Caso Covaxin ameaça novo eixo de poder em Brasília

Diego Escosteguy
Publicada em 27/06/2021 às 06:00
Foto: Agif/Folhapress

É tectônico o impacto político do caso Covaxin. O avançar galopante do escândalo provoca, pela primeira vez, fissuras no novo centro de poder em Brasília. Trata-se do grupo formado por meio da aliança entre a família Bolsonaro e líderes do PP.

O principal expoente desse núcleo é o senador Flávio Bolsonaro, grande articulador político da família. Atuam ao lado dele dois notórios advogados: Frederick Wassef e Willer Tomaz.

Willer transita entre os dois grupos. É conselheiro de Arthur Lira. Está para o presidente da Câmara como Wassef está para Flávio e Jair Bolsonaro.

Embora esteja formalmente no Patriota, Flávio é do PP. Articula e conversa como se do partido fosse. Além de Lira, Ciro Nogueira e Ricardo Barros compõem a liderança do grupo. Há outros quadros.

Esses chefes políticos e conselheiros perfazem o novo eixo de poder na capital. Indicam - ou aprovam indicações - a cargos estratégicos no governo, no Congresso e no Judiciário. Também abrem ou fecham portas no governo e em estatais.

A implicação de Ricardo Barros, líder do governo na Câmara, no caso Covaxin é a primeira pancada sofrida, de fato, por esse grupo. Barros tem influência no setor de Saúde - mas está longe de deter o monopólio do prestígio junto a diretores graúdos do governo. Ele e Lira não se dão bem.

Wassef não estava à tôa na sessão de sexta da CPI da Pandemia. Também não foi fortuita a fala de Flávio Bolsonaro. O senador se manifestou para defender tanto Wassef quanto Willer. Disse que o sigilo de Willer fora quebrado pela CPI, numa tentativa de chegar a ele, Flávio.

Embora o governo não tenha pago a invoice de US$ 45 milhões à offshore de Cingapura, o contrato de US$ 300 milhões entre o Ministério da Saúde e a Precisa Medicamentos apresenta uma oportunidade para a CPI, como a cúpula da comissão bem sabe.

As circunstâncias atípicas e possivelmente ilegais da negociação e execução do contrato apenas começaram a ser expostas. Pela primeira vez, há um escrutínio que permite vislumbrar como é o modo de fazer negócios no governo Bolsonaro.

Graças à omissão da Procuradoria-Geral da República e ao ambiente judicial desfavorável à qualquer investigação contra autoridades, cabe apenas à CPI e à imprensa, como nos tempos pré-mensalão, fazer perguntas incômodas acerca daqueles que detêm, hoje, poder em Brasília.

O caso Covaxin conduz a essas perguntas. Afinal, quem abriu ao lobista Francisco Maximiano, o Max da Precisa, as portas dos principais gabinetes da capital, de modo que ele conseguisse fechar o contrato? De onde, exatamente, partiu a pressão que chegou até servidores como Luis Ricardo Miranda? Algo foi prometido aos intermediários? Houve ameaças a quem não obedecesse às ordens?

Compreender qual é o novo eixo de poder em Brasília e qual o método de atuação dele revela-se fundamental para entender que estamos longe de pedidos viáveis de impeachment ou de queda do presidente.

Está sob ameaça o grupo que, a um só tempo, depende do governo Bolsonaro e o alicerça. Está sob ameaça, portanto, o projeto de reeleição do presidente. Quanto mais fraco o PP estiver, mais fraco, em tese, estará Bolsonaro.

Pela natureza do próprio caso Covaxin, é uma encrenca que precisa arrasar o Congresso antes de subir a rampa do Planalto. O desgaste severo ao governo é óbvio, inevitável e imediato.

Ainda é incerto, porém, se a crise arrombará o Planalto. É o tipo de escândalo que, se adentra a Presidência, dela não sai sozinha.

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