Aneel x Batistas

Brenno Grillo
Publicada em 23/09/2024 às 22:00
Liminar de hoje é a segunda que obriga a Aneel a analisar a MP que ajuda na compra da empresa pela Âmbar, da J&F. Foto: Amazonas Energia / Reprodução

A Justiça Federal do Amazonas deu 48 horas para a Agência Nacional de Energia Elétrica implementar uma medida provisória que salva a Amazonas Energia. A juíza Jaiza Maria Pinto Fraxe, da 1ª Vara Federal Cível do Amazonas, afirma que a agência tem o dever de analisar rapidamente o texto editado em 13 de junho, pois sua validade expirará em outubro. A Aneel vai recorrer da decisão.

A liminar concedida pela juíza Jaiza Maria Pinto Fraxe favorece a J&F, dos irmãos Wesley e Joesley Batista, e o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira.

Uma empresa dos Batista, a Âmbar Energia, comprou termelétricas que abastecem a Amazonas Energia, no que pareceu na ocasião um negócio ruim, devido à má situação da Amazonas. Três dias depois o Ministério de Silveira editou a medida provisória que cria condições para salvar a empresa - e, assim, transformou a operação num bom negócio. Antes disso, o ministro havia se reunido ao menos 17 vezes com executivos do grupo dos irmãos Batista.

Fontes da agência afirmam que a decisão da juíza Fraxe, nesta segunda-feira, força um acordo, ao obrigar a liberação da assinatura do contrato. Isso dificultaria uma eventual rescisão, devido ao risco que seria criado com a judicialização do negócio.

A decisão desta segunda-feira determina "a adoção das medidas necessárias à efetiva e concreta implementação das normas contidas na MP 1.232/2024 no que tange à assinatura dos CER, devendo ainda efetivar obrigação de fazer consistente em aprovar imediatamente o plano de transferência de controle societário na forma apresentada em 28/06/2024".

A Amazonas Energia recorreu à justiça porque, apesar da medida provisória, a operação travou na Aneel, que regulamenta o setor. No dia 21 de agosto, a Amazonas apresentou quatro solicitações idênticas à Justiça. Segundo a Aneel, foi uma estratégia da empresa em busca de um juízo favorável. Deu certo: um destes quatro pedidos é o que levou à liminar concedida hoje pela juíza Fraxe.

A Amazonas já havia obtido uma decisão semelhante. Em 26 de agosto, a juíza Marília Gurgel R. de Paiva e Sales deu 72 horas para a agência regulamentar a mesma medida provisória. Impôs multa de 1 milhão de reais, acrescida de 10 mil reais por dia de descumprimento da decisão. A Aneel recorreu. O Tribunal Regional Federal da 1ª Região decidiu, em 21 de setembro, manter parcialmente as determinações, excluindo as multas pessoais impostas aos diretores da agência.

Mesmo com esta situação, a juíza Fraxe decidiu nesta segunda-feira (23), às 15h56, seis horas após o processo ter sido liberado para deliberação. Reforçando a decisão de Marília Gurgel ao impor o cumprimento "sob pena de medidas interventoras necessárias à concretização da decisão judicial", sem precisar quais.

Recentemente, a Aneel iniciou uma consulta pública sobre a transferência do controle da Amazonas Energia. Fontes da agência afirmam ser impossível aprovar o projeto sem mais detalhes e sem discutir de forma mais ampla. Em agosto, a área técnica da agência afirmou que a Âmbar não teria qualificação suficiente para gerir a distribuidora de energia.

Na J&F, o entendimento é de que a decisão faz parte da estratégia dos atuais controladores da Amazonas Energia, que precisam da medida provisória e da regulamentação pela Aneel para passarem a dívida ao próximo dono.

Assim como a Justiça Federal do Amazonas, o ministro Alexandre Silveira tem pressionado a Aneel pela análise da MP da Amazonas Energia. Ameaçou intervir na agência - que é independente do governo. Usou como desculpa quatro processos que já estão sendo analisados pelo órgão regulador.

A negociação pela venda da Amazonas Energia passa por uma conta de 15 bilhões de reais que favorece os Batista e será paga por todos os consumidores. A Aneel já se manifestou limitando essa divisão do prejuízo em pouco mais de 8 bilhões de reais. Esses montantes são resultado das dívidas da distribuidora de energia elétrica com o setor.

Leia as decisões proferidas nesta segunda-feira (23), no sábado (21) e em 26 de agosto:

Investigação sobre golpe mostra fragilidade do sistema de validação de linhas telefônicas

Leia Mais

Fora da Caixa

22/11/2024 às 16:20

Ex-vice-presidente da Caixa é demitido do serviço público por justa causa por assédio sexual e moral

Leia Mais

Em ação antitruste, Departamento de Justiça dos EUA quer que empresa venda o navegador Chrome

Leia Mais

Governo de Alagoas abate quase metade da dívida da usina falida e procuradores levam comissão de 20%

Leia Mais

Em nova ação contra a Lava Jato, Toffoli retira sigilo de caso de gravação de conversas do doleiro

Leia Mais

Era manobra

21/11/2024 às 10:30

Procuradores da PGFN mudam postura e estendem prazo para análise de desconto em dívida da Laginha

Leia Mais

Contra o plano

21/11/2024 às 10:25

Bradesco exige votação que respeite a ordem dos credores na assembleia de credores da Laginha

Leia Mais

O risco Adani

20/11/2024 às 21:26

Procuradores dos EUA avançam criminalmente contra bilionário amigo de Modi após ataque da Hindenburg

Leia Mais

Conselho Nacional de Justiça aposentou desembargadora envolvida em venda de sentenças

Leia Mais

Investigações tentam encontrar laços de militares que queriam matar Lula com o 8 de janeiro

Leia Mais

Militares e um agente da PF presos queriam matar Lula e Alckmin; Moraes também era alvo do grupo

Leia Mais

O mês que marcaria os últimos dias do governo Bolsonaro foi o escolhido para o golpe, segundo a PF

Leia Mais

Operação da PF assusta por mostrar que, sob Bolsonaro, militares podem matar adversários políticos

Leia Mais

Investigação da PF mostra que general próximo a Bolsonaro elaborou plano para matar Lula e Alckmin

Leia Mais

Senacon tenta limitar publicidade de bets, mas falha ao detalhar eventuais punições.

Leia Mais