O difícil equilíbrio de Omar Aziz na Presidência da CPI da Pandemia
Os senadores Omar Aziz e Eduardo Braga, presidente e titular, respectivamente, da CPI da Pandemia fizeram recentemente um acordo de não agressão. Ambos são do Amazonas, são ex-governadores e têm interesses nas eleições do ano que vem.
O acordo consiste em não utilizarem a comissão para atacar um ao outro - e não nacionalizarem disputas locais. Em junho, Aziz apresentou um requerimento para a quebra dos sigilos fiscais, bancários, telefônicos e telemáticos da empresa Tecway Serviços e Locação de Equipamentos, que tem como um dos sócios o primo de Braga, André Gomes Braga.
A empresa tem ao menos nove contratos ativos com o governo do Amazonas e vai receber por eles, ao longo de 2021, cerca de 70 milhões de reais. Polícia Federal e uma CPI na Assembleia Legislativa do Amazonas investigaram desvio de dinheiro público durante a pandemia na Saúde, área onde a Tecway mantém contrato.
Na época da apresentação do requerimento, Eduardo Braga protestou e ameaçou romper com o grupo majoritário da CPI, que reúne senadores de oposição e independentes. O senador lembrou que Aziz foi governador e que qualquer gestor público está sujeito a responder por problemas em seus mandatos. A briga foi feia, mas nunca veio a público - até agora.
Ambos preferiram a paz. E, apesar de o presidente da comissão ter citado as investigações da CPI do Amazonas para justificar seu requerimento, o relatório final dos deputados amazonenses não traz nada contra a Tecway. Qualquer menção à Tecway, contudo, tira do sério Braga e muitos parlamentares da região Norte.
No entanto, a trégua entre Aziz e Braga pode durar pouco. Braga deseja concorrer ao governo estadual, e Aziz precisa se reeleger ao Senado para não ficar sem mandato a partir de 2023.
Poderiam se apoiar, mas Braga preferiu encontrar duas semanas atrás um feroz adversário político de Omar Aziz, o coronel da reserva Alfredo Menezes, aliado do presidente Jair Bolsonaro e ex-superintendente da Zona Franca de Manaus. Braga tenta uma aliança em que o coronel concorra ao Senado e o apoie para governador.
Menezes atribui a perda de seu cargo na Superintendência da Zona Franca de Manaus à pressão de Aziz. Até a entrada de Menezes na função, qualquer indicado tinha de passar, no mínimo, pela aprovação do senador. O troco é a disputa pela única vaga do estado no Senado.
A história ilustra a crítica reservada que o presidente da CPI da Pandemia sofre com frequência de seus aliados no grupo majoritário. Eles reclamam que, apesar dos discursos contundentes, Aziz, quando interessa, tende a amansar com o governo e empresas próximas ao centrão. Ele, por exemplo, é contra convocar a família do presidente. O senador também foi o responsável pelo acordo para conceder um tratamento amistoso ao líder do governo, Ricardo Barros, em seu depoimento - a atuação de Barros foi um dos poucos mas expressivos momentos de vitória do Planalto na CPI.
Segundo fontes ouvidas pelo Bastidor, Aziz pretende disputar o Senado como um nome independente - e não como alguém de oposição a Bolsonaro. O senador quer se apresentar como quem faz críticas pontuais ao governo, como no caso da gestão da crise sanitária, mas que, ao mesmo tempo, consegue manter o diálogo.
Aziz quer evitar que Bolsonaro embarque na campanha do coronel; a entrada do presidente na campanha de seu adversário o jogará na oposição - uma posição arriscada para quem precisa dos eleitores do Amazonas, e não de formadores de opinião, para permanecer no Senado. No estado, a força do apoio do governo federal ainda é decisiva para uma eleição ao Senado.
O Bastidor procurou Omar Aziz e sua assessoria, mas até o momento não teve um posicionamento do senador.
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