O método XP
O proprietário de uma empresa de investimentos no interior de São Paulo acusa judicialmente a XP e um dos seus assessores de recomendarem aplicações de “altíssimo risco” que resultaram em “graves prejuízos”. O caso se junta a outros que chegaram à Justiça de São Paulo nos últimos meses contra as ofertas da instituição financeira. Expõe os métodos usados por associados da XP para convencer clientes a apostar em investimentos de alto risco, sem a devida explicação das chances de perdas substanciais.
O proprietário da Downwind Investimentos, Marcio Barbero, diz que foi vítima de fraude e de orientações “ardilosas” por parte do assessor financeiro Thiago de Mello. Afirma que estabeleceu uma relação de confiança com o agente ligado à XP, mas que caiu em uma “arapuca" - uma arapuca de 30 milhões de reais.
Na ação protocolada no Tribunal de Justiça de São Paulo em junho, os advogados da Downwind relatam que Thiago sugeriu investimentos em COEs alavancados ao mesmo tempo em que o cliente deveria adquirir empréstimos bancários com a própria XP. “Segundo Thiago, essa operação não apresentava risco algum, pois o investimento seria totalmente garantido”, diz a petição inicial a que o Bastidor teve acesso.
O COE é um tipo de negócio que combina elementos de rendas fixa e variável. A alavancagem é o empréstimo. Na teoria, o cliente faz as aplicações e tem garantia de bons retornos sem precisar resgatar outros investimentos. Para isso, as corretoras oferecem os empréstimos e dizem que eles serão pagos com os rendimentos do COE. Na prática, a história muda.
A defesa da Downwind mostra, por exemplo, conversas de Whatsapp entre cliente e assessor. Ao menos de acordo com as evidências apresentadas, o assessor vinculado à XP agia como se a operação não embutisse grande risco.
Em um dos diálogos, Thiago responde com um “joinha” uma pergunta sobre os empréstimos bancários serem quitados com recursos dos COEs. Quando questionado sobre o desfalque de 5 milhões de reais da conta corrente da cliente, o assessor comunica que está em “uma reuniãozinha”.
Thiago chega a garantir que o cliente não “perderia tudo” e diz que faria um gráfico ou pensaria em alguma forma de explicar o cenário.
A Downwind investiu 31 milhões de reais em COEs alavancados. Em paralelo, tomou empréstimo no mesmo valor que, em tese, seria pago com o resultado das operações. Esse tipo de operação, em que o cliente aplica em COE e contrai empréstimo em valor semelhante, é bastante criticado no mercado. As chances de perdas expressivas são altíssimas.
“Os COEs foram dados ao banco XP como garantia dos empréstimos, mediante alienação fiduciária em garantia. Na medida em que os COEs apresentassem perdas decorrentes da desvalorização do ativo subjacente, a XP estaria autorizada a executar extrajudicialmente o patrimônio da Downwind. Foi exatamente o que aconteceu”, diz a petição.
O assesor Thiago chegou a ser considerado um dos 100 melhores assessores pela XP. Em março, tirou foto com Benchimol. Jacta-se nas redes de ser um profissional que obtinha resultados.
Procurada, a XP não quis se manifestar. Nos autos do processo, a empresa diz que a ação da Downwind é inepta por partir de “falsa narrativa”. Acrescenta que a cliente se classifica como “orientadora do mercado”, mas levou o caso à Justiça alegando não ter a “expertise necessária” para realizar operações no mercado financeiro.
Alega ainda que “não há dúvidas de que as operações financeiras são perfeitamente lícitas, eis que foram todas executadas sem nenhum vício de consentimento”.
Por fim, em sua manifestação, a XP diz que em caso da Justiça reconhecer os pedidos da cliente como procedentes, não pode ser responsabilizada “pelos atos imputados ao Sr. Thiago”.
“O simples fato de ter atuado como AI [assessor de investimento] vinculado à XP não permite concluir que ela seja responsável por todos os atos imputados ao Sr. Thiago”, diz a defesa.
O assessor de investimento, em sua defesa, afirma que a empresa que o emprega, chamada Fami, é que é a responsável perante os seus clientes por todos os atos praticados.
XP e assessor não explicam os "joinhas" de WhatsApp.
Não é caso único
O método se assemelha ao usado por outro assessor em episódio noticiado pelo Bastidor nesta semana. A XP é acusada de coagir um funcionário a pressionar o próprio pai para contratar um empréstimo considerado de risco. Em tese, a conclusão do negócio ajudaria o filho a consolidar sua carreira na corretora de valores.
O empresário Marco Antônio Puerta também afirma que teve prejuízos financeiros com o empréstimo, sem ser alertado dos riscos. Seu filho, Gabriel Puerta, foi demitido após a transação ser concluída.
Puerta, o pai, já tinha investido cerca de 22 milhões de reais em um fundo por meio da corretora. Contudo, depois que o filho foi contratado pela XP em 2021, passou a receber uma proposta para tirar 15 milhões de reais de seus investimentos e tomar um empréstimo no mesmo valor.
Os 15 milhões seriam aplicados nos mesmos COEs por cinco anos, enquanto o empréstimo serviria para que ele não ficasse sem recursos disponíveis.
Nesse caso, em decisão liminar, o TJ de São Paulo suspendeu a cobrança dos juros do tal empréstimo.
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