Deixem com os bagrinhos

Diego Escosteguy
Publicada em 01/07/2024 às 06:00
Se depender dos criminalistas, o prejuízo das Americanas ficará só com os credores Foto: Zimel Press/Folhapress

Um dos maiores criminalistas do país atendeu anteontem dois ex-executivos das Americanas. Um deles foi alvo na semana passada da operação Disclosure, da Polícia Federal, sobre as fraudes na companhia. O outro teme estar na fila.

O advogado - que, por sinal, nunca teve problemas em recorrer a colaborações premiadas quando elas eram vantajosas, nos tempos de Lava Jato - acalmou ambos. Após analisar as principais peças dos autos em parceria com outro tubarão do Direito Penal, vislumbrou fragilidades e até possíveis nulidades na investigação.

Na avaliação do criminalista e de seu parceiro, ambos especialistas em matar inquéritos de crimes de colarinho branco, a investigação está alicerçada num uso "ilegal e abusivo" de duas delações e em conversas de WhatsApp "distorcidas".

Eles também afirmaram aos clientes, e confirmaram reservadamente ao Bastidor, que a relativa complexidade técnica das fraudes e a tradição brasileira de ignorar crimes corporativos jogam contra o inquérito. A força econômica do trio Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles não precisou ser mencionada.

Um dos ex-executivos chegou ao escritório do criminalista disposto até a tentar uma delação. Saiu de lá convencido de que gastará uma boa grana em multas à CVM e, claro, com seus advogados. (Nesse tipo de caso, os honorários, só com os criminalistas, provavelmente ultrapassarão eventuais multas à CVM.) Após o impacto inicial da operação, eles acreditam que prevalecerão nos tribunais superiores.

"Se nem executivo da Samarco e da Braskem caiu, imagine quem é suspeito de ignorar normas contábeis", diz um dos advogados, com o discurso aparentemente já adaptado aos clientes.

A confiança parece beirar a arrogância, mas só para quem desconhece os resultados dessa turma. "Só bagrinho e gente apressada vai se dar mal", diz o criminalista. "Quem tiver sangue frio e discrição resolverá tudo."

Bagrinho, para ele, é qualquer um abaixo de CEO.

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