A democracia segue relativa
Faz pouco mais de um ano que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi alvo de críticas por afirmar que a "democracia é relativa", ao defender, em uma entrevista para a Rádio Gaúcha, de Porto Alegre, o governo de Nicolás Maduro. Nesta terça-feira (30), ele voltou a falar do tema, dois dias depois das eleições sob acusações de fraude na Venezuela e decidiu amenizar o tom com relação ao colega venezuelano.
Desta vez, Lula afirmou, em entrevista à Rede Globo, que todo o processo ocorreu dentro da normalidade, mas afirmou esperar que o governo de Maduro divulgue as atas das urnas, o equivalente aos boletins divulgados pela Justiça Eleitoral no Brasil. A oposição afirma que esses documentos comprovariam que o ditador venezuelano saiu derrotado e que a vitória foi conquistada por Edmundo González.
Até agora, nem os opositores e muito menos Maduro apresentaram publicamente as tais atas. Portanto, é impossível saber com certeza qual dos lados fala a verdade, embora sejam fortes os indícios de que os órgãos oficiais, todos comandados pelo presidente, possam ter fraudado o resultado. Os documentos deveriam ser divulgados pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE), que reluta em apresentá-los.
Para Lula, caso os documentos apontem divergência entre os resultados oficiais, a oposição deverá entrar com um processo judicial, pedindo a revisão da contagem. O petista diz acreditar que o Judiciário venezuelano, também controlado pelo governo, poderia dar uma decisão que contrarie Maduro e ameace a permanência dele no cargo. Isso não acontecerá.
"É normal que tenha uma briga. Como resolve essa briga? Apresenta a ata. Se a ata tiver dúvida entre a oposição e a situação, a oposição entra com um recurso e vai esperar na Justiça o processo. E vai ter uma decisão, que a gente tem que acatar. Eu estou convencido que é um processo normal, tranquilo", disse Lula.
O presidente brasileiro tem relutado, desde que disputava as eleições, em 2022, em classificar Maduro como ditador. Chegou a receber o venezuelano em Brasília, com honras de chefe de estado, dispensadas normalmente a pouquíssimas autoridades. Em discurso ao lado do chavista, disse que o presidente da Venezuela era vítima de narrativas.
Embora não tenha dito com todas as letras, na prática, a posição de Lula parafraseia a nota do PT, que reconhece o resultado na Venezuela e joga para o Judiciário a resolução de eventuais discordâncias entre os candidatos. O presidente acaba também contrariando o posicionamento do Itamaraty, que tem sido cauteloso em dizer que Maduro é o vencedor das eleições venezuelanas.
Durante a tarde, Lula recebeu uma ligação do presidente estadunidense Joe Biden. De saída do cargo, o democrata elogiou a liderança do Brasil na tentativa de resolver o conflito na Venezuela, mas ambos concordaram que o reconhecimento do resultado só pode ser feito depois da divulgação das atas.
O governo brasileiro se tornou o fiador das eleições venezuelanas depois que o assessor especial de Lula, Celso Amorim, decidiu ir ao país vizinho para acompanhar o pleito. Nada do que sucedeu a votação era inesperado. Já se sabia que Maduro seria acusado de fraude e que faria de tudo para não deixar o cargo. Apenas Amorim e Lula ignoraram os alertas e se deixaram embarcar nessa enrascada.
Nas ruas da Venezuela, protestos já deixaram 11 pessoas mortas. Ao menos, essa era a contagem até o fechamento desta reportagem. Maduro ameaçou prender o candidato opositor, González, e a líder da coalizão, María Corina Machado. O presidente da Venezuela também ameaçou invadir a embaixada da Argentina, algo que a negociação de Amorim conseguiu impedir.
A medida contra os argentinos não foi isolada. Maduro determinou a expulsão dos embaixadores de vários países que se recusaram a reconhecer os resultados. Ele só não está completamente isolado porque recebeu o apoio de autocracias, como a Rússia, China, Cuba e países liderados pela esquerda mais estridente, como a Bolívia.
Esquerdistas mais moderados têm se segurado para dar suporte a Maduro. O presidente do Chile, Gabriel Boric, por exemplo, foi duro e disse que é difícil acreditar nos resultados divulgados por Maduro.
No Brasil, até partidos da extrema-esquerda não deram suporte ao ditador venezuelano. O PSTU, conhecido pela forte atuação em sindicatos e outros movimentos sociais, tem divulgado notícias que criticam Maduro. A nota do PT também rachou o partido. Nomes históricos da legenda como Tarso Genro e o senador Paulo Paim, ambos do Rio Grande do Sul, criticaram a situação na Venezuela.
Comerciantes afirmam que Adiq e InovePay não repassaram R$ 450 milhões em vendas
Leia MaisLula deixa Juscelino Filho controlar verbas do setor de Comunicações porque não confia na Anatel
Leia MaisMaría Corina Machado, líder da oposição na Venezuela, é presa na véspera da posse de Maduro
Leia MaisJuíza decide arquivar inquérito contra o cantor Gusttavo Lima por lavagem de dinheiro em bets
Leia MaisVítimas de esquema acusam empresa de usar advogado para ocultar bens e dificultar pagamentos
Leia MaisNa disputa com a J&F pela Eldorado, Paper recorre a arbitragem na Câmara de Comércio Internacional
Leia MaisApós 25 anos, Gilmar Mendes homologa acordo entre Cade e Gerdau por prática de cartel
Leia MaisFalta de autoridades e de povo reduz cerimônia do 8 de janeiro a discurso de Lula
Leia MaisEm nova manobra protelatória, empresa pediu para afastar desembargador do caso - mas perdeu
Leia MaisMPF de São Paulo pede que Meta explique a decisão de encerrar serviço de checagem de fatos
Leia MaisSetor de energia eólica espera para dia 10 vetos de Lula sobre jabutis do PL de exploração offshore
Leia MaisDesembargador aceita pedido de Carlos Suarez e barra compra de termelétricas pela Âmbar, da J&F
Leia MaisPerda de verba dos Transportes deixa bancada do Pará na Câmara insatisfeita com Lula
Leia MaisDecisão de plantão judicial em favor da J&F completa um ano no dia 23 sem análise de Nancy Andrighi
Leia MaisChegada de marqueteiro à Secom abrirá espaço para primeira-dama influenciar na pasta
Leia Mais