Até os idosos
Dois idosos - um de 64 e outro de 70 anos - foram à Justiça contra uma assessoria de investimentos credenciada à XP. Eles argumentam que foram enganados por agentes ligados à empresa Messem – hoje Fami Capital - e incentivados a colocar dinheiro em operações que fugiam dos seus perfis. O TJ de São Paulo considerou as duas ações procedentes.
Os casos guardam semelhanças a outros noticiados pelo Bastidor na última semana. Além da XP, envolvem assessorias a ela vinculada, com a autorização da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), e ofertas de investimentos em COEs, os certificados de operações estruturadas, que vêm combinados com empréstimos altos feitos juntos ao banco da XP.
Em uma das ações, um aposentado de 70 anos diz que foi “enganado” pelo seu assessor financeiro e pela Massem, quando investiu em COE com a garantia de que “não teria risco”.
O aposentado aplicou na Messem algo em torno de 1 milhão de reais. Investiu 200 mil reais no produto “XP COE Financiado – Ouro: Dobro ou Alta Limitada 3”. Esse tipo de aplicação envolve a volatilidade do ouro, ou seja, subiria com a alta do preço e desceria com sua baixa. Paralelamente, o cliente tomou 800 mil reais de empréstimo junto à XP.
“O que não sabia o autor é que os únicos que tinham retorno garantido neste investimento eram seu assessor, pela Messem Investimentos, através de gordas comissões e o Banco XP S.A., braço financeiro do notório Grupo XP Investimentos, com quem o autor foi levado a firmar operação de empréstimo como ‘parte integrante’ da tal operação estruturada. sendo que detinha”, diz a defesa do aposentado na petição a que o Bastidor teve acesso.
Na ação, os advogados dizem que os juros sobre o empréstimo “seriam muito maiores que qualquer possibilidade realista de retorno no capital investido”. A dívida ultrapassa os 100 mil reais só com os juros, totalizando quase 908 mil reais de débito com a XP. O processo está em fase de conciliação entre as partes.
O caso do outro idoso, esse de 64 anos, envolve ainda, além da Messem, uma segunda assessoria de investimentos, a MSK Operações.
De acordo com a ação levada ao Tribunal de Justiça de São Paulo, o idoso foi procurado por um assessor da Messem sugerindo que ele tirasse os investimentos da XP e migrasse para a MSK Operações. A mudança visava levar o cliente a fazer aportes em criptoativos sem que ele soubesse. O primeiro contrato, de 2021, foi no valor de 150 mil reais. Os demais totalizaram mais 750 mil.
A MSK, segundo os advogados do cliente, prometia recebimento de remuneração mensal superior de 6% a 7% ao mês sobre o capital investido. Não foi o que ocorreu.
Ao descobrir o tipo de investimento que estava submetido, pediu o cancelamento da operação. Era tarde. A Messem, que havia sugerido a mudança para a MSK, passou a pedir prazo alegando a existência de carência para o resgate do investimento.
Nos autos, a Messem defendeu que a culpa era da vítima, já que “a decisão pelo investimento a ser realizado e a ponderação acerca dos riscos dele decorrentes cabem exclusivamente ao investidor, que no caso irresponsavelmente transferiu altas quantias para a MSK”. Acrescentou que a culpa também era do agente autônomo de investimentos junto à Messem, chamado Kaleb, “que violou a obrigação de recomendar exclusivamente produtos e serviços de investimentos ofertados pela XP”.
Já a MSK disse que “houve informação ao autor sobre o alto risco de investimentos em criptomoedas, devido sua volatilidade e liquidez”.
A Justiça não acatou os argumentos da MSK e da Messem. O magistrado Celso Lourenço Morgado concluiu que o idoso foi levado ao erro. A Messem concordou em pagar indenização.
A assessoria enfrenta outros processos judiciais. No fim do ano passado, se uniu à Faros Private para criar a Fami Capital, que também já foi implicada em contestações na Justiça, como mostrou o Bastidor.
Método
Os casos noticiados nas últimas semanas expõem métodos usados por associados da XP para convencer clientes a apostar em investimentos de alto risco, sem a devida explicação das chances de perdas substanciais.
Em um dos episódios, XP é acusada de coagir um funcionário a pressionar o próprio pai para contratar um empréstimo considerado de risco. Em tese, a conclusão do negócio ajudaria o filho a consolidar sua carreira na corretora de valores.
O empresário Marco Antônio Puerta também afirma que teve prejuízos financeiros com o empréstimo, sem ser alertado dos riscos. Seu filho, Gabriel Puerta, foi demitido após a transação ser concluída.
Puerta, o pai, já tinha investido cerca de 22 milhões de reais em um fundo por meio da corretora. Contudo, depois que o filho foi contratado pela XP em 2021, passou a receber uma proposta para tirar 15 milhões de reais de seus investimentos e tomar um empréstimo no mesmo valor.
Os 15 milhões seriam aplicados nos mesmos COEs por cinco anos, enquanto o empréstimo serviria para que ele não ficasse sem recursos disponíveis.
Nesse caso, em decisão liminar, o TJ de São Paulo suspendeu a cobrança dos juros do tal empréstimo.
Em outro, o proprietário de uma empresa de investimentos no interior de São Paulo acusa judicialmente a XP e um dos seus assessores de recomendarem aplicações de “altíssimo risco” que resultaram em “graves prejuízos”.
O proprietário da Downwind Investimentos, Marcio Barbero, diz que foi vítima de fraude e de orientações “ardilosas” por parte do assessor financeiro Thiago de Mello. Afirma que estabeleceu uma relação de confiança com o agente ligado à XP, mas que caiu em uma “arapuca" - uma arapuca de 30 milhões de reais.
Na ação protocolada no Tribunal de Justiça de São Paulo em junho, os advogados da Downwind relatam que Thiago sugeriu investimentos em COEs alavancados ao mesmo tempo em que o cliente deveria adquirir empréstimos bancários com a própria XP. “Segundo Thiago, essa operação não apresentava risco algum, pois o investimento seria totalmente garantido”, diz a petição inicial a que o Bastidor teve acesso.
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