Reunião contra a jogatina

Diego Escosteguy
Publicada em 30/09/2024 às 10:34
O estudo sobre bets, divulgado pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto, assustou o governo Foto: Jhony Inácio/Agencia Enquadrar/Folhapress

Uma reunião de rotina no final da tarde de hoje entre diretores do Banco Central e executivos dos maiores bancos do país deve abordar o assunto que, finalmente, ganhou a atenção de Brasília: o problema das bets. 

A crise da jogatina digital não está na agenda da reunião, mas, dada a gravidade, relevância e urgência do tema, provavelmente será debatida, segundo partícipes do encontro. 

Estarão reunidos o presidente do BC, Roberto Campos Neto, ao lado de diretores do órgão. Os CEOs Marcelo Noronha (Bradesco), Milton Maluhy (Itaú), Mario Leão (Santander) e André Esteves (BTG) participarão, assim como os presidentes da Febraban, Isaac Sidney, e da Confederação Nacional das Instituições Financeiras, Rodrigo Maia. 

BC, bancões e as entidades do setor estão de acordo quanto à gravidade do problema da jogatina. Alguns chamam de “pandemia”; outros de “crise”. Chame-se como quiser: a jogatina digital, por meio da mistura tóxica entre publicidade irresponsável, apostas esportivas e cassinos online, invadiu o bolso de dezenas de milhões de brasileiros, notadamente os mais pobres. 

Como o BC expôs, 5 milhões do 54 milhões de beneficiários do Bolsa-Família deram dinheiro às bets em agosto. O estudo do BC jogou luz num problema de difícil exame. Ao contrário do que dizem o lobby da jogatina, a turma do centrão e até funcionários do governo, não há como saber com exatidão quantos brasileiros caíram na jogatina e qual o impacto desse hábito na renda deles. 

O presidente Lula já manifestou a interlocutores próximos sua preocupação com a jogatina. Deu ordem para que ministros ajudem numa solução. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sentiu o senso de urgência - a Secretaria de Prêmios e Apostas, área do governo que cuida das casas digitais de azar, fica sob responsabilidade dele. 

Para haver uma solução, contudo, é necessário ter uma compreensão clara do problema. E, mesmo entre as autoridades que começaram a perceber o tamanho da encrenca, falta um entendimento mais profundo sobre o mercado da jogatina digital. 

De ministros do Supremo a ministros do governo, passando pelo BC e os maiores bancos, ainda prevalece a ilusão de que é possível regulamentar as bets. Como o Bastidor mostrou, trata-se disso - de uma ilusão, vendida por anos pela indústria da jogatina, influenciadores, artistas, jogadores de futebol e políticos com interesses diretos no sucesso das bets. O slogan “jogo responsável” é um oxímoro.

Jogatina digital não se regulamenta. Combate-se. O problema, evidentemente, é que o Congresso aprovou uma lei que autorizou a baderna. E, após a inação do governo de Jair Bolsonaro, que favoreceu o crescimento desordenado das bets, o governo Lula regulamentou o setor, também em termos ainda favoráveis à jogatina. 

Há um limite para o que pode ser feito por meio de portarias da Fazenda. O governo federal tomará nos próximos dias medidas para endurecer a fiscalização e a concessão de licenças. Serão ações necessárias, mas insuficientes, caso o objetivo seja atacar a raiz do problema. 

Hoje, os brasileiros têm, na palma da mão, uma máquina de extração do dinheiro que eles têm - e do dinheiro que eles não têm. 

A extração começa pela publicidade de influenciadores, podcasters, jogadores e artistas nos aplicativos das redes sociais. Há também a publicidade em veículos tradicionais e nos esportes. A publicidade empurra milhões para as plataformas das bets, onde o cliente é depenado. 

Se Brasília vier a compreender a natureza e a extensão do problema, a solução adequada ficará mais nítida. De regulamentação a combate: é necessário proibir a jogatina digital, talvez por meio de medida liminar na ação no Supremo que questiona a constitucionalidade da lei da jogatina. O Congresso atual jamais agirá contra os interesses das casas de azar. Ao contrário: parlamentares, em sua maioria, querem acelerar e ampliar a jogatina. 

Ainda que o Supremo proíba apenas cassinos e roletas como tigrinhos, aviãozinhos e congêneres, será uma vitória.

É um jogo contra o tempo. E o tempo corre velozmente em favor das casas de azar.

Leia também:

A pandemia da jogatina

Haja dinheiro

As bets se antecipam

Solução para a jogatina

Lula acorda para as bets

Bets: AGU só fala no processo

Bets: Anatel discute o que fazer

O silêncio de Lira e Pacheco sobre as Bets

Bets: Ministério da Justiça em marcha lenta

Exclusivo

O hacker caiu

03/07/2025 às 23:33

Polícia Civil de São Paulo prende autor do roubo bilionário às contas reservas do Banco Central

Leia Mais
Exclusivo

A ofensiva petista nas redes

03/07/2025 às 18:46

Partido coloca no ar campanha com o mote pobres x ricos para expor o Congresso e a direita

Leia Mais

Governo propõe ressarcir aposentados roubados se puder fazer isso com dinheiro de fora do orçamento

Leia Mais

Empresa de telefonia pede nova blindagem contra credores para duas subsidiárias

Leia Mais

Falta de respostas claras sobre maior ataque hacker da história mina confiança no sistema bancário

Leia Mais

Juízes contestam Fernando Haddad sobre responsabilidade pelo aumento dos gastos com o programa

Leia Mais

Pesquisa mostra ceticismo de deputados com anistia e reprovação à estratégia de Bolsonaro

Leia Mais
Exclusivo

Ataque ao sistema financeiro

01/07/2025 às 23:06

PF investiga roubo digital sem precedentes por meio de invasão a empresas centrais do setor bancário

Leia Mais

Durou uma semana

01/07/2025 às 21:59

TRF1 suspende decisão que determinava a paralisação de exploração de madeira no Amapá

Leia Mais

TCDF manda notificar Secretaria da Educação por baixa qualidade da comida nas escolas

Leia Mais

IOF no Supremo

01/07/2025 às 13:00

AGU anuncia que Lula resolveu recorrer da decisão do Congresso de derrubar aumento de imposto

Leia Mais

Aneel permitiu que Enel reajuste tarifa em 13,47%, apesar de falhas no fornecimento no ano passado

Leia Mais
Exclusivo

Viagem secreta sob suspeita

01/07/2025 às 10:00

PF investiga ida de dois delegados federais da "PF paralela" para São Paulo após a eleição de 2022

Leia Mais

Delegados da investigação da Polícia Federal sobre roubo de aposentados são deslocados

Leia Mais

Pediu para sair

30/06/2025 às 13:00

PF concede aposentadoria a Alessandro Moretti, delegado indiciado no inquérito da 'Abin paralela'

Leia Mais