Esqueçam o que eu disse
Escolhido pelo presidente Lula para presidir a Petrobras, o senador Jean Paul Prates tem um histórico que não combina com a decisão do governo de retirar a empresa do Plano Nacional de Desestatização. Ele foi favorável à privatização e contra o monopólio na exploração e refino de petróleo.
A Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet) divulgou nota recentemente em que se mostra preocupada com a ascensão de Prates à presidência por estes motivos.
Antes da política, Prates trabalhou ativamente pela aprovação de leis que diminuíram o poder do monopólio da Petrobras, o que contraria a visão de boa parte dos sindicatos ligados à empresa. Chegou a declarar em 1997 que a privatização da companhia poderia ser realizada em apenas três anos.
"As opiniões e a atuação histórica do senador Jean Paul Prates (PT-RN) são contraditórias e incompatíveis com as políticas defendidas pela AEPET. Vamos acompanhar suas iniciativas como presidente da Petrobras", diz a associação.
O Bastidor mostrou nesta semana que existem óbices maiores. Prates é dono indiretamente de três empresas de consultoria que atuam no ramo da Petrobras.
Segundo a Aepet, o trabalho do senador com essas empresas era fazer lobby para grupos estrangeiros, como a Shell e a Gulf, que têm interesses no mercado brasileiro, mas atuam de forma discreta, dado o monopólio da Petrobras. No período em que estava na iniciativa privada, Prates fez diversas críticas à legislação brasileira, que beneficia a estatal em detrimento do capital estrangeiro.
Desde a eleição de Lula, à qual a Aepet apoiou, a entidade vem relembrando posicionamentos de Prates nas últimas três décadas, que contradizem a campanha petista. Entre eles está a paridade internacional de preços dos combustíveis, à qual ele se disse favorável em 2004.
Prates chegou ao Congresso ao assumir o mandato da senadora Fátima Bezerra, eleita governadora do Rio Grande do Norte em 2018. Destacou-se como prolífico autor de pedidos de impeachment contra Jair Bolsonaro: chegou a apresentar dois pedidos diferentes no mesmo dia.
Apesar dos problemas o caminho de Prates para assumir a Petrobras está cada vez mais curto. Nesta quarta-feira (4), a companhia divulgou fato relevante, em que informa o pedido de desligamento do atual presidente, Caio Paes de Andrade. Para o lugar dele, foi indicado interinamente o nome de João Henrique Rittershaussen, atual Gerente Executivo de Sistemas de Superfície, Refino, Gás e Energia.
Para que Prates assuma o posto na Petrobras, será preciso a aprovação do conselho de administração da companhia. O procedimento é apenas formal, já que nunca houve rejeição ao nome indicado pelo governo federal, principal acionista da empresa.
O Bastidor entrou em contato com Jean Paul Prates sobre as reclamações feitas pela Aepet. Até a última atualização deste texto, o senador ainda não havia respondido.
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