Google tem acesso irrestrito a backups do WhatsApp, revelam documentos inéditos da Alphabet
O Google tem acesso às informações trocadas via WhatsApp - diálogos de texto e arquivos de áudio, vídeo e imagem - que são salvas no Google Drive de 750 milhões de pessoas que usam celulares Android. Além disso, a empresa mentiu aos seus usuários sobre a privacidade dessas comunicações e dos dados derivados delas. Na teoria, as informações salvas - os chamados backups - do WhatsApp, um serviço do Facebook, em aparelhos Android seriam protegidas por criptografia na nuvem do Google. Na prática, graças a um acordo com o Facebook, o Google sempre teve a chave de acesso a esses dados.
Os detalhes da admissão, incluindo os tipos de arquivos potencialmente acessados pelo Google nos backups de WhatsApp (todos), são inéditos e constam em memorandos internos do Google. Eles foram apresentados por procuradores-gerais de diversos estados dos EUA em ação movida contra a empresa em Nova York. Os procuradores acusam o Google de ferir a lei ao manter práticas anticompetitivas no mercado de negociação de publicidade online - de promover, em síntese, um monopólio desse mercado. Trata-se de uma investigação ampla, com múltiplas ramificações. O Bastidor teve acesso à integra do processo.
Com autorização judicial, a coalizão de procuradores americanos teve acesso a documentos internos do Google e do Facebook. Hoje (sexta, 22 de outubro), atendendo ao interesse público, o juiz do processo principal - o leading case - permitiu às autoridades reapresentar à corte a peça inicial do caso sem omitir com tarjas os documentos internos do Google. A empresa lutou até o último momento para impedir a retirada das restrições - das tarjas - dos memorandos obtidos pelos procuradores. O Facebook teve êxito nesse sentido.
Sem as tarjas, a peça inicial dos procuradores é ainda mais devastadora. No documento, as autoridades norte-americanas afirmam que o Google não viu "problema em violar a privacidade de quase 1 bilhão de usuários desde que isso ajudasse a crescer seu negócio".
O total citado pelas autoridades refere-se aos mais de 750 milhões de donos de celulares com sistema Android que usam a ferramenta de backup do WhatsApp. O acordo entre Google e Facebook, para salvar as conversas feitas no aplicativo de mensagens, foi firmado em 2015.
À época, a informação oficial era de que a criptografia de ponta a ponta do WhatsApp assegurava que apenas os titulares das contas teriam acesso às conversas e a outros conteúdos enviados. Isso incluiria o backup no Google Drive. Mas, em 2016, um memorando do próprio Google expõe que essa privacidade nunca existiu - não quando os dados estavam na nuvem da empresa.
Diz um dos memorandos do Google: "Todas as informações de conversas de WhatsApp salvas no [Google] Drive estão atualmente encriptadas com o Google segurando as chaves... Isso significa que que o Google, como terceiro ator, pode, de fato, acessar fotos, vídeos e áudios que usuários compartilham privativamente no WhatsApp".
Segundo as autoridades dos EUA, o Google, mesmo sabendo dessa violação de privacidade, nada fez para informar as pessoas ou solucionar o problema. Ao contrário: lucrou com essa expectativa de privacidade, dizem os procuradores. Em outro memorando, a empresa disse que as afirmações de que as conversas no WhatsApp são criptografadas de ponta a ponta "não são totalmente precisas".
“Eles [WhatsApp] falharam ao elaborar que a informação compartilhada pelo WhatsApp com uma terceira parte na prestação do serviço não tem a mesma garantia. Isso inclui o backup no WhatsApp", complementa o Google, no documento citado pelos procuradores.
Dados apresentados no processo mostram que, em 2016, 434 milhões de pessoas salvavam no Google Drive suas conversas via WhatsApp e que a estrutura do Google armazenava 345 bilhões de arquivos arquivados a partir desses trocas de mensagens. Em maio de 2017, 750 milhões de novos backups do WhatsApp foram criados no Google Drive em dispositivos Android.
Os procuradores acusam o Google de manipular deliberadamente o público sobre a privacidade dos dados de WhatsApp armazenados no Drive. Citam um post de 2015 no blog do Google em que a empresa frisava a criptografia do serviço do Facebook e a privacidade oferecida por ela. Segundo os procuradores, o Google omitiu a capacidade de acessar o backup de dados de WhatsApp de todas as maneiras: nos termos de uso, na política de privacidade e em seus sites. As autoridades afirmam que o Google tinha condições de acessar as comunicações de WhatsApp de seus usuários para vender anúncios.
Em nota ao Bastidor, o WhatsApp diz que explica "claramente no aplicativo que esses backups não estão protegidos por criptografia de ponta a ponta". Afirma ainda que "outras mensagens claras são fornecidas no aplicativo que informam os usuários disso antes que eles criem um backup".
Atualização às 21h24 de 23 de outubro: a assessoria do Google enviou uma nota ao Bastidor acerca das acusações. Segue o texto: “O fato de o procurador-geral do Texas dizer uma coisa não torna esta alegação necessariamente verdadeira. Entendemos que o processo está repleto de imprecisões. Na verdade, nossas ferramentas de publicidade ajudam sites e aplicativos a financiar seus conteúdos e permite que pequenos negócios alcancem seus clientes ao redor do mundo. Há uma forte competição no mercado de publicidade online, que tem reduzido as taxas de serviço das ad techs, e aumentado as opções para os anunciantes e publishers. Nós vamos continuar nos defendendo das alegações infundadas da Procuradoria na Justiça. Também temos sido claros sobre nosso apoio a regras de privacidade de forma consistente, em todo o mundo. Há anos, por exemplo, pedimos ao Congresso dos Estados Unidos que aprove uma legislação federal de privacidade de dados".
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