Perdeu, Occhi
A Caixa deve lançar nos próximos dias uma nova consulta pública para escolher uma empresa que gerencie a carteira de microcrédito do banco - um negócio estimado em meio bilhão de reais. A decisão interrompe a controvérsia causada pelo avanço da empresa Cactvs no primeiro processo interno de escolha. Apoiada por Gilberto Occhi, ex-presidente da Caixa e homem de confiança do PP, a Cactvs chegou perto de fechar negócio. Parou na governança da Caixa.
O fundador da Cactvs, Fernando Passos, já foi acusado de manipulação de mercado e respondeu por suspeita de burlar documentos do Banco do Brasil. Procuradores nos Estados Unidos o denunciaram por fraudes de valores mobiliários.
Segundo fontes a par das tratativas, a nova consulta pública conciliará uma governança rigorosa com mais incentivos para que outras empresas e entidades se apresentem. Elas ressaltam, contudo, que a Cactvs deve se habilitar novamente. Não descartam que ela ganhe.
O avanço da Cactvs no primeiro processo levou o Ministério Público junto ao TCU (Tribunal de Contas da União) a pedir que o órgão de controle suspendesse as negociações, que já estavam avançadas.
Como mostrou o Bastidor em agosto, fontes da Caixa afirmaram que a Cactvs chegou a usar o nome do fundo Mubadala, um dos mais ricos do planeta, para facilitar o negócio com o banco público. Seria uma espécie de sócio e fiador da empresa de Fernando Passos no contrato com o banco público.
Ao Bastidor, à época, o fundo foi categórico: afirmou oficialmente que “não tem nenhuma relação com essa empresa, a Cactvs, ou com a negociação em questão”. Em mais de uma oportunidade, negou qualquer tipo de associação.
Gilberto Occhi participou das discussões como representante da Cactvs. Occhi é próximo do deputado Aguinaldo Ribeiro, do PP da Paraíba.
A expansão da oferta de microcrédito é uma das apostas do governo Lula para a economia. Envolve diferentes ministérios. Por isso, o esforço para que a Caixa entre forte no setor.
O banco público se inspirou no modelo adotado no Banco do Nordeste, o BNB. O modelo é voltado para empreendedores individuais ou reunidos em grupos solidários, que atuam tanto no setor informal quanto no formal. O BNB é velho conhecido da Cactvs.
Em 2021, a empresa fundada por Fernando Passos, mas que hoje pertence formalmente à sua esposa, foi escolhida pelo BNB justamente para operar uma carteira bilionária de microcrédito.
O BNB, contudo, decidiu cancelar o contrato após a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) concluir um processo administrativo em que acusou o fundador da Cactvs de manipulação de mercado quando ele dirigia o IRB Brasil, a maior empresa de resseguros do país.
Antes do IRB, Fernando Passos e sua esposa e sócia, Kelvia Carneiro de Linhares Fernandes Passos, fizeram carreira no BNB, onde mantinham influência. A ligação com o Banco do Nordeste é considerada importante pela experiência com microcrédito.
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