A pressão da XP
A XP Investimentos é acusada na Justiça de coagir um funcionário a pressionar o próprio pai para contratar um empréstimo considerado de risco oferecido pela instituição. Em tese, a conclusão do negócio ajudaria o filho a consolidar sua carreira na corretora de valores. Não foi o que aconteceu.
O empresário Marco Antônio Puerta afirma numa ação judicial ter tido prejuízos financeiros com o empréstimo, sem ser alertado dos riscos. Seu filho, Gabriel Puerta, foi demitido após a transação ser concluída. Em decisão liminar, o Tribunal de Justiça de São Paulo suspendeu a cobrança dos juros do tal empréstimo.
Marco Antônio Puerta já tinha investido cerca de 22 milhões de reais em um fundo por meio da corretora. Na ação, ele afirma que, depois que o filho foi contratado pela XP em 2021, passou a receber uma proposta para tirar 15 milhões de reais de seus investimentos e tomar um empréstimo no mesmo valor.
Os 15 milhões seriam aplicados em certificado de operações estruturadas (COE) por cinco anos, enquanto o empréstimo, mediante Cédula de Crédito (CCB), serviria para que ele não ficasse sem recursos disponíveis.
Prints de conversas no Whatsapp entre o assessor de investimentos Augusto Chitero Spelta e seu então colega Gabriel Puerta, filho de Marco Antônio, mostram como se deu a pressão. Em uma das mensagens, Spelta chega a dizer a Gabriel que Marco Antônio Puerta “antes de ser seu pai é seu cliente”.
O desenrolar do diálogo expõe a preocupação de Spelta em concluir o negócio rápido, por causa dos possíveis bônus que renderia. Em uma das conversas, o filho tenta justificar a demora do pai em decidir. Diz que ele deve estar com problemas. Spelta rebate. Afirma que “problema todo mundo tem” e reforça que Marco Antônio Puerta, o pai, deveria assinar os documentos naquele dia, senão começaria a “fuder” (sic) e demoraria a começar o desembolso, expressão usada para as rendas extras.
Na ação protocolada na Justiça de São Paulo, Marco Antônio Puerta diz ser vítima de um conluio voltado a obter, às expensas de sua relação familiar, um negócio favorável apenas à XP, que foi feito com “base em informações equivocadas quanto à segurança da operação”. O empresário ainda acusa a corretora de não esclarecê-lo sobre os riscos do negócio.
A XP teria garantido que os lucros obtidos pelo investimento não só cobririam os juros do empréstimo, como garantiriam ganhos robustos. Marco Antônio Puerta afirma que a XP omitiu que os rendimentos seriam pagos somente cinco anos depois e que os juros do empréstimo são “muito maiores que qualquer possibilidade realista de retorno no capital”.
Em decisão liminar, o juiz André Augusto Salvador Bezerra, do Tribunal de Justiça de São Paulo, mandou suspender a cobrança dos juros do empréstimo. Para ele, "há existência de elementos de prova que convergem ao reconhecimento da veracidade dos fatos".
O Bastidor procurou a XP, mas a empresa disse que não iria se manifestar.
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