O golpe da vacina
O relatório da Polícia Federal sobre a falsificação de dados vacinais mostra que Jair Bolsonaro, Mauro Cid e outros 15 envolvidos tinham certeza que sairiam impunes da fraude e conheciam pouco sobre informática. Não faltam mensagens enviadas via WhatsApp e registro de login de celulares e computadores, alguns até no Palácio da Alvorada, comprovando o esquema.
Os documentos da PF mostram que Gabriela Cid, esposa do ajudante de ordens de Bolsonaro, foi a cobaia do processo. No fim de outubro de 2021, Cid perguntou ao médico do então presidente, Ricardo Peixoto Camarinha, se sua esposa poderia ingressar nos EUA dentro das exceções médicas à vacinação contra a Covid-19. O militar alegou que Gabriela tem problemas cardíacos.
Com a negativa quanto às exceções de saúde permitida pelos EUA, o cartão de Gabriela foi emitido entre os dias 29 e 30 de novembro de 2021, num endereço na Pavuna, no Rio de Janeiro. Mas as investigações da PF mostram que a mulher de Cid não chegou nem perto dali: passou esses dois dias na Tijuca, 32 km distante do endereço vacinal.
O registro falso de vacina da mulher de Cid foi feito em Cabeceiras, Goiás. A escolha foi aleatória: foi lá que Cid encontrou pessoas dispostas a ajudá-lo. Ele começou pedindo ajuda a um colega, o sargento Luis Marcos dos Reis - que, por sua vez, se socorreu do sobrinho, Farley Vinicius Alcantara. Médico na cidade, Farley forneceu toda a documentação, além da sua assinatura da vacina falsa.

Em seguida, a turma de Cid tentou incluir o registro de vacinação no sistema ConnectSUS, do Ministério da Saúde, pelo Rio de Janeiro. Não deu certo, pois o cartão goiano teria de ser inserido via Goiás. Foram várias tentativas frustradas.
O sucesso do cadastro falso deve ser creditado a Ailton Barros, um dos bolsonaristas mais radicais. Foi o ex-militar e advogado quem fechou o circuito de pessoas necessárias para fazer funcionar o esquema fraudulento. Ele recorreu à família Reis, que tem vários registros com Bolsonaro. Seus principais atores políticos são Wilson Reis, atual prefeito de Duque de Caxias, e seu irmão, Washington, ex-prefeito.
Cientes da dificuldades, os fraudadores mudaram o procedimento e os cadastros seguintes foram feitos diretamente em Duque de Caxias. Foi graças ao esforço de Ailton Barros na intermediação entre os envolvidos que João Carlos de Sousa Brecha, ex-secretário municipal de Saúde de Duque de Caxias, incluiu os nomes de Jair e Laura Bolsonaro no cadastro nacional de vacinados contra a Covid-19.
Barros e Brecha negaram à PF terem qualquer tipo de relação, mas a PF encontro no celular do ex-militar registros de que conversas entre ambos foram apagadas. Veja abaixo:
As inserções dos registros das vacinas em nome de Jair e Laura Bolsonaro foram feitas em 21 de dezembro de 2022, entre 18h59 e 19h20, e apagados em 27 de dezembro. Os dados foram incluídos diretamente por Brecha, que não exercia a função de cadastrar pessoas por ser o secretário municipal de Saúde.
No caso de Laura, ele usou até o celular de seu pai, Afonso Brecha. À PF, o ex-secretário de Saúde disse que alguém poderia usado seu login e senha durante um dos mutirões de vacinação contra a Covid para fazer as inserções.
Mas a Polícia Federal encontrou no sistema da prefeitura registros de que os dados de Brecha foram usados para dar cartões de vacinação a pessoas próximas a ele e a Jair Bolsonaro. Também foram descobertas pelos agentes mensagens no celular de Brecha mostrando que ele pediu alterações de permissão no sistema de cadastro para apagar os cadastros que havia feito e desabafar sobre o temor de a investigação federal alcança-lo.
As investigações detalham que os dados dos cartões de Laura e Jair foram baixados de dentro do Palácio da Alvorada, em 22 de dezembro, com login de Mauro Cid - para serem entregues em mãos ao presidente, conforme delatou Cid à PF. Era o tenente-coronel quem administrativa o perfil de Bolsonaro no ConectSUS até o dia 22, quando repassou a tarefa a Marcelo Câmara, que seguiria trabalhando para o presidente após o fim do mandato.
Pega na mentira
Dentre todos os que mentiram sobre a vacinação, os casos de Jair e Laura Bolsonaro estão entre os mais explícitos. Em 13 de agosto de 2021, data da suposta vacinação, Bolsonaro estava no Rio, mas passou ficou na capital até voltar para Brasília à noite.
Em 14/10, Bolsonaro passou três horas em Duque de Caxias, mas não há, diz a PF, qualquer indício de que o ex-presidente tenha ido ao posto de saúde onde há o registro da aplicação da segunda dose de Pfizer. Laura não o acompanhou em nenhuma das duas viagens.
As tentativas e erros, assim como a troca de informações via WhatsApp, mostram que os participantes não acreditavam que poderiam ser pegos pela fraude.
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