O segurança e o governador

Karen Couto
Publicada em 04/07/2024 às 17:40
Governador de Roraima, Antonio Denarium já responde a três pedidos de cassação e um pedido de impeachment Foto: Avener Prado/Folhapress

O ex-coordenador da segurança do governador de Roraima, Antonio Denarium, do PP, disse, em depoimento obtido pelo Bastidor, que o próprio governador ajudou a acobertar o autor de um duplo homicídio que abalou o estado. O ex-coordenador de segurança, um capitão da Polícia Militar chamado Helton John Silva de Souza, está preso, confessou ter participado dos assassinatos e se tornou a principal testemunha do caso. (Assista a trechos do depoimento abaixo.)

O crime ocorreu em abril, no interior do estado. Um casal de produtores rurais - Flávia Guilarducci, de 50 anos, e Jânio Bonfim de Souza, de 57 - foram assassinados a tiros. O motivo do crime, segundo a Polícia Civil, é uma disputa por terras. O empresário Caio Porto, que tem propriedades na região, é um dos principais suspeitos do crime. Está foragido desde maio.

No dia do crime, Helton John era coordenador da equipe de segurança do governador. Ele foi afastado após ter sua voz reconhecida em uma gravação feita pela agricultora antes de ser baleada. A arma do crime foi encontrada no forro do banheiro de Helton após ele indicar o paradeiro dela.

Em depoimento, Helton John acusa Caio Porto de matado o casal. No vídeo, ele diz que foi acompanhar o empresário até a casa dos agricultores, com mais outros dois homens, para "fazer uma proposta". Segundo Helton John, houve discussão, e Caio, diz a testemunha, sacou sua arma e atirou nos dois.

Após o crime, Helton John diz ter ligado para o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Miramilton Goiano. Sentia, afirma, a necessidade de "avisar alguém". Pensou em Miramilton. "Além dele ser pastor, é meu amigo, a gente se conhece desde que eu não era polícia, conhece meu pai, conhece meu avô e é comandante da polícia", diz no depoimento.

Na reconstituição da conversa, Helton John afirma que Miramilton ficou surpreso com o fato de o capitão ter presenciado, sem reação, um assassinato. "Você não deu voz de prisão a ele?", disse. Ele não explica o motivo de não ter cumprido sua obrigação funcional de policial. Num segundo contato, Helton John diz que foi orientado por Miramilton a se livrar do celular que usou no dia do assassinato. Helton trocou de aparelho e deu o antigo para o filho vender.

Recentemente, o coronel Miramilton foi alvo de reportagens por suspeita de comandar uma milícia privada, acusada de praticar garimpo ilegal em terra ianomami.

Após a prisão em flagrante de dois envolvidos, Helton John diz que procurou o irmão de Caio, o empresário Thiago Porto - até então um nome que não aparecia entre os suspeitos. Na versão de Helton John, o empresário Thiago Porto estava aflito com a possibilidade de o irmão também ser preso ao se apresentar à polícia. Para evitar isso, "falaria até com o governador".

Dois dias após os assassinatos, Helton John diz que ficou surpreso ao ver Thiago conversando com o governador na saída do gabinete no palácio Senador Hélio Campos.

"Saí pela frente e lá vinham descendo... Quem vinha descendo? O governador, o Thiago, que vinha conversando com ele. E eu não vi quando ele chegou", diz Helton John, afirmando que cumprimentou o irmão do amigo com um aceno de cabeça. Nesse dia, Denarium tinha uma gravação na parte externa do Palácio. O governador seguiu para a filmagem e Helton John diz que aproveitou para falar com Thiago.

"Falei 'E, aí, Thiago', ele falou 'paz', e falei 'como é que ficou?', e ele falou ‘eu conversei com o governador, ele ligou, tentou ligar para delegada geral duas vezes não conseguiu'", diz Helton John.

A delegada em questão é a chefe da Polícia Civil, Darlinda Moura Viana.

Na sequência, Helton diz que viu o governador receber uma ligação da delegada-geral. Ainda no telefone, de acordo com a testemunha, Denarium fez um aceno para chamar a atenção de Elton John e disse: "Pode ligar e falar direto com ela". Helton John não sabe dizer sobre o que o governador e a delegada conversaram.

Thiago, o irmão do principal suspeito ser o mandante do crime, é dono de uma empresa que tem contrato com o governo do Roraima para locação de tendas e climatizadores. O acerto de 328 mil reais por ano foi firmado em março de 2022, quando Denarium se reelegeu.

