Deu PT no PT

Redação
Publicada em 30/07/2024 às 12:07
Gleisi tem dificultado o diálogo com apoiadores de Lula e com setores mais moderados do centro e da direita Foto: Rafaela Araújo/Folhapress

O Partido dos Trabalhadores amanheceu nesta terça-feira com uma enxurrada de críticas nas redes sociais. O motivo foi uma nota divulgada pela legenda em que apoia a recondução de Nicolás Maduro ao cargo de presidente da Venezuela. O posicionamento também colocou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em uma enrascada.

A nota do PT atribui os problemas que a Venezuela vive a "sanções ilegais". O discurso é o mesmo usado por Maduro para justificar a permanência dele no poder, apesar da crise econômica que assola o país vive. O partido ainda parabenizou o ditador venezuelano pela vitória nas urnas e disse esperar que ele "continue o diálogo com a oposição".

Um dos problemas da nota é que Maduro faz exatamente o oposto. Em vez de conversar com opositores, o presidente da Venezuela esmaga quem não concorda com a manutenção dele no cargo, cria dificuldades para que outros partidos e forças políticas possam existir e, quando há eleições, faz de tudo para sair vitorioso, seja com denúncias de fraude ou não.

O texto assinado pela Executiva Nacional do PT também prejudica o presidente ao forçá-lo a se posicionar diante do fiasco eleitoral venezuelano. Até agora, o governo tem evitado manifestações e divulgou apenas uma nota em que diz esperar pelo acesso aos boletins de urna, antes de definir se apoia ou não a recondução de Maduro.

O envio de Celso Amorim para acompanhar o processo eleitoral no país vizinho, como mostrou o Bastidor, revelou-se um grave erro de cálculo da política externa brasileira. Na noite de segunda-feira, o Itamaraty divulgou um alerta à comunidade de brasileiros que estão na Venezuela para que se mantenham informados sobre a crise local e possam pedir ajuda na embaixada e nos consulados, caso necessário.

Os partidos que compõem a Federação Brasil da Esperança, ao lado do PT, se posicionaram oficialmente de modo distinto. O PCdoB divulgou uma nota ainda mais elogiosa a Maduro e ao chavismo do que a do PT, ignorando completamente as denúncias de fraude. Já o PV usou o X, antigo Twitter, apenas para desejar sorte ao povo venezuelano.

"Já é um inegável legado dos governos Chávez e Maduro o estímulo à participação popular e a organização de eleições de modo periódico, regular e sempre com um chamado à participação da cidadania", afirmou o PCdoB, dizendo que venceram a democracia e a vontade popular.

Enquanto isso, o presidente do PSB, Carlos Siqueira, afirmou nas redes sociais que o partido "condena as violações dos direitos humanos e democráticos perpetradas pelo regime chavista. Consideramos esse regime uma ditadura e, como tal, sabíamos que ele não realizaria uma eleição livre, transparente e democrática". O partido é o mesmo do vice-presidente Geraldo Alckmin.

Nem mesmo partidos da extrema-esquerda como o PSTU e o PCO ousaram apoiar Maduro até o momento. Nas páginas oficiais do PSTU há postagens com críticas ao ditador venezuelano, enquanto o PCO segue em silêncio.

O PSOL, que recentemente recebeu o apoio do PT para a candidatura do deputado Guilherme Boulos à Prefeitura de São Paulo, também permanece em silêncio diante do resultado das eleições venezuelanas.

A postura do PT em relação à Venezuela tem sido liderada pela presidente do partido, Gleisi Hoffmann. A deputada federal pelo Paraná tem forçado a legenda a seguir um rumo ainda mais combativo, por vezes afastando aliados, mesmo em um momento em que o governo tem dificuldade para lidar com o Congresso Nacional e com várias entidades, como sindicatos e outras entidades de classe.

Um exemplo claro está nas sucessivas greves do setor público, no qual o governo não consegue dialogar para debelar os movimentos. Embora seja apoiado por esses sindicatos, o partido não consegue ajudar a convencer os sindicatos a parar com os movimentos grevistas. Em vez disso, indiretamente, até os incentiva.

Gleisi está longe de ser unanimidade dentro do PT. O prefeito de Araraquara, Edinho Silva, é o mais cotado para assumir o comando do partido, pois é o preferido de Lula para o cargo. A atual presidente defende que o sucessor deveria ser alguém do Nordeste, região que ajudou a eleger o presidente da República.

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