O centrão de Lula
Está montado e prontinho para 2023 o novo centrão. Cada presidente tem um para chamar de seu, e com Lula não seria diferente. Uma coisa é palanque, outra é governar. Sem base no Congresso, não se governa. E não se tem base firme sem um centrão. Quando alguém sobe o Planalto, centrão vira centro democrático ou base de apoio. Fisiologismo quem faz são os outros.
O centrão inicial de Lula tem três pilares: MDB, PSD e União Brasil. Como se faz política com gente, e não com siglas, Lula lidará com Renan Calheiros, Gilberto Kassab e Davi Alcolumbre. Arthur Lira é o sujeito oculto, por ora. Está no PP, mas entrega mais votos do União Brasil do que o companheiro Bivar, como Lula chamou Luciano Bivar, presidente da legenda, ao anunciar o último bloco de ministros.
O MDB que sobe a rampa com Lula é o mesmo grupo político que o apoiou nos dois primeiros mandatos. Trata-se do MDB do Senado. Como Lula, o MDB do Senado estava enterrado pela Lava Jato - até a Lava Jato ser enterrada por ambos e pelo Supremo.
A principal figura do MDB do Senado é Renan Calheiros. Permaneceu fiel a Lula mesmo nos piores momentos do petista. Forjou uma relação de confiança que dificilmente será quebrada nos próximos anos. Renan Filho, sucessor do pai em Alagoas, será ministro dos Transportes. Outro herdeiro de um chefe desse grupo será ministro: Jader Filho comandará a pasta das Cidades. Jader Barbalho, o pai, também sempre foi leal a Lula. Há mais uma sucessora à espera de um cargo, que não deve tardar: Roseana Sarney. A família Lobão também aguarda posições em estatais.
Lula se sente à vontade com esse MDB. O MDB da Câmara, que era de Michel Temer e Eduardo Cunha, perdeu força, por óbvio. É uma relação que tende a ser reconstruída aos poucos. Simone Tebet acabou compondo o ministério numa posição secundária. Será ministra do Planejamento na "cota pessoal do presidente", expressão que designa um político sem força partidária. Tebet penará no governo Lula. A transição foi apenas uma amostra suave do que deve vir em sua direção.
Com Gilberto Kassab, Lula pode ficar tranquilo. Ele entrega o que promete. E quem está com ele, como Rodrigo Pacheco, está aprendendo a fazer política no mesmo estilo. O valor inicial do PSD, que incluiu as pastas de Minas e Energia e da Agricultura, demonstra a confiança de Lula em Kassab. O preço parece alto. Mas está em linha com o que o mercado paga.
A energia que Lula economizará com o MDB e o PSD servirá para gastar com o União Brasil, partido ainda em formação política. No Senado, Davi Alcolumbre promete ser essencial. Na Câmara, porém, a enorme bancada do partido está uma zona. O deputado Elmar Nascimento era bolsonarista, virou a casaca e atritou com Lula. Seu modo de fazer política incomoda o presidente.
Não será o companheiro Bivar que resolverá o problema do governo na Câmara. A solução do União Brasil, ao menos no curto prazo, passa por Arthur Lira, que detém enorme influência nos deputados da legenda. Ninguém mais parece capaz de botar ordem ali.
E não por acaso: por obra de Lira, que não é bobo e trabalha para dividir a bancada até que ele consiga acasalar o PP com o União Brasil - um objetivo estratégico que talvez tome tempo. Lira precisa do União Brasil para ser reeleito à Presidência da Câmara. E opera para que ele, Lira, seja o facilitador de Lula no partido. Para que ele, Lira, seja o candidato inevitável do governo, ainda que silenciosamente, à Presidência da Câmara.
Para Lula, Arthur Lira é a peça mais difícil na composição do novo centrão. O petista não quer mais um mandato de Lira como presidente da Câmara em moldes imperiais. Como o Supremo extinguiu o orçamento secreto, Lira ficou manco, comparado ao que era e ao que poderia se tornar num segundo mandato. Um Lira operoso, mas sem poderes extraordinários, na Presidência da Câmara pode ser útil a Lula. Um Lira desprestigiado, contudo, liderando uma rebelião de descontentes e bolsonaristas, é um risco que o presidente deveria evitar.
A tensão entre o que Lira quer e acha que Lula pode com o que Lula quer e acha que Lira pode definirá as primeiras semanas de governo. Se os dois firmarem um compromisso mutuamente vantajoso, a transição do velho para o novo centrão será pacífica. Caso contrário, a verdadeira transição de poder em Brasília será tumultuada e o novo governo, instável. Os dois conhecem bem o valor de um centrão novo.
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