No depoimento, Helton John diz que Thiago Porto também ocultou provas. Segundo ele, Thiago Porto pagou o transporte e embarcou a caminhonete utilizada no crime em um caminhão cegonha para Manaus. O veículo foi localizado dias depois em Porto Velho, Rondônia.

A polícia civil segue com as investigações, e não descarta a participação de outras pessoas no crime.

Em nota conjunta do governo de Roraima, Polícia Militar e Polícia Civil, Denarium afirmou que “as informações apresentadas pelo investigado são caluniosas e têm o intuito de denegrir a imagem do chefe do Executivo, assim como das instituições de segurança pública do Estado”.

O comandante-geral da PMRR, coronel Miramilton Goiano de Souza disse que “não recebeu nenhuma ligação telefônica, horas após o crime em que o capitão Helton John é investigado”. A delegada-geral da Polícia Civil de Roraima, Darlinda Moura Viana, afirmou desconhecer as afirmações do capitão investigado e “lamenta este tipo de postura com fins políticos”.

Também por nota, a defesa de Thiago Porto afirmou que "o irmão de um dos investigados não é parte das investigações e, portanto, nada tem a dizer sobre o conteúdo de depoimentos de quem quer que seja. Entendemos também que a tentativa de exploração política do caso não ajuda em nada o trabalho dos investigadores que, certamente, seguem critérios técnicos se objetivos."

Cassação de mandato

Reeleito em 2022, o governador Antonio Denarium, do PP, enfrenta três processos de cassação de mandato no Tribunal Superior Eleitoral por abuso de poder político e econômico e compra de votos. Em dois dos processos, o Ministério Público pede a perda de mandato do governador. Na terça-feira, a Assembleia Legislativa aceitou um dos pedidos de impeachment contra ele.

Denarium é acusado de reformar casas de eleitores, de distribuir cestas básicas e de transferir de 70 milhões de reais para municípios às vésperas do pleito. Também acusado de fazer promoção pessoal de agentes públicos e de aumentar ilegalmente gastos com publicidade institucional.

O TSE ainda não tem data definida para julgamento dos três processos. Se Denarium for cassado, o estado terá novas eleições.

Leia a íntegra da nota conjunta do Governo de Roraima, Polícia Militar e Polícia Civil:

“O Governo de Roraima esclarece que é o principal interessado na elucidação do caso e reforça que espera que os culpados pelo crime sejam punidos com o rigor da lei.

Afirma que as informações apresentadas pelo investigado são caluniosas e têm o intuito de denegrir a imagem do chefe do Executivo, assim como das instituições de segurança pública do Estado e ressalta que a atual gestão foi a que mais investiu em segurança pública na história de Roraima.

O governador do Estado de Roraima, Antonio Denarium, não compactua com nenhum tipo de ilicitude e solicita rigor na apuração de qualquer crime, o que não seria diferente neste caso.

O comandante-geral da PMRR, coronel Miramilton Goiano de Souza informa que recebeu com surpresa o teor do suposto depoimento prestado e afirma, de forma categórica, que não recebeu nenhuma ligação telefônica, horas após o crime em que o capitão Helton Jhon é investigado.

Esclarece que recebeu uma ligação do capitão Helton dias após o crime ocorrido. No entanto, em nenhum momento da conversa o capitão lhe confessou qualquer cometimento de crime, até porque seria ilógico alguém confessar um crime por ligação telefônica.

O coronel afirma ainda que não houve nenhuma orientação para que Helton se desfizesse de telefone e que, assim que ocorreu a divulgação do áudio e a suspeição de envolvimento do capitão no crime, a orientação sempre foi para que o militar se apresentasse e expusesse sua versão às autoridades.

O capitão Helton Jhon foi apresentado à Polícia Militar e ficou à disposição das autoridades policiais e Judiciária. Ele não ficou foragido e encontrava-se em serviço administrativo na corporação.

Neste sentido, todas as ações tomadas pelo comandante-geral da PMRR em relação ao caso foram tratadas dentro dos canais institucionais apropriados, de forma a garantir que as investigações ocorressem de forma isenta e imparcial.

A delegada-geral da Polícia Civil de Roraima, Darlinda Moura Viana, reforça que não reconhece nenhuma das supostas afirmações alegadas pelo capitão investigado e lamenta este tipo de postura com fins políticos, frente a um crime que tem recebido toda a atenção das forças de segurança pública estaduais”.

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