Atos de ministro e briga do MP no TCU podem anular ação sobre Moro

Brenno Grillo
Publicada em 19/01/2022 às 06:00
Foto: Mathilde Missioneiro (F)/Folhapress

Num processo heterodoxo, Sergio Moro foi parar no TCU porque o ministro Bruno Dantas, crítico do ex-ministro, quer investigar a relação entre o ex-juiz, a Odebrecht e a Alvarez & Marsal. A medida causou celeuma na opinião pública. E acaba por expôr a barafunda política e processual que, poucos sabem, é comum no tribunal de contas.

Há, por exemplo, uma briga entre integrantes do Ministério Público de Contas pela responsabilidade sobre a apuração. De quebra, existe a discussão sobre a possibilidade ou não de a corte poder investigar a curta trajetória do ex-juiz no setor privado. 

O Ministério Público de Contas atua no TCU - corte administrativa criada para auxiliar o Legislativo a fiscalizar os gastos da União - apresentando representações e outros pedidos para verificar a lisura e a eficiência dos gastos públicos federais. Apesar de ser um órgão administrativo, assim como o tribunal, se submete às mesmas regras dos ministérios públicos estaduais e Federal.

E são essas regras que motivam a disputa entre o subprocurador-geral Lucas Furtado e o procurador Julio Oliveira. Furtado tem se oferecido para ajudar no processo por ter levado ao ministro Bruno Dantas o pedido para investigar se a Lava Jato prejudicou a arrecadação de impostos ao "quebrar" a Odebrecht e se Moro lucrou com isso ao ir trabalhar no setor privado.

Oliveira argumenta que foi sorteado para ser o responsável pelo processo, conforme prevê o regimento do TCU. O procurador chegou a acusar Furtado de "atravessar" a condução do processo para atuar "como verdadeiro procurador de exceção" motivado "por sentimento pessoal" e "uma particular visão de mundo".

A partir daí a discussão só esquentou, com Dantas classificando os atos de Oliveira como "obstrução dos trabalhos" do TCU e "tentativa de causar tumulto processual em processo que nem de longe justifica a atuação de dois membros do MPTCU [Ministério Público do Tribunal de Contas da União]". 

Próximo a Renan Calheiros, o ministro também sugeriu que o interesse do procurador pelo processo seria motivado por "simpatia pessoal ou convergência ideológica". Depois, em outro despacho, negou a participação de Oliveira na ação e definiu Furtado como responsável para avaliar quais documentos do processo não poderiam ser publicados por conterem informações sigilosas.

"Concedo, desde já, o acesso integral a todas as peças dos autos ao eminente subprocurador-geral, por entender que, na qualidade de autor da representação e membro do Ministério Público junto ao TCU, não há razões para impedir o amplo acesso ao acervo documental do processo", afirmou Dantas.

Ao tomar essas decisões, o ministro coloca em risco a lisura do processo. Dantas já é alvo de uma representação do senador Alessandro Vieira por suposto abuso de autoridade no caso.

A ação também pode ser questionada por falta de impessoalidade. Dantas não garantiu a regra do sorteio. Privilegiou Furtado, explicou um advogado ouvido pelo Bastidor sob condição de anonimato por atuar no TCU e temer represálias.

"O ministro praticamente ignora as manifestações que o procurador trouxe e dialoga diretamente com Lucas Furtado. Isso é grave porque Bruno Dantas é o relator do processo e não poderia adotar essa atitude", disse o advogado.

Outro ponto de possível nulidade é o fato de não haver discussão sobre gasto público no processo. O que há é uma suspeita de perda de arrecadação tributária com o plano de recuperação judicial da Odebrecht, que é administrado pela Alvarez & Marsal. 

Mas o TCU só pode atuar em casos que envolvam a União e o erário federal, explicou outro advogado ao Bastidor também sob condição de anonimato por atuar na corte e temer represálias. "Não sei de onde tiraram a competência do TCU nesse caso. É realmente insólito o TCU analisar ou fiscalizar essa relação que Sergio Moro mantinha com uma empresa privada", afirmou.

TCU barra concorrência de R$ 353 milhões no Banco do Nordeste por risco de favorecimento

Leia Mais

MPF entra ação civil pública contra projeto de extração de madeira viabilizado por Alcolumbre

Leia Mais
Exclusivo

Negócios suspeitos de família

13/06/2025 às 10:00

PF investiga contratos do marido de deputada Elcione Barbalho com governo de seu filho no Pará

Leia Mais

STJ dá isenção de custas judiciais a magistrado do TJDFT que ganha 50 mil reais mensais, em média

Leia Mais

Governo aciona STF para ressarcir fraudes no INSS fora do teto de gastos e sem aval do Congresso

Leia Mais

Com dificuldade de quórum, CPI termina sem aprovar relatório que indiciava apenas 16 pessoas

Leia Mais

Câmara examinará cassação da deputada foragida Carla Zambelli, determinada pelo Supremo

Leia Mais

Forçou o contato

11/06/2025 às 20:58

Atacante Bruno Henrique, do Flamengo, é denunciado por participar de esquema de fraude em apostas

Leia Mais

Ministro do STF anula condenação de ex-presidente da Petrobras por compra da refinaria de Pasadena

Leia Mais

Pela moderação

11/06/2025 às 19:50

Com Gilmar, STF tem maioria para ampliar a responsabilidade das big techs por conteúdo de usuários

Leia Mais

Alexandre de Moraes pede ao Ministério da Justiça a extradição de deputada foragida na Itália

Leia Mais

Busca lenta

11/06/2025 às 16:27

Conselheiro pede vista e Cade suspende análise de processo de entidades jornalísticas contra Google

Leia Mais

Oposição trava votação do novo Código Eleitoral na CCJ do Senado e adia discussão para julho

Leia Mais

Dino vota por responsabilização das plataformas sem ordem judicial em casos de conteúdo ilegal

Leia Mais

Aposentada de novo

11/06/2025 às 11:49

CNJ pune desembargadora Sandra Inês, do TJBA, pela 2ª vez - agora, por manter “gabinete paralelo”

Leia Mais