Porteira aberta

Diego Escosteguy
Publicada em 30/06/2024 às 06:00
Discreto, Joesley participou de uma reunião pública com Lula no Planalto neste ano Foto: Pedro Ladeira/Folhapress

Desde que Lula voltou ao Planalto, não tem conversa: a J&F é o grupo empresarial mais influente em Brasília. Da pasta da Agricultura ao Incra, do Ministério de Minas e Energia à Casa Civil: inexiste gabinete do governo hostil aos interesses dos irmãos Joesley e Wesley Batista.

A porteira aberta para os empresários e seus lobistas já era esperada por aliados do presidente. Os irmãos Batista ascenderam graças aos dois primeiros governos de Lula. E Lula se beneficiou da ascensão deles. Ou, sendo mais preciso, e a se acreditar nas delações premiadas dos irmãos, a segunda campanha presidencial de Dilma Rousseff se beneficiou da ascensão deles. (Guido Mantega foi um bônus.)

O que provoca certo constrangimento, até mesmo entre ministros próximos a Lula, é a "falta de cuidado" do governo na relação com a J&F, segundo um eles. No entender desse ministro, Lula deveria tentar manter alguma distância dos irmãos Batista. Tanto para não desgastar sua imagem quanto para evitar contaminação política caso venham a público novos negócios controversos do grupo.

A história recente, por óbvio, reforça a postura cautelosa do aliado do presidente. Nos primeiros governos de Lula, os irmãos Batista criaram um colosso do mercado de proteína animal: a JBS. Não faltaram investigações e controvérsias. No terceiro mandato do petista, tentam estabelecer, até agora com sucesso, uma máquina no setor de energia: a Âmbar. É um sucesso, em parte, às custas do contribuinte.

As compras, em condições para lá de vantajosas, graças ao Ministério de Minas e Energia e o beneplácito da Casa Civil, de usinas da Eletrobras integram o plano de elevar a Âmbar a uma gigante do setor. Há também avanços dos irmãos Batista na área de mineração. Trata-se de outra oportunidade valiosa, em face da dificuldade da Vale em se posicionar no mercado de transição energética.

Nesses casos, a estratégia dos Batista envolve, em resumo, usar instrumentos públicos de incentivo à energia limpa para comprar na baixa, ou prometer comprar na baixa, ativos industriais que permitam a subsequente aquisição de ativos ainda mais relevantes de cada setor. Novamente: sempre por meio de incentivos públicos perfeitamente adaptados, coincidentemente, às necessidades do grupo. O caminho da Âmbar, por exemplo, está aberto, no que depender do governo Lula, para que ela entre com tudo na Eletrobras.

Há mais. Em parte devido a ajuda heterodoxa do Incra, a J&F conseguiu manter em seu poder a Eldorado, uma potência de celulose que imprime dinheiro de tão lucrativa - a indonésia Paper Excellence disputa há anos, sem sucesso, o controle da empresa. A lista de vitórias é extensa, assim como as possibilidades de novos êxitos. É o caso das tratativas, reveladas pelo Bastidor, de a J&F fechar um acordo de leniência com a CGU - o que, em tese, aliviaria a multa de 10,3 bilhões de reais pendente com o Ministério Público Federal.

Nem todas as vitórias podem ser atribuídas ao governo Lula. Mas é difícil imaginar que elas existiriam, ou seriam tão numerosas, em outro ambiente político - com outro presidente no Planalto.

Para um ministro e outro auxiliar direto do presidente, os irmãos Batista e seus conselheiros comportam-se, em Brasília, como se o governo fosse deles. Nenhum dos dois sentiu abertura para abordar o assunto com Lula. É tabu. Prevalece, assim, o entendimento político tácito de que, sim, a J&F tem autoridade para pleitear o que bem quiser na Esplanada. "Existe, no mínimo, um alinhamento estratégico entre o que o presidente quer e o que os Batista desejam", diz o ministro.

Não à toa, a influência dos irmãos Batista no governo Lula foi um dos assuntos mais comentados em algumas das principais conversas da elite brasileira no Fórum de Lisboa. Naquelas que ambos não estavam, fique claro.

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