Lula sem forças
Dois aliados próximos de Lula disseram ao Bastidor, reservadamente, estarem preocupados com o impacto da saúde do presidente na articulação política do governo e até na possível candidatura do petista à reeleição, em 2026. Eles acreditam que falta a Lula disposição e vigor, tanto físico quanto mental, para enfrentar o trabalho pesado da política em Brasília.
Ambos ocupam posições de destaque no governo e convivem com Lula. Um deles é amigo do presidente. São pessoas que se importam com o estado de saúde do petista - e não aliados de ocasião, propensos a fofocas e maledicências típicas da capital.
Lula completou 79 anos na semana passada, sofreu um acidente doméstico comum a pessoas mais velhas e, na visão desses aliados, começa a apresentar sinais mais fortes de que a idade o incomoda. Eles ressaltam não enxergar dificuldades de Lula para decidir ou tocar questões cotidianas do governo. O problema é ter disposição e disponibilidade para fazer política; fazer política requer muita conversa, muita articulação - muita energia e vontade para ouvir todo tipo de gente.
Eles apontam como preocupante a atitude de Lula na sucessão dos comandos da Câmara e do Senado. Ainda no ano passado, ao indicar que não enfrentaria Arthur Lira nem se esforçaria para construir uma candidatura governista no Senado, Lula sinalizou que sua base, sobretudo o PT, deveria se virar. Sem uma orientação firme de Lula, os líderes do PT ficaram à vontade para se articular com as candidaturas organizadas pelo centrão - ou para serem por elas cooptados.
Lula não se ausentou por completo. Apesar da força de Arthur Lira, o veto do presidente à candidatura do deputado Elmar Nascimento, do União Brasil, foi decisivo no processo de sucessão. Até aqui, parecia simples estratégia: deixar a candidatura de Elmar morrer por inanição política, enquanto se construísse uma alternativa alinhada, antes de tudo, ao governo.
Lula, porém, não trabalhou por isso. Nem orientou seus articuladores a construírem uma candidatura com essas características: um nome do governo que pudesse ser apoiado por parte do centrão ou, se isso não fosse possível, um nome do centrão que pudesse ser apoiado pelo governo. Se no Senado a candidatura de Davi Alcolumbre era, ou é, quase inevitável, o cenário na Câmara não era tão nítido. Ao contrário.
Lira abandonou Elmar, seu favorito por dois anos, e se aliou a Ciro Nogueira na montagem de uma candidatura de interesse deles. Assim nasceu, em parte, o projeto Hugo Motta: no vácuo da ausência de articulação de Lula. O criador de Motta é Ciro. Ciro não apenas foi ministro de Bolsonaro como provavelmente apoiará a candidatura alternativa a Lula em 2026 - seja Tarcísio, seja Bolsonaro, caso caia a inelegibilidade dele, seja outro nome apoiado pela direita e pela parte do centrão que tende a andar com ela.
Aliados de Lula esperavam que a articulação de uma outra candidatura viria por Gilberto Kassab, com quem o presidente e a esquerda se dão bem. Isso não ocorreu, apesar da tentativa de Antonio Brito, do PSD, de se viabilizar. Como não aconteceu, agora parece tarde. E é a esse cenário ruim para o governo que aliados próximos a Lula atribuem à fragilidade do presidente - não a mero cálculo político.
Se quisesse articular uma candidatura favorável ao governo, Lula poderia ter trabalhado para isso, junto a Kassab e Marcos Pereira, do Republicanos. Havia fissuras suficientes no centrão para uma articulação com chances de sucesso, ainda que o vencedor mantivesse o poder de distribuição das emendas, como estabeleceu Lira. "Lula não teve forças", diz um desses aliados próximos.
A sequência de fatos na sucessão demonstra o quanto o PT depende de Lula para marchar junto. O apoio do PT a Hugo Motta saiu rápido, logo no início da candidatura dele. O acordo com Arthur Lira foi negociado pela presidente do partido, Gleisi Hoffmann, com a ajuda dos líderes Odair Cunha e José Guimarães – dois parlamentares amplamente favoráveis a Lira. O PT ganhou uma vaga no TCU e a Primeira Secretaria da Câmara. Só parece um preço justo para quem está na planície. É como se o PT não fosse o partido do presidente da República.
Um dos aliados de Lula acredita que o apoio a Motta é um erro. A ascensão do deputado à Presidência da Câmara pode significar, segundo ele, o “começo do fim do governo Lula”.
Segundo os dois aliados, Lula precisaria fazer muita política para preparar sua candidatura à reeleição. Abdicar da Presidência da Câmara - e do Senado - é perder poder que será, ou seria, necessário para o sucesso da agenda do governo e para maiores chances de alianças fortes em 2026. A participação pequena de Lula - para os padrões dele - nas eleições municipais, assim como os resultados fracos, também prejudica o projeto de reeleição.
Para os aliados, Lula não está apenas frágil física e mentalmente. Está "exausto" de tentar criar líderes e de resolver as crises perenes da esquerda. Delega, mas não vê resultados. Não reconhece a realidade política da capital que governou em outras duas oportunidades, em contextos distintos.
Faltam três meses para a eleição da Câmara, no início de fevereiro do ano que vem. Brito, do PSD de Gilberto Kassab, segue candidato. Lula poderia mudar de lado até lá, caso Kassab sustente a candidatura do deputado? Os aliados duvidam que Brito, ou uma reviravolta, sejam viáveis. E duvidam que Lula tenha ímpeto para uma virada. Como diz um desses interlocutores, Lula prefere ver um amistoso dos juvenis do Corinthians a conversar com deputados do centrão.
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