patrícia Goulart, que costuma publicar a rotina da família no Instagram, estavam em São Paulo se preparando para uma viagem que fariam à Europa.

Na semana anterior às inaugurações do teatro e do estádio, mais precisamente no dia 27 de junho, uma quinta-feira, a aeronave decolou de Brasília às 17h42. Na ocasião, a reportagem perguntou à assessoria do senador se ele ainda estava na capital federal. A equipe de Alcolumbre não quis responder.

Fato é que no mesmo dia Alcolumbre apareceu na cidade de Santana para uma visita técnica ao Cine Teatro Silvio Romero. Conforme publicou em suas redes sociais, estava acompanhado por Randolfe, Clécio Luís e Waldez Góes.

No dia 22 de junho, Alcolumbre esteve acompanhado de outros políticos nos festejos de São João em Campinha Grande, na Paraíba. Nos registros de voo da aeronave consta que naquele dia o jato foi de Brasília para a região da cidade paraibana e, na sequência, desceu para a fronteira entre São Paulo e Minas Gerais.

Os donos formais do jato, naquela data, estavam em uma cidade do interior de Minas para uma comemoração familiar. O perfil de Patrícia no Instagram registrou a rotina do casal.

Nas últimas semanas, os roteiros de Luciano e Patrícia também não coincidiram com os de Alcolumbre. Eles poderiam justificar o uso comum do avião como se tratasse de uma carona, mas o casal e o senador apareceram, de acordo com publicações na internet, em lugares diferentes.

Na noite do dia 1 de julho, uma segunda-feira, o jato veio da região Norte e pousou em Brasília. Ficou na capital até o dia 4, véspera das inaugurações em Santana e Tartarugalzinho. Desde a primeira semana de julho, Luciano e Patrícia Goulart estão na Grécia, em uma viagem comemorativa, segundo os registros feitos no Instagram.

No dia 8 de julho, o avião retornou da região Norte para Brasília e pousou por volta das 13h. Era uma segunda-feira. Estava marcada para às 14h, no Senado Federal, uma sessão especial solicitada por Alcolumbre para comemorar os 50 anos da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba). Estavam no Congresso, além de Waldez, Clécio e Randolfe, os prefeitos Bruno Mineiro, de Tartarugalzinho, Paulinha, de Serra do Navio, Ary, de Vitória do Jari, e Carlos Sampaio, do município de Amapá. A maioria passou a semana em Brasília.

Sem respostas

O Bastidor procurou insistentemente durante a semana todos os citados na matéria. Nenhum respondeu.

Alcolumbre recusou-se a esclarecer a sua relação com o empresário Luciano Goulart e a fornecer qualquer informação sobre o uso do jatinho. Não quis opinar sobre um potencial conflito de interesse, nem dizer se os voos se tratam de uma carona ou se há algum tipo de pagamento. Na prestação de contas do gabinete do senador não há menção a gasto com avião.

O mesmo ocorreu com o casal dono do avião. Eles não retornaram os contatos feitos por telefone, Whatsapp e e-mail. O Bastidor tentou por dois dias seguidos.

O senador Randolfe Rodrigues e o ministro Waldez Góes também não responderam se já pegaram carona no jatinho. A assessoria do ministro até prometeu uma resposta para a quinta-feira (11), mas não mandou.

O avião, depois de passar alguns dias parado em Arapiraca, no estado de Alagoas, voltou a Brasília na sexta-feira (12). No sábado (13), pela manhã, o jatinho partiu rumo ao norte do país. O Bastidor não conseguiu confirmar se Alcolumbre estava na aeronave, mas o perfil do senador no Instagram registrou na sequência encontros com políticos do Amapá durante o dia.

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