A porta-giratória entre BB e BTG

Alisson Matos
Publicada em 29/07/2024 às 06:00
Grupo de Esteves já esteve envolvido em negócio contestado com o BB Foto: Raquel Cunha/Folhapress

A contratação de um funcionário do Banco do Brasil por uma empresa que pertence ao BTG Pactual, de André Esteves, pode melar um negócio milionário feito entre os bancos. Fechada em maio, a operação repassou uma dívida que a construtora WTorre tinha com o BB à Enforce, uma gestora de créditos inadimplentes do BTG. A garantia da dívida é a participação da WTorre no Allianz Parque, a lucrativa arena do Palmeiras.

A transação agora é contestada na justiça de São Paulo por envolver uma série de coincidências, possíveis ilegalidades e potenciais conflitos de interesse. A WTorre acusa o grupo de Esteves de cooptar funcionários públicos. Cita expressamente os nomes do ex-executivo de recuperação de crédito do Banco do Brasil e atual diretor executivo da Enforce, Antonio Leopoldo Giocondo Rossin, e dos gerentes do BB Osni Gustavo Geib e Caio Eduardo Poli Callegari.

A disputa decorre de financiamentos feitos pela WTorre entre 2012 e 2015 junto ao BB por meio de emissão de 11 títulos da dívida. O objetivo da construtora era se capitalizar e expandir as operações. Ao todo, a dívida supera os 600 milhões de reais. Desses, segundo a WTorre, foram pagos 500 milhões, sendo 151 milhões nos últimos 18 meses.

Como garantia, em caso de inadimplência, foi dada a participação da WTorre no Allianz Parque, feito pela construtora. Por ser uma das maiores arenas multiuso da América Latina, que recebe eventos, shows e jogos de futebol, é considerada a joia da coroa do negócio.

Tanto que o BTG, por meio da Enforce, logo após comprar a dívida que pertencia ao Banco do Brasil, abriu a possibilidade de antecipar o vencimento de parcelas que, de acordo com a WTorre, estavam em dia para viabilizar a penhora do Allianz Parque. É esse o argumento levado pela construtora à justiça. Para se ter uma ideia, até o ano passado, o Palmeiras havia arrecadado mais de 400 milhões só de bilheteria com o estádio. Em 2023, o valor foi recorde: 85 milhões.

“A Enforce/BTG havia comprado os créditos adimplidos com o objetivo de ‘forçar’ um vencimento antecipado indevido, para executar garantias”, diz a petição inicial da WTorre, a que o Bastidor teve acesso.

A compra da dívida teve participação direta de Antonio Leopoldo Giocondo Rossin, executivo da Enforce, que acompanhou de perto a relação da WTorre com o BB e que, de acordo com a construtora, levou para o BTG informações privilegiadas. Ele trabalhou por 27 anos no banco público. Foi o responsável por gerir e supervisionar as linhas de financiamento da construtora. Durante seis anos, ocupou o cargo de superintendente nacional de Recuperação de Crédito no BB.

A ida de Antonio Leopoldo para o grupo BTG, em 2022, elevou ao posto de interlocutores do BB com a WTorre os gerentes Osni Geib e Caio Calegari. Esse último foi subordinado do ex-superintendente nacional de Recuperação de Crédito.

De acordo com a defesa da WTorre, antes do BTG comprar a sua dívida, representantes da construtora buscaram os gerentes do BB com o objetivo de quitar antecipadamente os financiamentos caso houvesse algum desconto.

O BB, segundo a WTorre, sempre recusou, sob o argumento de que o crédito era adimplente (pago em dia) e que se baseava em garantias sólidas (a participação no estádio do Palmeiras). Os gerentes do Banco do Brasil também teriam informado que a dívida não seria vendida a terceiros pelos mesmos motivos que não permitiam a antecipação dos pagamentos com desconto.

Os advogados da WTorre, do escritório de Walfrido Warde, dizem que houve uma reunião no dia 8 de maio com representantes da construtora e os gerentes do BB em que foi garantido que não havia nenhuma negociação para a venda da dívida para terceiros. À época, eram fortes os rumores de que o BTG negociava com o banco público. Semanas depois, o acordo foi anunciado.

A WTorre também acusa o BB de quebrar algumas regras do contrato que mantinha com o banco. Uma delas dizia que havia a necessidade de anuência da construtora para que as garantias fossem cedidas para terceiros, o que não ocorreu.

Os representantes da WTorre dizem que a construtora chegou a fazer uma oferta melhor ao BB para pagar antecipadamente a dívida do que a proposta feita pelo BTG. Os valores são mantidos em sigilo.

Outro ponto conflitante da venda é que a Enforce diz atuar especialmente com créditos podres, aqueles com pouca chance de receber. O que, na visão da WTorre, não era o seu caso com o BB.

Para pôr sob suspeita a relação do BB com o BTG, a defesa da WTorre resgata outra negociação polêmica entre as instituições financeiras. Em 2020, o banco público vendeu para o grupo de Esteves uma carteira de 2,9 bilhões de reais “sem as devidas justificativas”, segundo apuração da Controladoria-Geral da União.

O Bastidor procurou o BTG e questionou o grupo sobre as acusações da WTorre, mas não obteve resposta.

Rivais da WTorre

Contra a WTorre, além do BTG e do BB, há a presidente do Palmeiras, Leila Pereira, que acusa a construtora de não pagar o clube com a regularidade que o contrato entre as partes determina. A dívida com o time seria de 160 milhões.

A dirigente já disse que o negócio com a WTorre foi péssimo para o clube. "É mentirosa a alegação de que é um sucesso. É para eles, que ganham 100% das receitas, às custas de uma propriedade do Palmeiras", chegou a declarar.

O contrato prevê que o clube tem direito mensalmente a percentuais de receitas do Allianz Parque. O dinheiro viria da locação para shows, exploração de lanchonetes e estacionamentos, e locações de cadeiras, camarotes e naming rights.

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