Sem dados e sem direção: Brasil enfrenta pandemia às cegas

Samuel Nunes
Publicada em 18/01/2022 às 17:45
Problema começou com Eduardo Pazuello e segue na gestão de Queiroga Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Especialistas na área de epidemiologia estão há dois anos com dificuldades para mapear adequadamente o avanço da pandemia no Brasil. A falta de dados consistentes no Ministério da Saúde e a inexistência de comunicação entre os estados dificulta o combate ao coronavírus.

Os problemas, segundo as fontes consultadas pelo Bastidor, começaram muito antes do ataque hacker, em dezembro de 2021, que ainda causa instabilidades nos servidores da pasta. As dificuldades vêm desde a entrada de Eduardo Pazuello no comando do Ministério da Saúde. Na gestão do general, os dados passaram a ser pouco confiáveis, levando a interpretações que podem destoar da realidade.

Gonzalo Vecina Neto, professor da faculdade de Saúde Pública da USP e ex-diretor da Anvisa, diz que a situação é inédita para os pesquisadores. Ele afirma que a atual administração interrompeu serviços que ajudavam no monitoramento adequado de doenças. “Isso já existiu e se perdeu. Se perdeu porque o próprio ministério tem um desprezo muito grande pelos dados”, diz.

Nesse vácuo de informações, cálculos matemáticos que poderiam indicar como a doença está avançando ou regredindo deixaram de se aproximar da realidade. “Os bons serviços que faziam essas extrapolações, continuam fazendo. Quando você tem um apagão de dados e faz essas extrapolações, você faz uma aposta", explica Vecina.

No caderninho

Desde que surgiram as primeiras suspeitas de dados maquiados, algumas iniciativas tentaram mapear o rumo da pandemia. Sem a unificação de dados no Ministério da Saúde, todas precisaram pesquisar localmente os números. Porém, para os especialistas, esses levantamentos carecem de precisão. Nem sempre são realizados por pessoas com conhecimento técnico na área de saúde.

Um dos exemplos citados é o consórcio de veículos de imprensa, que reúne a Rede Globo, Estadão, Folha e Uol. Diariamente, jornalistas desses veículos entram em contato com as secretarias de saúde, para saber o avanço da pandemia. Em quase dois anos da iniciativa, os números apresentados pelas empresas de comunicação nunca foram iguais aos divulgados pelo Ministério da Saúde - sempre houve pequenas divergências.

“Tem fragilidades importantes, tanto por falhas, quanto na divulgação dos veículos. Quase todos os dias tem um estado faltando. Se em um dos dias falta São Paulo, Minas Gerais ou Rio de Janeiro, isso compromete toda a análise”, diz o vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Cláudio Maierovitch, sobre o consórcio.

O mesmo acontece com o grupo Coronavírus BR, que reúne jornalistas e programadores, que diariamente atualizam os dados da pandemia e divulgam os números em um site e em um bot, no Telegram. O grupo também precisa procurar em diversos bancos de dados as informações que irá divulgar, em vez de analisar apenas uma central de conteúdos oficial.

Ocupação incerta nos hospitais

Alguns dados, como a ocupação de leitos dedicados à covid-19, não podem ser encontrados no site do Ministério da Saúde. Quem quiser saber a lotação dos hospitais precisa entrar em contato diretamente com as secretarias de saúde, para entender o panorama local.

Maierovitch, que também foi diretor da Anvisa, considera inaceitável que a pasta não consiga reunir essas informações. “O que mais chama a atenção nem é dizer que essas informações não estão disponíveis, embora seja grave, mas saber que o próprio Ministério da Saúde não tenha essas informações”, avalia.

Para produzir o boletim que analisa a ocupação dos leitos de UTI, a pesquisadora Margareth Portela, da Fiocruz, entra em contato com todas as secretarias de saúde semanalmente.

Entre as dificuldades para analisar o perfil das internações está a mudança constante no número de leitos dedicados à Covid-19. No auge da pandemia, por exemplo, havia mais vagas disponíveis. Agora, com o arrefecimento das internações, os espaços foram fechados ou repassados para outras áreas.

Com isso, a porcentagem de ocupação de leitos deixa de ser um número preciso para indicar a gravidade ou não da pandemia nos estados. É possível, por exemplo, que um local que teve 500 leitos de UTI ocupados no auge da pandemia tenha atualmente apenas 50. Sendo assim, ter 100% de ocupação não significa, necessariamente, uma situação descontrolada, já que as antigas vagas poderiam ser reabertas.

Maierovitch destaca que esse tipo de inconsistência compromete as tomadas de decisões dentro do Ministério da Saúde. “Como se enfrenta uma pandemia sem informações sem saber os números de casos, se aumentam as internações? Há um conjunto grande de dados cujo conhecimento é essencial para a tomada de decisões. As decisões são tomadas no escuro, com base em pressões.”

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