Caso Covaxin ameaça novo eixo de poder em Brasília
É tectônico o impacto político do caso Covaxin. O avançar galopante do escândalo provoca, pela primeira vez, fissuras no novo centro de poder em Brasília. Trata-se do grupo formado por meio da aliança entre a família Bolsonaro e líderes do PP.
O principal expoente desse núcleo é o senador Flávio Bolsonaro, grande articulador político da família. Atuam ao lado dele dois notórios advogados: Frederick Wassef e Willer Tomaz.
Willer transita entre os dois grupos. É conselheiro de Arthur Lira. Está para o presidente da Câmara como Wassef está para Flávio e Jair Bolsonaro.
Embora esteja formalmente no Patriota, Flávio é do PP. Articula e conversa como se do partido fosse. Além de Lira, Ciro Nogueira e Ricardo Barros compõem a liderança do grupo. Há outros quadros.
Esses chefes políticos e conselheiros perfazem o novo eixo de poder na capital. Indicam - ou aprovam indicações - a cargos estratégicos no governo, no Congresso e no Judiciário. Também abrem ou fecham portas no governo e em estatais.
A implicação de Ricardo Barros, líder do governo na Câmara, no caso Covaxin é a primeira pancada sofrida, de fato, por esse grupo. Barros tem influência no setor de Saúde - mas está longe de deter o monopólio do prestígio junto a diretores graúdos do governo. Ele e Lira não se dão bem.
Wassef não estava à tôa na sessão de sexta da CPI da Pandemia. Também não foi fortuita a fala de Flávio Bolsonaro. O senador se manifestou para defender tanto Wassef quanto Willer. Disse que o sigilo de Willer fora quebrado pela CPI, numa tentativa de chegar a ele, Flávio.
Embora o governo não tenha pago a invoice de US$ 45 milhões à offshore de Cingapura, o contrato de US$ 300 milhões entre o Ministério da Saúde e a Precisa Medicamentos apresenta uma oportunidade para a CPI, como a cúpula da comissão bem sabe.
As circunstâncias atípicas e possivelmente ilegais da negociação e execução do contrato apenas começaram a ser expostas. Pela primeira vez, há um escrutínio que permite vislumbrar como é o modo de fazer negócios no governo Bolsonaro.
Graças à omissão da Procuradoria-Geral da República e ao ambiente judicial desfavorável à qualquer investigação contra autoridades, cabe apenas à CPI e à imprensa, como nos tempos pré-mensalão, fazer perguntas incômodas acerca daqueles que detêm, hoje, poder em Brasília.
O caso Covaxin conduz a essas perguntas. Afinal, quem abriu ao lobista Francisco Maximiano, o Max da Precisa, as portas dos principais gabinetes da capital, de modo que ele conseguisse fechar o contrato? De onde, exatamente, partiu a pressão que chegou até servidores como Luis Ricardo Miranda? Algo foi prometido aos intermediários? Houve ameaças a quem não obedecesse às ordens?
Compreender qual é o novo eixo de poder em Brasília e qual o método de atuação dele revela-se fundamental para entender que estamos longe de pedidos viáveis de impeachment ou de queda do presidente.
Está sob ameaça o grupo que, a um só tempo, depende do governo Bolsonaro e o alicerça. Está sob ameaça, portanto, o projeto de reeleição do presidente. Quanto mais fraco o PP estiver, mais fraco, em tese, estará Bolsonaro.
Pela natureza do próprio caso Covaxin, é uma encrenca que precisa arrasar o Congresso antes de subir a rampa do Planalto. O desgaste severo ao governo é óbvio, inevitável e imediato.
Ainda é incerto, porém, se a crise arrombará o Planalto. É o tipo de escândalo que, se adentra a Presidência, dela não sai sozinha.
Deputados aprovam convite para diretores após caso revelado pelo Bastidor sobre royalties
Leia MaisA articulação política do governo trabalha para que a sessão seja adiada para o mês que vem
Leia MaisA sobrevida no comando da Petrobras não significa que a pressão sobre Prates tenha diminuído
Leia MaisEleição de Salomão a vice-presidente provoca mudança no sistema de eleições do STJ
Leia MaisChances de indicação de um bolsonarista raiz para a vaga de vice caíram consideravelmente
Leia MaisTST colocou o presidente Lula em uma intrincada escolha para o novo ministro
Leia MaisManifestação em defesa de Jair Bolsonaro é - e será - comício do PL para eleição municipal
Leia MaisDefesas de empreiteiras contam com prorrogação de prazo para renegociar acordos de leniência
Leia MaisDesembargadores afastados da funções pelo CNJ pedem que STF corrija erros de Luís Felipe Salomão.
Leia MaisAdvogada que atuou para Luiz Estevão ajudou a julgar servidores que o contrariaram na cadeia
Leia MaisFlávio Dino desengaveta reclamação que leva STF de volta à discussão das emendas de relator.
Leia MaisAvanço da PEC do Quinquênio é compromisso de Pacheco e Alcolumbre com integrantes do Judiciário
Leia MaisPlenário do Senado começará a decidir sobre a PEC do Quinquênio a partir da próxima semana
Leia MaisGoverno volta a colocar Alexandre Padilha no centro do controle das emendas parlamentares
Leia MaisDefesa de Bolsonaro é apenas uma justificativa para ato de pré-campanha eleitoral
Leia Mais