Os atropelos na Vale

Alisson Matos
Publicada em 27/08/2024 às 14:23
Embora não fosse consenso, Pimenta sempre foi considerado um dos favoritos. Foto: Reprodução/redes sociais

Chegou ao fim o processo de escolha do novo presidente da Vale após atropelos na governança da empresa, influências externas, renúncia de conselheiro, desrespeito ao cronograma estabelecido para a sucessão, idas e vindas nas articulações e composição em torno de um nome que, embora não fosse consenso, sempre foi considerado um dos favoritos.

Gustavo Pimenta, vice-presidente financeiro da mineradora, foi unanimidade entre os conselheiros de Administração para substituir Eduardo Bartolomeo como CEO. Recebeu votos de grupos distintos que, ao longo do processo, buscaram condicionar a disputa aos próprios interesses.

O nome do executivo não constava na lista formulada pela empresa de headhunter Russel Reynolds, contratada para auxiliar no processo, mas nunca deixou de ser uma possibilidade, como publicou o Bastidor.

O acordo estabelecia uma seleção prévia de nomes, por parte da consultoria, que se afunilaria em três opções. A partir de setembro, o conselho de Administração da Vale iniciaria a análise para a escolha. O processo de sucessão iria até dezembro com a transição para o novo CEO prevista para até março de 2025.

A opção por Pimenta antecipa o cronograma. Ainda não está claro quando exatamente o executivo assume de vez o comando da Vale. Perguntada, a empresa não respondeu sobre uma data, mas o cronograma que até agora foi desrespeitado fala em 1º de janeiro de 2025.

O que se sabe, por ora, é que Pimenta foi capaz de unir um conselho que sempre esteve dividido na disputa. Dois atores representam bem a cisão. Um é o empresário Rubens Ometto, dono da Cosan, acionista da Vale. Um dos seus homens de confiança, Luís Henrique Guimarães, faz parte do conselho de Administração - inclusive, foi um dos cotados para assumir o comando da empresa logo que começou a fritura de Bartolomeo.

O Bastidor noticiou em janeiro que o empresário articulava para ter Guimarães como CEO. A possibilidade surgiu diante da dificuldade do governo Lula de emplacar o ex-ministro Guido Mantega no cargo. Ometto contava, desde então, com a colaboração do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.

A contratação da Russel Reynolds, segundo fontes a par das negociações, foi feita para impedir a contratação de Guimarães e de qualquer outro indicado nos mesmos moldes.

A fritura do atual CEO, Eduardo Bartolomeo, começou antes e veio do Palácio do Planalto. Lula queria maiores investimentos da Vale em projetos de infraestrutura de interesse do governo. Para isso, precisaria de um nome alinhado à sua gestão no comando da empresa. As reações internas na Vale e no mercado derrubaram a insistência em Mantega.

Diante da pressão do governo e de Ometto, o conselho de Administração da Vale se dividiu na análise de uma renovação ou não do mandato de Bartolomeo. Em uma das votações, houve empate de 6 a 6 após abstenção de Guimarães.

Posteriormente, definiu-se pela extensão do mandato de Bartolomeo, com dois compromissos: a saída do CEO em dezembro e a contratação de uma consultoria para auxiliar no processo de sucessão.

Apesar dos acertos, não faltaram turbulências. O Bastidor noticiou que, em um determinado momento, Ometto e Silveira, com o auxílio do empresário Lucas Kallas, passaram a atuar em favor de Pimenta. O arranjo previa ainda que Luiz Henrique Guimarães assumisse a Vice-Presidência de Minério de Ferro.

A articulação sempre contou com a oposição de conselheiros ligados ao governo, como um dos representantes da Previ e dos trabalhadores.

A resistência, como também mostrou o Bastidor, fez surgir a opção por Marcello Spinelli, vice-presidente executivo de Soluções de Minério de Ferro da Vale, que contou com a anuência de Ometto e Silveira.

O lançamento do nome de Spinelli não pegou bem entre alguns conselheiros de Administração. Havia um acerto de que, internamente, o único membro da Vale na disputa seria Pimenta.

As negociações intensificaram-se em agosto. Na semana retrasada, conselheiros visitaram negócios da Vale na América do Norte. Lá trataram informalmente da sucessão. Na volta, alguns tiveram conversas com o presidente Lula. Já havia uma maioria formada por Pimenta. Mas era preciso convencer o petista de que um eventual veto ao nome do executivo poderia terminar em derrota para o governo.

Lula assentiu. Entendeu que não poderia fechar uma porta de diálogo com alguém que quer manter uma boa relação. Já Ometto, diante da pressão que exerceu sobre conselheiros, pode ter problemas em seu plano de crescer da Vale.

Alguns nomes, como o de Dario Durigan, secretário-executivo do Ministério da Fazenda, foram ventilados e prontamente descartados. Murilo Ferreira, ex-presidente da Vale, também chegou a se movimentar, mas sem sucesso.

Nesse período, José Luciano Duarte Penido renunciou ao conselho de Administração da Vale após afirmar que “o processo sucessório vem sendo conduzido de forma manipulada, não atende ao melhor interesse da empresa, e sofre evidente e nefasta influência política”. Disse ainda que “no conselho, se formou uma maioria cimentada por interesses específicos de alguns acionistas lá representados, por alguns com agendas bastante pessoais e por outros com evidentes conflitos de interesse”.

A reunião da última segunda-feira (26), que escolheu Pimenta, foi mantida sob sigilo. Os conselheiros que participaram tiveram os celulares confiscados, para que não houvesse vazamento. Havia a convicção de que era preciso antecipar o fim do processo diante das especulações que se avolumavam.

O mercado foi informado por volta das 22h20. A definição fez as ações da Vale subirem nesta terça-feira (27).

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