O muro que encolhe
Brasil, México e Colômbia estão em uma posição inusitada na política internacional nos últimos dias. Não reconheceram o resultado da eleição na Venezuela, portanto não felicitaram Nicolás Maduro pela suposta vitória, nem endossaram as reclamações de fraude da oposição.
Na América, os três países estão isolados dos vizinhos, que se posicionaram em um dos lados. Brasil e Colômbia (que fazem fronteira com a Venezuela) e México querem que Maduro apresente publicamente as atas eleitorais, que comprovariam ou não sua vitória. Com isso, as três nações permanecem em cima de um muro que fica cada vez menor.
Na noite de terça-feira (30), o Centro Carter, uma das poucas entidades internacionais a acompanhar as eleições venezuelanas como observadora, divulgou nota em que afirma que o pleito não atendeu aos padrões democráticos internacionais. Segundo a entidade, Maduro dificultou tanto a participação dos opositores, quanto a presença dos eleitores nos locais de votação, o que reduziu drasticamente a participação popular.
O Centro Carter também apontou o uso da máquina estatal para promover a candidatura de Maduro, em detrimento dos demais oponentes e disse que o processo violou inclusive leis venezuelanas para que o ditador fosse mantido no cargo. Apesar dos inúmeros problemas, o instituto afirmou que a votação ocorreu de forma pacífica.
A Organização dos Estados Americanos (OEA) também publicou nota em que não reconhece o resultado divulgado pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE) e fez duras críticas a Maduro e às autoridades responsáveis pela eleição venezuelana.
"Ao longo de todo este processo eleitoral, assistiu-se à aplicação pelo regime venezuelano do seu esquema repressivo, complementado por ações destinadas a distorcer completamente o resultado eleitoral, colocando esse resultado à disposição das mais aberrantes manipulações. A mesma continua até hoje", afirmou a entidade.
O presidente do México, López Obrador, de esquerda como Maduro, criticou o posicionamento da OEA. Para ele, ainda não é possível desqualificar o resultado das eleições venezuelanas, apesar de o ditador não ter apresentado as atas que comprovariam a vitória dele no pleito. Em uma entrevista, afirmou que a OEA só serve para atrapalhar a estabilidade na região.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva evitou falar abertamente sobre o reconhecimento da reeleição de Maduro. Disse que caberia à oposição buscar o Judiciário local, caso tenham provas de que houve fraude. Ele ainda classificou a situação venezuelana como algo normal.
Desde o fim das eleições, o Itamaraty só divulgou duas notas relacionadas à Venezuela. A primeira pede que Maduro apresente as atas. A segunda pede aos brasileiros no país vizinho que fiquem atentos à situação de violência e que peçam ajuda à embaixada ou aos consulados, caso necessitem.
A oposição venezuelana chegou a divulgar milhares de atas eleitorais que apontariam a vitória do candidato Edmundo González. Entretanto, elas não representam a totalidade dos documentos, nem está clara a autenticidade dos materiais, que estão disponíveis na internet para a consulta.
Do outro lado, Maduro segue criando teorias de conspiração para validar o resultado. Na mais recente bravata, acusou o bilionário Elon Musk de comandar uma suposta invasão dos sistemas do CNE, o que teria impedido a divulgação dos documentos solicitados pela comunidade internacional.
Desde o fim das eleições, Musk decidiu encampar pelo X (antigo Twitter) uma série de acusações contra Maduro. A tática é semelhante à que o bilionário realizou em abril deste ano, quando atacou o Judiciário brasileiro e acabou se tornando alvo de dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal.
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