Rendimento suspeito

Karen Couto
Publicada em 28/08/2024 às 18:00
Esquema criminoso movimentou cerca de 7,5 bilhões de reais Foto: Ascom/RF

A Operação Concierge, deflagrada nesta quarta (28) pela Polícia Federal, revelou que o Banco Rendimento está entre os bancos tradicionais envolvidos em um esquema de lavagem de dinheiro e fraude financeira, que pode ter beneficiado o Primeiro Comando da Capital (PCC). O esquema movimentou cerca de 7,5 bilhões de reais.

As investigações apontam que o esquema operava por meio de duas fintechs (bancos digitais) que atuavam sem autorização do Banco Central: T10 Bank e Inovepay. O T10 Bank tinha parceria com o Banco Rendimento. O Bastidor revelou que Patrick Burnett, presidente da Inovepay e membro do grupo Lide, liderado por João Doria, foi preso esta manhã.

Não é a primeira vez que o Banco Rendimento é alvo da Polícia Federal. Durante a operação Lava Jato, o nome da instituição foi mencionado na delação do "doleiro dos doleiros", Dario Messer. Ele afirmou que o Rendimento comprava reais no Banco Basa, no Paraguai, para operações de lavagem de dinheiro.

O Basa está relacionado ao ex-presidente paraguaio Horacio Cartes, acusado de ser um dos maiores produtores de cigarros contrabandeados para o Brasil. Dario Messer foi condenado a 13 anos e 4 meses de prisão em regime fechado em agosto de 2020.

Sem autorização do Banco Central para atuar como financeiras, essas fintechs contratavam serviços de outros bancos utilizando o modelo conhecido como "banking as a service" (BaaS).

Elas ofereciam contas clandestinas, que permitiam transações financeiras ocultas dentro do sistema bancário oficial. As contas nas fintechs eram usadas por facções criminosas e empresas com dívidas trabalhistas e tributárias, entre outros fins ilegais. Segundo a PF, um dos clientes tem um débito de R$ 254 milhões na Dívida Ativa da União.

A Polícia Federal afirma que essas contas funcionavam como "contas bolsões", sem conexão visível entre quem enviava e recebia o dinheiro, e sem relação com os bancos que as hospedavam. Os clientes das fintechs faziam transações por aplicativos dentro dessas contas, mas a movimentação aparecia para os bancos oficiais apenas em nome das fintechs.

Além disso, máquinas de cartão de crédito em nome de empresas de fachada eram usadas para pagamentos ocultos, o que facilitava a lavagem de dinheiro. Segundo a Receita Federal, entre 2020 e 2023 as duas fintechs movimentaram 3,5 bilhões de reais a crédito.

Na operação desta quarta-feira, foram cumpridos 10 mandados de prisão preventiva, 7 de prisão temporária e 60 mandados de busca e apreensão nos estados de São Paulo e Minas Gerais. 

Além das prisões, a Justiça suspendeu as atividades de 194 empresas relacionadas à organização criminosa, além de suspender a atuação de dois advogados junto à OAB (um em Campinas e outro em Sorocaba) e o registro de quatro contadores (dois em Campinas, um em São Paulo e um em Osasco). Foi determinado também o bloqueio de R$ 850 milhões em contas ligadas à organização.

Ao Bastidor, o Banco Rendimento afirmou que não presta mais serviços ao T10 Bank e que está colaborando com as investigações. 

Leia a íntegra da nota:

“O Banco Rendimento segue as regulamentações do Banco Central e de órgãos competentes, medidas que foram aplicadas desde o início da relação com o T10 Bank, onde todas as avaliações recomendadas foram executadas. No momento da operação, o Banco Rendimento já não prestava mais os serviços investigados para o T10 Bank. A Inovepay nunca foi cliente do Banco Rendimento. O banco continua colaborando com as autoridades.”

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