Roubando de quem tem pouco

Relatório da Polícia Federal sobre descontos ilegais praticados por sindicatos e associações de aposentados e pensionistas mostra que os valores chegavam a 6% do salário mínimo vigente em março de 2024 (1.412 reais). O INSS sabia de tudo e nada fez, mesmo com denúncias da imprensa e de parlamentares.

O relatório da PF apresenta uma lista com 13 exemplos de aposentados e pensionistas que recebem um salário mínimo por mês e que tiveram 79 reais descontados mensalmente pelo grupo agora investigado.

Os dados levantados pela Polícia Federal mostram que esses aposentados e pensionistas autorizaram descontos menores, de 39,54 reais e de 28,24 reais, fazendo com que a diferença entre o combinado e o descontado variasse de 100% até 180%.

Com o dinheiro descontado ilegalmente, as associações e sindicatos, muitos deles sem estrutura para prestar os serviços prometidos — como assistência jurídica e de saúde —, registraram crescimento patrimonial vertiginoso em pouquíssimo tempo. A Ambec, por exemplo, saiu de um patrimônio 135 reais em 2021 para quase 15 milhões de reais em 2022.

A Conafer seguiu caminho similar. Tinha patrimônio de 92 milhões de reais em 2022. Um ano depois, registrou 202 milhões de reais em seus cofres. No mesmo período, o Sindnapi passou de 22 milhões de reais patrimônio para 39 milhões de reais.

Essas entidades citadas, e outras também sob crivo da PF, conseguiram manter o esquema com anuência do INSS, que desembolsou 70 mil reais dos próprios recursos para operacionalizar esses descontos via Dataprev. O dinheiro desviado, de acordo com as investigações, também foi usado por servidores e diretores do INSS para comprar carros de luxo e imóveis.

Até o momento, a investigação conjunta da PF e da Controladoria-Geral da União derrubou o então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e colocou Carlos Lupi, ministro da Previdência, sob escrutínio. O Bastidor já mostrou que esse escandâlo de corrupção tem muito potencial para macular a imagem do governo Lula, pois afetou diretamente pessoas que necessitam de cada centavo pago pela União.