O zap do Capelli

Samuel Nunes
Publicada em 21/08/2024 às 19:33
Ricardo Capelli mandou que a ABDI inicie estudos para contratar aplicativo que substitua o WhatsApp na comunicação da agência Foto: Gabriela Biló/Folhapress

A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) diz ter começado estudos para contratar um serviço de mensagens que possa substituir o WhatsApp, usado para a comunicação entre o alto escalão da entidade. O problema é que esse esse possível fornecedor não existe.

O programa da Meta, de Mark Zuckerberg, possui criptografia de ponta a ponta - o que dificulta imensamente a interceptação das mensagens entre usuários, ao menos em trânsito. Com exceção de programas usados por agências de inteligência, maliciosamente ou não, os casos conhecidos de violação indevida do teor das mensagens ocorreram em razão do acesso físico a um aparelho do usuário. Ou, ainda, por engenharia social, quando o hacker consegue enganar a vítima a ceder suas credenciais.

Mesmo assim, o presidente do órgão, Ricardo Capelli, acredita que o WhatsApp não é suficientemente seguro.

O processo de escolha do novo aplicativo chamou a atenção nos últimos dias. Veículos publicaram que Capelli teria a intenção de expandir a contratação do substituto do WhatsApp a todo o governo federal. O presidente da ABDI foi secretário-executivo do Ministério da Justiça, durante a gestão de Flávio Dino, e, embora hoje ocupe uma função de menor destaque no governo, chegou a ser nomeado interventor na segurança pública do Distrito Federal, depois do 8 de janeiro.

Nas últimas semanas, o vazamento de mensagens entre o ministro Alexandre de Moraes e assessores dele na Suprema Corte e no Tribunal Superior Eleitoral colocou um alerta contra o WhatsApp. A notícia também movimentou perfis de notícias falsas, afirmando que o governo teria a intenção de bloquear o aplicativo da Meta no Brasil.

Questionada, a ABDI afirmou que o processo de escolha do aplicativo ainda é muito incipiente e não há nada definido. A preferência é para que seja escolhida uma empresa nacional para prestar esse serviço, mas ninguém sabe quem poderia disponibilizar o programa à agência.

Na verdade, não há fornecedor para esse tipo de serviço. Construir uma opção "soberana" custaria uma fortuna - e provavelmente o próprio governo teria acesso aos metadados que, no caso do WhatsApp, são conhecidos pela Meta.

Uma opção segura seria o aplicativo Signal, cujo protocolo de segurança foi adotado pelo WhatsApp. O código dele é aberto. Não custaria nada. Mas pouca gente o usa no Brasil, um país viciado em WhatsApp.

A ABDI também afirmou que, em caso de aprovação, o aplicativo deve ser usado apenas pela agência, pois ela não tem competência para interferir em outros órgãos da administração federal. Mesmo assim, com o precedente aberto, ficaria mais fácil para outros órgãos seguirem o mesmo caminho, diz a agência.

A entidade disse que não há um orçamento previsto de gastos, nem mesmo quais configurações técnicas o aplicativo precisará ter para ser aprovado, em caso de licitação. Pelas redes sociais, Capelli, reafirmou que não há intenção de banir o WhatsApp, apenas evitar a comunicação pelo aplicativo.

"Alguém acha que o governo alemão ou francês se comunica pelo whatsapp? Não queremos banir ninguém, apenas proteger a nossa soberania", disse no X.

Apesar do tom apaziguador, a desconfiança com Capelli e as redes sociais tem sido alimentada por ele mesmo e por outros membros do governo. Desde que o X, de Elon Musk, decidiu deixar o Brasil, o presidente da ABDI tem feito postagens questionando a atitude do bilionário e exaltando a movimentação da União Europeia para restringir o aplicativo. Além dele, outros membros do governo seguiram a mesma linha.

Como em outros momentos, tudo indica que o Zap imaginário seja apenas um factoide.

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