O Marçal da advocacia
Quando o então candidato a prefeito de São Paulo, Pablo Marçal, do PRTB, participou do programa Roda Viva, da TV Cultura, no mês passado, um convidado dele se destacou no estúdio. Era o advogado Nelson Wilians. Marçal fez questão de agradecer a Wilians durante o programa, em mais de um momento. “O Nelson Wilians está aqui. É o maior advogado do Brasil. Convidei ele, ele está numa causa minha. Obrigado por ter aceito meu convite para estar aqui”, disse Marçal. A cena foi divulgada nas redes de Nelson Wilians (assista abaixo).
Para o grande público, Nelson Wilians é um desconhecido. No mundo do Direito, é uma celebridade - o advogado ostentação por excelência. Acumula 1,2 milhão de seguidores no Instagram e 1,4 milhão no TikTok. Nas redes, aplica o estilo e a cultura dos influenciadores ricos para vender a imagem do que seria o sucesso na advocacia: carrões, jatinhos, roupas caras, viagens pelo mundo. Nelson Wilians, em resumo, é o Pablo Marçal da advocacia.
A proximidade entre ambos era desconhecida, mas não, portanto, descabida. Marçal já disse que Wilians é um exemplo e que sonhou em ser advogado após ver suas publicações em redes sociais. A ostentação de Wilians não é fruto apenas de marketing. Ele, de fato, é dono de um dos maiores escritórios do país. Dados divulgados pela própria banca detalham que são dois mil advogados trabalhando em 29 filiais, sendo 27 delas nas capitais.
Não se sabe qual foi o papel de Wilians na campanha. Segundo sua assessoria, ele atua em uma das muitas causas que envolvem o ex-candidato, mas não diz qual. Willians foi contratado pelo coach por 10 mil reais, valor simbólico para ambos.
Além do admirador Pablo Marçal, entre os clientes de Wilians está o governo Lula. Seu escritório tem três contratos, o principal deles com o Banco do Brasil. Os outros dois são com o Banco da Amazônia e a Companhia de Recursos de Pesquisas Minerais - este último é o menor, garante pouco mais de 63 mil reais anuais.
Já são 10 anos de parceria entre Wilians e o setor público federal, com 21 contratos firmados entre 2014 e 2021. Nesse período, das gestões Dilma Temer e Bolsonaro, o governo pagou 47,6 milhões de reais a Wilians por meio de diversos órgãos, principalmente a Petrobras, que respondeu por 67% desse montante.
Wilians presta serviços ao Banco do Brasil desde 2014. Num dos contratos com o banco, que lhe rendeu 677 milhões de reais - segundo disse em entrevista à Forbes Brasil -, seu escritório foi alvo de uma investigação, suspeito de simular a contratação dos advogados necessários para enfrentar a empreitada. A acusação foi arquivada.
Wilians não teve a mesma sorte com outro banco público, a Caixa Econômica Federal. Foi punido administrativamente duas vezes neste ano por não prestar os serviços conforme estava previsto nos contratos. Em 2019, a instituição financeira rescindiu um contrato assinado em 2017 pelo mesmo motivo.
Nos contratos com os bancos, o escritório de Wilians é remunerado conforme o sucesso em ações ou negociações envolvendo dívidas de clientes e questões trabalhistas. É uma máquina de ganhar dinheiro.
O Bastidor perguntou ao Banco do Brasil e à Caixa quanto já foi pago ao escritório de Wilians, mas não recebeu resposta. Os contratos não são públicos. No caso do Banco da Amazônia, o contrato nomeado como se fosse da banca de Nelson Wilians tem dados de outro escritório.
Advogado ostentação
A autopromoção de Wilians não é somente digital. A última ode a si mesmo foi o lançamento do livro Loucura, não. Coragem!. Recentemente, lançou uma versão de si mesmo de boneco Funko, aquela figura cabeçuda que replica personagens de desenhos e filmes realmente conhecidos do público.
Reconhecido pelo tamanho, o escritório de Wilians tem seus problemas. A avaliação da empresa no site Reclame Aqui, referência de serviço ao consumidor, é de 5,2 - a nota máxima é 10. De acordo com os consumidores, muitos deles em busca de acordos para pagar dívidas junto a bancos, o serviço prestado é "ruim".
Em agosto, contudo, Wilians foi elogiado pelo Banco do Brasil por conta dos serviços prestados no primeiro semestre deste ano. O afago foi divulgado por ele nas redes sociais.
Funcionários e sócios de Wilians também têm suas reclamações. Neste ano, ele foi processado por duas ex-sócias, que o acusam de escamotear as contas do escritório. A Justiça o obrigou a detalhar sua situação financeira e contábil. Em janeiro do ano passado, Wilians foi proibido de firmar contratos associativos com advogados, que, na verdade, eram funcionários de sua banca. A condenação pela Justiça do Trabalho impôs pagamento de multa de 1 milhão de reais por danos morais coletivos e de 30 mil reais por cada trabalhador que não foi registrado como manda a lei.
Wilians também foi citado em relatório do Coaf por ter transferido, entre 2016 e 2022, 15,5 milhões de reais ao empresário Maurício Camisotti, acusado de fraudar beneficiários do INSS. Wilians, que defende Camisotti, não é investigado nesse caso.
M de meu ídolo
Apesar da admiração de Pablo Marçal e da proximidade na campanha, Wilians não fala sobre os absurdos cometidos por Marçal na campanha. A última - e pior - foi a publicação de um falso laudo que colocava Guilherme Boulos, do Psol, como dependente químico.
O Bastidor procurou Wilians e sua assessoria de imprensa para solicitar uma declaração sobre o assunto. O advogado preferiu não falar.
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